A ECONOMIA E AS ELEIÇÕES MUNICIPAIS

. Artigos Mudou o mercado ou mudou o PT? A julgar pela reação dos mercados, o pessoal perdeu o medo do PT. O partido alcançou expressivo resultado no segundo turno das eleições municipais, vai comandar o terceiro orçamento do país, o do município de São Paulo, e ocupa posição majoritária entre as 62 principais cidades brasileiras (as 26 capitais e os 36 municípios com mais de 200 mil habitantes). E as bolsas não caíram, o dólar não disparou. Mudou o mercado ou mudou o PT? É bem verdade que nenhum prefeito, nem mesmo o da maior cidade, pode mudar a política econômica nacional. Antes, depende dela e, de certo modo, tem de seguir seu ritmo. Especialmente agora. Está em vigor a Lei de Responsabilidade Fiscal, que impõe rigoroso controle dos orçamentos, de modo que todos os prefeitos, gostando ou não, terão de ajustar suas contas. Mas não é menos verdade que o eleitorado das principais cidades é o mais bem informado e, em consequência, formador de opinião. E a esquerda foi muito bem nesses centros. Desses 62 maiores municípios, os partidos da base governista ou próximos a ela tinham 44. Caíram para 33. Os partidos de oposição de esquerda tinham 18. Subiram para 29, ainda com menos, portanto. Mas incluem os maiores municípios. Das principais capitais, a oposição de esquerda levou quatro – São Paulo, Belo Horizonte, Porto Alegre e Recife – e os governistas duas, Rio e Salvador, ou três se incluirmos Curitiba. Em dinheiro, a diferença é ainda mais marcante. O PT vai administrar 47% das receitas desses 62 municípios. Somando-se os demais partidos da esquerda, chega-se a 73% das receitas. Portanto, é uma posição muito forte. Muita gente tem dito que a eleição foi municipal e que seu significado se esgota nos limites da cidade. Mas não é só isso. Os números indicam também um sentimento de oposição, o que coloca os partidos de esquerda numa posição mais forte para as eleições nacionais de 2002 (presidente, governadores, Congresso e assembléias legislativas). De novo, por que os mercados não desabaram? É que o jogo nacional está apenas começando e os vencedores de hoje , para consolidar sua posição, têm de mostrar serviço. Ou seja, as cidades serão a vitrine do PT e seus aliados. Nesse sentido, o avanço petista é positivo para a democracia brasileira. Talvez a principal virtude da democracia seja a rotatividade dos partidos no poder. O fato de a oposição de hoje poder ser o governo de amanhã exerce influência moderadora sobre todos os partidos. Quem está no governo, por medo de perder a posição, torna-se menos arrogante, mais atento à opinião pública e, sim, mais honesto. Quem está na oposição torna-se mais responsável, ao contrário dos grupos que não têm perspectiva de governo. Estes são sempre radicais, pois não há a menor chance de seus slogans – “abaixo o FMI”, moratória, mínimo de R$ 800 – irem além disso, slogans. A oportunidade de ganhar faz com que o partido seja mais moderado e procure propostas viáveis. E quando finalmente esse partido que passou anos na oposição chega ao governo, é melhor ainda para a democracia. Inicia-se um período de formação para seus quadros, que aprendem a grande diferebça entre a utopia e a realidade. É bom que comecem pelas prefeituras e governos estaduais, dos menores para os maiores. Assim, os quadros vão se formando e a população, incluindo o mercado, se acostumando com o pessoal. Em resumo, o PT assumiu posição entre os quatro maiores partidos nacionais (com PSDB, PFL e PMDB) e agora vai mostrar serviço, especialmente em São Paulo. Se a prefeita Marta Suplicy fizer uma administração aberta, incluindo diversos setores além do PT, indo mais ao centro, governando para a cidade toda – como ela tem dito – qual o problema? Indo bem, de prefeitura em prefeitura, de governo em governo, o PT um dia chega à presidência. Mas não será com Lula, que encarna justamente o PT daquela oposição que precisava ser radical porque a chance de chegar ao governo era mínima. O presidente petista terá sido antes prefeito, governador (ou prefeita, governadora)– bem conhecido de todos. Em outras palavras, os bons administradores do PT serão candidatos fortes em 2006. O mercado, mais uma vez, sabe das coisas. (Veiculado inicialmente no site da Patagon)

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