. Artigos AS NOVIDADES NO MUNDO DAS NEGOCIAÇÕES SALARIAIS A semana começa trabalhista. A importante categoria dos metalúrgicos do Estado de S.Paulo, que concentra o pessoal da indústria automobilística, está em processo de negociação salarial, com pelo menos duas novidades de peso. Primeira: as duas principais centrais sindicais estão juntas na empreitada, pela primeira vez. Trata-se da Força Sindical, que representa metalúrgicos da cidade de São Paulo e do interior do Estado, e da CUT, com o pessoal do ABC, onde está a maior parte das montadoras. Há divergências entre as entidades, aparentemente com a Força Sindical acreditando mais em um acerto negociado, enquanto a CUT colocaria mais fichas numa greve que pudesse incluir outras categorias (bancários, petroleiros e químicos, por exemplo) colocando de volta nas ruas as grandes manifestações. Mas ambas estão negociando suas divergências ao mesmo tempo em que negociam e/ou pressionam as empresas. A segunda novidade é que, depois de três anos ruins, a situação econômica é positiva no momento da renegociação. As montadoras, por exemplo, voltam a quebrar recordes de produção e vendas, sobretudo de exportações. Nessa circunstância, aumenta a probabilidade de maiores reajustes salariais e especialmente de ganhos para os trabalhadores na forma de abonos e participação nos lucros. Na verdade, esta última forma de remuneração – variável, vinculada ao desempenho das empresas – tem crescido de forma notável em todos os setores. Há companhias em que os trabalhadores podem ganhar até 17 salários em um ano, se a companhia for bem. Caindo para 13, menores, quando a coisa piora. Para as empresas, há uma enorme vantagem. Um reajuste elevado no salário fixo, num momento de vacas gordas, pode se transformar em um peso em momentos de retração. Dá em demissão, que tem custos altos e desorganiza a mão-de-obra. Para os trabalhadores, a escolha é a seguinte: salário fixo dá mais segurança, mas tende a ser menor do que a remuneração variável. Sabendo que não poderá cortar na folha a não ser com demissões, a empresa tenderá a ser mais contida na fixação do salário, mesmo em momento positivo. Ao contrário, quando há boa parte de remuneração variável, o trabalhador pode ganhar mais no momento de mercado em alta, mas também perderá mais ao surgimento de dificuldades, embora com risco menor de desemprego. Outro dado importante no momento trabalhista é a negociação por setor e por empresa. Acordos gerais beneficiam os trabalhadores de setores e empresas mais atrasadas – que levam mais do que conseguiriam individualmente – mas prejudicam o pessoal das empresas maiores e mais avançadas – que poderia levar mais. A movimentação conjunta dos metalúrgicos, neste momento, vai contra essa tendência apenas em parte. O objetivo das centrais sindicais, parece, é conseguir um piso maior, tendo em vista a melhora da situação econômica, e, a partir daí, cada setor, cada empresa teria seu próprio acerto. De todo modo, é claramente dominante a tendência de negociações por setores e por empresas, por ser melhor para todas as partes. Um último comentário, político, sobre a consolidação da democracia. A ameaça de greve não parece a ninguém como um risco político ou como subversão da ordem. É um momento de um processo de negociação e nada mais – como ocorre em qualquer país democrático que respeita o direito de greve. INFLAÇÃO EM BAIXA; OLHA A GASOLINA Conhecida na manhã de segunda-feira a inflação ao consumidor em São Paulo, medida pela Fipe, referente a outubro: zero. É menor do que o esperado pelas analistas e forte recuo em relação aos resultados imediatamente anteriores. Saem outros índices nesta semana, inclusive o IPCA do IBGE, que é a referência para a política oficial de metas de inflação. Pelos antecedentes, devem também embicar para baixo. O que a gasolina tem a ver com isso? Simples: com os últimos dados mostrando que a inflação deste ano vai atingir a meta até com uma alguma folga, por que não usar essa folga para dar mais um aumento da gasolina, já que o preço do petróleo permanece elevado e deve continuar assim até abril de 2001? Um reajuste agora em novembro teria impacto na inflação deste mês e do próximo, livrando disso a inflação de 2001, cuja meta é menor (4%, contra os 6% deste ano).
SALÁRIOS, GREVES, INFLAÇÃO E GASOLINA
- Post published:9 de abril de 2007
- Post category:Coluna publicada em O Globo
- Post comments:0 Comentários