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Tanto pró e tanto contra

Foram ruins os principais indicadores da economia real em agosto. A produção industrial caiu, o comércio vendeu menos e os serviços prestados às famílias e aos negócios perderam volume.
Para fechar a sequencia negativa, ontem o Banco Central divulgou seu Índice de Atividade Econômica: queda de 0,38% no mesmo período, pior que o esperado.
          Como explicar então a melhora nos índices de confiança e nas expectativas de crescimento para este ano e o próximo?
          Não se trata de patriotada do governo. Aqui no Brasil, consultorias, departamentos econômicos de bancos e associações, todos se declaram mais animados em relação aos próximos meses. Mesma posição tomada por instituições internacionais, como o FMI e Banco Mundial, e companhias multinacionais.
          Há bases para esse moderado otimismo. Aqui: além da clara mudança de política econômica, para melhor, registra-se a inflação muito baixa e a consequente queda da taxa real de juros. Dá-se como certo um período longo de juros baixos – até 2019, pelo menos  – uma mudança e tanto na economia brasileira tão acostumada, e viciada, com juros na lua. Isso terá impacto positivo no consumo e no investimento.
         Lá fora, é muito bom o desempenho dos principais países e, especialmente, do comércio global, que apresenta um ritmo de crescimento  como há tempos não se via.
         As altas frequentes das bolsas americanas, com sucessivas quebras de recorde, exprimem esse bom humor global.
         Mas por que mesmo o mercado americano vai tão bem? Se você não sabe, não se preocupe. O prêmio Nobel de economia, Richard Thaler, também não sabe.
         Disse ele (tradução livre): quem poderia imaginar que o mercado continuaria em alta durante este que é o tempo de maior incerteza de minha vida? Não pode ser a certeza de que haverá um maciço corte de impostos (nos EUA), dada a inabilidade do Congresso republicano em agir de modo coordenado. De modo que não sei de onde vem isso.”
        Thaler ganhou o Nobel com a tese de que as pessoas (e, pois, as empresas, o governo, as instituições) tomam frequentemente decisões irracionais. Logo, para ele, não é surpreendente que o mercado possa estar equivocado nessa já longa alta nas bolsas americanas (oito anos!).
        Por outro lado, há analistas e operadores para os quais a economia mundial pode estar mais aquecida do que pensa o FMI – instituição que recentemente reviu para cima suas projeções de expansão para quase todos os países.
        Argumentos: juros baixos ainda por algum tempo; inflação no chão; empregos e, pois, renda total em alta; famílias, empresas e governos com dívidas reduzidas e controladas; investimentos em novas tecnologias (carros elétricos e autônomos, internet das coisas); EUA, China, Europa e Japão entregando crescimento e, pois, demanda global.
        O que queriam mais?
        Pode-se devolver a questão com outras perguntas: e se Trump fizer alguma besteira das grandes? Ele tanto pode provocar um conflito com a Coréia do Norte quanto explodir o déficit público americano, gerando inflação e juros, problema que se espalharia mundo afora. Há pressões nacionalistas e/ou protecionistas por toda parte (Brexit, Catalunha, por exemplo)  que podem colocar areia na máquina da economia global. O próprio Trump pode derrubar acordos regionais e internacionais, reduzindo o comércio global.
        Também há incertezas por aqui, todas no campo da política. A sequência do ajuste da economia brasileira – que está atrasada em relação às demais – depende de um amplo conjunto de leis, ou seja, de entendimento entre o governo e o Congresso, de modo a se formar uma maioria pró-reformas.
        Quem pode garantir que isso vai acontecer? Dizem alguns analistas: a necessidade da reforma da previdência é tão óbvia que certamente acabará sendo feita. Um dia as pessoas hão de entender essa necessidade, agora, nesse resto de governo Temer, ou no próximo.
        Aliás, já se ouve por aqui que não será problema se a reforma ficar para o próximo presidente. Mas vai daí que o tema deverá constar da próxima campanha presidencial – e o que temos visto para 2018? O eleitor brasileiro está mais para escolher um Macron ou um tipo Trump do sul?
        Em resumo, há boas razões para a expansão da economia global e a recuperação da brasileira. As expectativas dominantes hoje estão nesse lado, o lado pró-racionalidade, tipo “no fim vai dar certo”.
        Mas as incertezas também estão aí e Thaler pode ter razão ao desconfiar que as pessoas podem estar fazendo a coisa errada.

        Vai depender do que? Do que as pessoas fizerem, aqui e lá fora. Isso te anima?

Carlos Alberto Sardenberg é jornalista

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