2007, TUDO BEM 2008, INFLAÇÃO E CRISE EXTERNA

. Melhor que
a encomenda

O ano de 2007 saiu melhor que a encomenda. Dos principais indicadores econômicos, apenas a inflação saiu duplamente pior, mais alta do que em 2006 e maior do que as previsões feitas 12 meses atrás.
Mas isso foi largamente compensado por um crescimento também duplamente melhor.
Nem sempre é assim. Tudo é questão de balanço. Não funciona, por exemplo, aceitar inflação de 20% para crescer 8%, como é o caso de Venezuela e Argentina. Não dura muito para que a inflação destrua esse crescimento.
No caso brasileiro, o equilíbrio ficou interessante. O índice oficial de inflação, o IPCA, do IBGE, a ser conhecido em janeiro, deve ficar em 4,3%, pela média das previsões. É uma alta considerável em relação ao resultado de 2006 (3,1%), mas ainda assim ficará abaixo do centro da meta, de 4,5%.
Está bom, portanto. É de preocupar, pois a inflação termina o ano em aceleração, mas não se trata de nenhuma tragédia, nada que o Banco Central não possa administrar.
No outro lado da história, o Produto Interno Bruto, cujo número final será divulgado pelo IBGE apenas em março, deve ter fechado este ano com uma expansão expressiva de 5,3%, contra os modestos 3,7% de 2006. Eram igualmente modestas as previsões no início de 2007.
Três fatores principais contribuíram para isso. Primeiro, a economia mundial continuou em forte crescimento, apesar da crise do crédito gerada nos Estados Unidos. Países emergentes, especialmente da Ásia, e mais especialmente ainda, a China, tornaram-se fontes próprias de crescimento.
Com isso, o Brasil continuou encontrando demanda forte para seus produtos de exportação. Preços de metais e de alimentos subiram de novo, garantindo a receita exportadores. Dólares desvalorizados, é verdade, porém mais dólares.
Isso, entretanto, foi uma repetição de 2006. O que fez diferença foi o crescimento bem forte do mercado interno, puxado pelo crédito e pelos investimentos do setor privado, os outros dois fatores.
Não que o crédito, especialmente às pessoas físicas, estivesse parado nos anos anteriores. Já vinha crescendo, uma consequência clara da estabilidade da moeda. Ocorre que, em 2007, a concessão de crédito expandiu-se ainda mais e já agora sobre uma base maior.
A massa real de salários cresceu até um pouco menos neste ano (5,5% contra 6% em 2006). Mas o volume de crédito total concedido em novembro último, para empresas e pessoas, era 27% superior ao de um ano atrás. Em dinheiro, o crédito pode chegar a dezembro na faixa dos R$ 930 bilhões, contra R$ 733 bilhões no ano. Imagine quanto automóvel, geladeira e televisão dá para financiar com esses 200 bilhões. Foi assim que as vendas no varejo devem ter terminado 2006 com uma expansão perto de 10% e com o melhor Natal dos últimos anos.
Observe-se também, para acalmar aqueles que acham que as famílias não sabem cuidar de suas finanças: a inadimplência das pessoas (atrasos de mais de 90 dias) continua na faixa dos 7%, até um pouco menor do que no ano passado. As famílias tomaram mais empréstimos e continuaram pagando em dia.
Finalmente, houve uma clara aceleração dos investimentos totais. A expansão sobre o ano passado deve chegar a 13%. Os investimentos estrangeiros diretos (em fábricas, comércio e serviços, não financeiros) devem fechar este ano em US$ 35 bilhões, simplesmente o dobro do verificado em 2006. Isso é consequência do bom estado da economia mundial, sobram recursos para aplicações, e da estabilidade e do tamanho do Brasil.
Investimentos criam capacidade de produção mais à frente. Mas, no momento em que se realizam, são um tipo de consumo. A fábrica que produzirá automóveis em 2008, consome cimento, ferro, plásticos, madeiras, máquinas etc. etc., desde dois anos antes.
Resumo da ópera: os consumidores cumpriram seu dever de ir ás compras. As empresas produziram e investiram.
E o governo? Continuou tomando mais impostos e gastando quase tudo em pessoal, previdência e custeio. Aumentou um pouco nos investimentos, mas ainda não chega a 2% do PIB, contra os 16% do setor privado.
Conclusão para 2008: se não houver um desastre na economia mundial e se o governo não fizer besteira, o Brasil cresce como hoje. Com um amplo programa de privatizações, decola.

Publicado em O Globo, 27 de dezembro de 2007

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