SE PELO MENOS ENSINASSEM PORTUGUÊS – 2

–Repostas dos leitores, respostas aos leitores–

A coluna da semana passada, com esse título, gerou uma enorme quantidade de emails. Li todos, agradeço a atenção dos leitores e peço desculpas por não ter conseguido responder via email. E por isso, deixo aqui algumas observações, algo como uma resposta geral.

Na ampla maioria, os leitores, incluindo muitos escritores, professores e lingüistas, apoiaram a coluna e acrescentaram argumentos. Voltarei ao assunto em outros artigos.

As críticas, como era de se esperar, partiram de professores e linguistas alinhados na tese de que não há o certo e o errado no uso da língua. Haveria apenas o adequado e o inadequado. Assim, ?nós pega o peixe? não está errado. E se alguém disser que é, sim, errado, ou ensinar que isso está errado, estará cometendo ?preconceito lingüístico?. É o ponto de vista que se encontra no livro Por Uma Vida melhor, da Coleção Viver, Aprender (Editora Global), que foi adotado, comprado e distribuído pelo Ministério da Educação a milhares de alunos ? a origem de toda polêmica.

Nossa crítica a essa tese, no essencial, está na coluna da semana passada. Mas o que chamou a atenção, em muitos emails, foi a exposição de uma versão mais radical dessa tese. Na verdade, uma versão claramente política e ideológica.

Por esse ponto de vista, o Português oficial (a norma culta, a língua normatizada) é apenas mais um modo de falar, entre vários outros, todos igualmente válidos. Mais que isso: a língua, digamos, oficial aparece como o modo de falar da classe dominante. E que ?impor a norma culta para todos?, como escreveu um lingüista, é mais uma forma de dominação social. A gramática seria a polícia.

Ou seja, há a língua das elites e as línguas do povão. A diferença vai pela classe social ou pela posição política. Ora, está errado: os ricos falam mais a língua normatizada não porque sejam ricos, mas porque puderam estudar em boas escolas. E falam exatamente a mesma língua que um aluno pobre que tenha tido a sorte de cair numa escola pública de boa qualidade.

Nem é preciso procurar muito para encontrar ricos ignorantes que passaram não por escolas, mas por fábricas de diplomas. Falam tão mal como os pobres que não puderam ir às boas escolas. E acham que, por serem ricos, não precisam estudar.

Na verdade, o estudo e a busca da qualidade profissional é mais um valor das classes médias, que precisam ganhar a vida pelo esforço próprio.

De todo modo, essa ?lingüística ideológica? é uma das causas do péssimo ensino de língua especialmente nas escolas públicas. Em muitas faculdades de letras e de educação, professores, alunos e lingüistas se concentram muito mais nessas teorias da língua do que nos métodos de ensinar Português (e matemática e ciências) para crianças e jovens.

Assim como muitas escolas de jornalismo se concentram em estranhas teorias da notícia e se esquecem de ensinar como apurar e publicar notícias.

Nada de mais

Também na coluna da semana passada, com o sub-título acima, criticamos o prefeito Gilberto Kassab por ter nomeado O ex-vice-presidente da República e ex-senador Marco Maciel para cargos de conselheiro da São Paulo Turismo e da Companhia de Engenharia de Tráfego. Dizíamos que, com atos assim, a nomeação de amigos e correligionários políticos para funções técnicas, o prefeito mostrava pouco caso pelos maiores problemas da cidade, trânsito e falta de estrutura de turismo.

A assessoria de imprensa de Kassab mandou email dizendo que Kassab cuida do trânsito com investimentos no metrô, no Fura-Fila (agora Expresso Tiradentes) e na renovação da frota de ônibus.

Mas essas são políticas regulares, coisa de dar andamento ao serviço. Ocorre que o trânsito em São Paulo piora todos os dias e chegou a um ponto que exige uma política de ampla mudança, atacando todas as questões. E não se observa resposta à altura da prefeitura.

E quanto à falta de planos para o turismo, o prefeito descreveu Pirituba: um Centro de Convenções com quatro pavilhões de exposições, 22 mil vagas de estacionamento, centro de convenções de 60 mil m² com capacidade de 6.500 lugares, um shopping center com 42 mil m², um centro de logística de 22.900 m², três hotéis com mais de mil quartos e mais cinco edifícios comerciais, além de uma arena multiuso com capacidade para 20 mil pessoas.

Sensacional! – não é mesmo!

E o que tem por lá? Estufando o peito, o prefeito informa que já declarou o terreno de utilidade pública. Alardeia: Cinco milhões de m2 declarado0s!

Ou seja: não tem nada lá. Um terrenão baldio, para futuras desapropriações, que criarão as condições para futuros projetos de futuras obras. Impressionante eficiência.

Publicado em O Estado de S. Paulo, 23 de maio de 2011

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