A GREVE DOS CAMINHONEIROS

. ENTRE O MERCADO E O PREÇO TABELADO A principal reivindicação dos caminhoneiros é tabelar o frete – e faz o sentido. Quer dizer, faz sentido a reivindicação, mas não quer dizer que vai dar certo. O preço do frete está no território da livre negociação. É mercado. Ocorre que uma combinação de economia em depressão -o país cresceu pouco nos últimos anos – com o aumento do número de caminhões – inclusive com a entrada no mercado de trabalhadores industriais que perderam emprego e compraram seus veículos para tentar como autônomos – gerou uma situação desfavorável aos transportadores. Com mais caminhão do que frete a levar, o preço caiu. Já no lado dos custos dos caminhoneiros, há dois preços tabelados: pedágio e óleo diesel. No caso do diesel, há uma proteção para os caminhoneiros, pois o preço de tabela é subsidiado. Ou seja, quando a Petrobrás vende os produtos na refinaria, cobra um pouco mais na gasolina, para aliviar no diesel. Mesmo assim, o preço do diesel subiu, em consequência da alta do petróleo no mercado internacional. Nos planos do governo, consta a abertura do mercado de combustível, de maneira que qualquer empresa poderá, por exemplo, importar diesel. Haverá mais competição no setor, mas em compensação será retirado o subsídio, de modo que, tudo considerado, o preço ao consumidor final, o caminhoneiro, pode subir. O pedágio aumentou forte nos últimos anos, basicamente por causa da privatização de rodovias. Os contratos de concessão, quer sejam estaduais, quer sejam federais, estipulam cláusulas de reajuste, cuja contrapartida é o investimento das concessionárias em melhoria e ampliação das estradas. No geral, as rodovias melhoraram. Em muitos casos, como na paulista Castelo Branco e na Dutra, os avanços foram notáveis. Com isso, a eficiência do transporte certamente cresceu. Os caminhões vão mais depressa, há menos acidentes, o desgaste dos veículos é menor. Portanto, temos aí redução de custo e ganho de produtividade. Pode-se medir esse fato. Por exemplo: quantos quilômetros a mais de vida útil dos pneus ou dos freios. Mas é uma conta, digamos, abstrata. No dia a dia, o dono do caminhão não percebe esse resultado no seu bolso. Já o pedágio e o diesel – é custo na veia, pago todo santo dia. Por isso, os caminhoneiros pedem uma tabela nacional de fretes, vinculada ao custo do pedágio e do diesel. Com isso, defenderiam sua receita nos momentos de baixa. É viável? Dificilmente. Primeiro, como controlar e fiscalizar um mercado do tamanho do brasileiro, ocupado por milhares de caminhoneiros autônomos, cada um negociando seu frete caso a caso? Asssim, um tabelamento acabaria valendo apenas para grandes empresas, aqueles que estão na economia formal, trabalham com nota e contabilidade estrita. Mas não são essas empresas que mais precisam da tabela, e sim os autônomos, em geral informais. Estes, entretanto, teriam que continuar negociando preço no caso a caso. Em resumo, esse embrulho só termina quando o mercado se equilibrar. Isto é, quando a economia se aquecer de novo e aumentar, como já está aumentando, a demanda por fretes. E se o mercado esquentar de fato, pode anotar aí: serão as empresas que dependem de frete a pedir tabelamento, para cortar as altas impostas pelos caminhoneiros.

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