A ARGENTINA E A MORATÓRIA

. Artigos O ITAMAR DELES   Atende pelo nome de Raul Alfonsin, já foi presidente da República – que teve de antecipar o final de seu mandato porque sua administração jogara o país na mais terrível hiperinflação – e é presidente da União Cívica Radical, partido do presidente da Argentina, Fernando De La Rúa. A última de Alfonsin é uma proposta de moratória da dívida externa argentina, especialmente a suspensão dos pagamentos previstos para o ano que vem, em torno de US$ 21 bilhões. A idéia de Alfonsin é que, em vez de pagar aos banqueiros, o governo argentino utilize esse dinheiro em investimentos internos, de modo a estimular o crescimento. Assim, segue o raciocínio, mais à frente, com os lucros desse crescimento, a dívida voltaria a ser paga. Legal, não? Exceto por um pequeno detalhe. O governo argentino não tem esses US$ 21 bilhões. Ele tem de pagar isso e pretende levantar empréstimos novos para pagar os 21 bilhões. Ou seja, não vai propriamente pagar, mas rolar os compromissos que vencem em 2001. Logo, se não pagar, não sobram 21 bilhões para investimentos internos. Simplesmente, sobra um monumental cano nos credores externos. Ora, a taxa de juros paga pelo governo e por empresas argentinas, dentro e fora do país, está em alta justamente porque os credores desconfiam que a Argentina talvez não consiga levantar todos os US$ 21 bilhões necessários para a rolagem dos compromissos do próximo ano. Os credores, locais e internacionais, desconfiam ainda da unidade e da coesão política do governo de Fernando De La Rúa, ou seja, de sua capacidade de implementar uma política econômica consistente. E aí vem um Alfonsín e diz que talvez fosse melhor não pagar a dívida. Qual o leitor acha que será a reação dos credores? Não faz nem quatro semanas que Alfonsín disse que talvez fosse melhor abandonar a paridade 1 peso/ 1 dólar e desvalorizar a moeda argentina. E todo o esforço do governo de De La Rúa, filiado ao partido de Alfonsin, é justamente combater a ameaça de desvalorização. Com um aliado assim . . .

Deixe um comentário