Obstáculos ao crescimento

. Pequenos (?) obstáculos ao desenvolvimento Há uma pesquisa em andamento na Embrapa que pode revolucionar o modo de tratar o problema central do Nordeste, a falta de água. Até aqui se cuidou de levar água para a região – o que é sempre caro, qualquer que seja o projeto escolhido. E o mais caro de todos é a transposição das águas do rio São Francisco. Ora, que tal desenvolver plantas resistentes à seca? Pois é justamente isso que estão fazendo os técnicos da Embrapa. Com a simplicidade de cientistas de ponta, que falam de coisas inéditas para o comum dos mortais como se fossem simplíssimas, os técnicos explicam: você tira um gene da soja, dá uma turbinada nele e coloca no feijão, feijão de corda, cana de açúcar e na própria soja. Resultado: as variedades resistem a semanas sem uma gota de água. Se isso der certo, é ou não a verdadeira revolução para o Nordeste? Reparem que essas pesquisas envolvem produtos essenciais para a região e, em especial, para a agricultura familiar. A Embrapa pode, portanto, inventar transgênicos que se destinam a melhorar a vida dos mais pobres – e só essa tecnologia consegue isso. Pois essa pesquisa, como tantas outras da Embrapa, está praticamente paralisada pela confusão em que o país se meteu em torno desse assunto. Na teoria, é possível que os técnicos da Embrapa obtenham permissão para pesquisas de laboratório e de campo. Na prática, precisam de pelo menos quatro autorizações de quatro órgãos diferentes. Em certos casos, contam cientistas da Embrapa, compara-se a pesquisa com transgênicos, num quadrado de terra de 10 metros por 10, como se fosse a construção de usina nuclear ou algo extremamente tóxico. São pedidos relatório sócio-econômico, entrevistas com moradores, treinamentos – como se em dado instante pudesse ser necessário retirar todo mundo às pressas. Como diz o economista José Roberto Mendonça de Barros: trata-se do paradoxo da Embrapa, quanto mais ela é bem sucedida nas suas pesquisas, mais seu orçamento encolhe e mais suas atividades são dificultadas. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva sabe dessa pesquisa de plantas resistentes à seca. Recebeu um manifesto sobre o assunto assinado por 300 cientistas, sendo 200 Phds. Insegurança jurídica Estava em Belo Horizonte, debatendo perspectivas de crescimento da economia brasileira, quando um empresário de médio porte mostrou um obstáculo no micro. Empreiteiro, ele constrói e vende apartamentos para classe média B. No seu último prédio, os contratos de compra e venda tiveram índice de correção modificados três vezes em pouco mais de um ano. Foi assim: estipulou-se um índice de preços, que, de repente, passou a superar os outros; os compradores pediram e a empresa concordou em mudar para outro índice, que logo também disparou; trocou-se de novo, na base da conversa; no terceiro pedido do comprador, a empreiteira não topou; o caso foi para a Justiça, na primeira audiência o juiz a aconselhou a topar. Não teve jeito. Juízes brasileiros entendem que não precisam fazer cumprir os contratos, mas que devem decidir se o contrato é ou não justo com uma da partes. Se é assim, de que adiantam os contratos? E se os contratos podem ser tão variáveis, qual a segurança dos negócios de maturação mais longa? Governos Estava em Ponta Grossa, Paraná, para o encontro da Associação Brasileira da Batata, e uma das discussões era como financiar a batata transgênica, resistente a vírus, outro estudo da Embrapa. Problema: a falta de verbas públicas da estatal. Ainda lá, outro assunto era o bloqueio imposto pelo governador Roberto Requião aos caminhões de soja. Sobravam relatos de caminhoneiros e de empresas de comércio exterior que contabilizavam prejuízos com a parada dos negócios. Problema: se houvesse uma ampla estrutura no país, pública ou privada, capaz de classificar, separar e rotular a soja, o governador teria razão em exigir a certificação. Mas não há essa estrutura: o produtor do Mato Grosso ou do Rio Grande do Sul, que exporta por Paranaguá, no Paraná, não tem como fazer isso. Assim, ou segue em frente sem a rotulagem ou não faz negócio. Nesse momento, o governo barrar os caminhões é, obviamente, uma atitude apenas destrutiva. Dizem lá no Paraná que o governador não está mais preocupado com a situação do seu estado. Quer apenas produzir atos de impacto nacional. Mas atrapalha um monte de gente de bem. Publicado em O Estado de S.Paulo, 27/10/2003

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