Instabilidade nos EUA – o estrago Brasil

. Até março último a economia brasileira estava no melhor dos mundos: recuperação da produção interna, com inflação baixa e contas públicas sob controle, isso em ambiente externo de tranquilidade e crescimento nas principais regiões do mundo, a começar pelos Estados Unidos e Europa.
De março em diante, a recuperação local continuou. Mas os indicadores financeiros pioraram todos aqui dentro, por causa unicamente da instabilidade externa vinda dos Estados Unidos (veja a causa disso na matéria "EUA desaceleram", seção Em Cima dos Fatos, 02/06).
O estrago foi grande por aqui, conforme se vê na tabela abaixo.
Finanças no Brasil – 2000
  Real/dólar Juros ao ano % –
Aplicação em reais Juros futuros ? um ano Juros da aplicação externa (em dólar) Título brasileiro no exterior
C-Bond Juros pagos pelo
C-Bond           Preço –
Centavos de dólar Spread – Juros acima dos títulos americanos Jan 1,78 20,5   9,3 69,8 7,0 Fev 1,77 19,3 19,2 9,2 73,8 6,6 Mar 1,74 18,0 17,5 8,6 75,0 6,8 Abr 1,80 20,2 19,4 9,6 71,8 7,4 Mai 1,82 21,4 20,7 10,3 71,4 7,6 Jun 02 1,80   19,45 10.0 73,4 7,2 Jun 03 (manhã) 1,79       73,3   Verifica-se que tudo piorou depois de março. E começou a melhorar no final de maio, início de junho.
Por partes:
Dólar ? a cotação chegou a bater R$ 1,85 em maio. A lógica: com instabilidade externa, diminui a oferta de dólares para países emergentes em geral. Com menos dólares por aqui, e ainda mais caros (pois os juros subiram lá fora), a cotação sobe. Começa a cair quando melhora a perspectiva de entrada de dólares
Juros em reais ? basicamente, quanto o investidor recebe em aplicações financeiras feitas aqui mesmo, com dinheiro local. A taxa subiu mais de três pontos percentuais, o que é muito. E vai bater lá no consumidor, pois se os bancos estão pagando mais aos seus aplicadores, precisam cobrar mais dos tomadores de empréstimos. Eis porque, por exemplo, subiu a taxa de financiamento de carros, em maio. Isso vai cair tudo agora, se mantida a tendência de calmaria na economia americana.
Juros futuros ? indica a expectativa do mercado financeiro.
Juros da aplicação externa ? a rentabilidade para o investidor estrangeiro que traz dólares para aplicação em renda fixa aqui no Brasil. A taxa mede o quanto o investidor ganha em dólares, conta que considera a variação da cotação do dólar.
C Bond ? é o título da dívida externa brasileira mais negociado no exterior. O preço mostra o deságio. Assim, um preço de 70 centavos de dólares indica que um papel com valor de face de um dólar é negociado a 70 centavos, com deságio de 30%. Quanto menor o preço, maior o juro recebido pelo detentor do C Bond. C Bond , spread ? é quanto o titulo brasileiro paga acima do título do tesouro americano de mesmo prazo, o papel mais seguro do mundo. O spread mede o risco Brasil: quanto os investidores querem receber a mais para ficar com papéis brasileiros. Claro, quanto maior a instabilidade, maior o risco, maior o juro demandado, menor o preço do C Bond.
A consequência real disso: quanto maior o risco Brasil, o governo e as empresas brasileiras pagam mais caro pelo financiamento tomado no exterior. Ou seja, fica mais caro o financiamento das contas externas brasileiras. Isso pesa na economia, já que o Brasil, ao longo deste ano, precisa captar algo como US$ 50 bilhões.
Resumo geral: a instabilidade no mercado financeiro americano provocou alta de juros no Brasil (prejudicando o consumo e investimento internos e reduzindo o ritmo de recuperação da economia), aumento na cotação dólar (ameaça de inflação futura) e alta dos juros pagos pelo governo e empresas no exterior, encarecendo o financiamento da dívida externa.
Assim, se confirmada a tendência de desaceleração da economia americana e se o Federal Reserve, Fed, Banco Central dos Estados Unidos, suspender a política de alta de juros lá, os efeitos aqui serão extremamente positivos: queda dos juros, do dólar, do custo do financiamento externo e só bolsa para cima, como convém.
Volta o cenário de recuperação mais forte.

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