OS EUA NÃO ERAM OS CULPADOS?

.
— Mas a crise lá termina antes —

Os últimos números mostram que a queda na atividade econômica foi extremamente forte nos países ricos da Zona do Euro e nos asiáticos, no último trimestre de 2008. Na verdade, muito mais forte do que nos Estados Unidos.
Quanto ao futuro próximo, análises do FMI sugerem que a recessão será mais profunda nos europeus e asiáticos do que nos EUA. E, finalmente, que os EUA devem se recuperar mais rapidamente do que os outros países ricos.
Não era para ser o contrário?
Quando a crise começou, parecia que era ?apenas? dos Estados Unidos, mais exatamente do modelo de capitalismo americano, mais aberto, menos regulamentado. Governantes dos países da Zona do Euro e asiáticos, com seus modelos de maior intervenção estatal, apressaram-se em fazer recriminações aos colegas americanos. ?Parece que os professores estão com alguns problemas?, comentou o primeiro-ministro da China. ?A era do laissez-faire acabou?, decretaram os presidentes do Brasil, Lula, e da França, Nicolas Sarkozy. Ambos diziam que seus países estavam relativamente bem protegidos.
Não era bem assim. A crise avançou, atingiu a todos e mostrou-se mais virulenta ainda fora dos Estados Unidos.
Mesmo assim, todos continuaram a colocar a culpa no modelo americano, que teria contaminado os demais. É fácil fixar a culpa dos excessos financeiros de Wall Street e da falta de regulamentação da parte do governo americano. Até Allan Greenspan acha que algo saiu muito errado com o sistema financeiro.
Mas os problemas não ficam aí. A crise atingiu a economia real do mundo todo. E como foi isso?
Os americanos, de novo – diz, por exemplo, o argumento chinês. É um argumento que traz um certo rancor, algo mais ou menos assim: então a China aceita seu papel de exportador na globalização, sacrifica os consumidores nacionais para gerar excedentes de exportação, e quando está tudo funcionando bem, o ?grande consumidor?, o americano, lógico, simplesmente quebra e desaparece dos shoppings?
Lembram-se do varejo de antigamente, pequenas lojas, sempre operadas pelos seus donos? Lembram-se como o vendedor ficava furioso com o freguês que não comprava nada?
É como os chineses ? e todos os asiáticos do modelo exportador ? parecem estar se sentindo.
Números justificam essa bronca. No último trimestre de 2008, a China cresceu praticamente zero, um desastre para um país acostumado a taxas anuais de expansão acima dos 10%. As exportações caíram, pela primeira vez na história moderna.
E o Japão, precursor do modelo exportador? No último trimestre do ano passado, o produto caiu a uma taxa anualizada de 10%. Sabem o que é isso, encolher 10%? E as exportações de dezembro/08 foram nada menos que 35% menores do que as do mesmo mês de 2007.
E quase tudo porque os americanos, excessivamente endividados e tendo perdido a riqueza que estava na bolha financeira, reduziram os gastos drasticamente.
Tudo se passa como se os asiáticos tivessem sido obrigados a assumir esse papel. Não foram, é claro. Eles apenas perceberam, muitos anos atrás, que esse era o melhor atalho para crescer rapidamente e, sim, enriquecer. Com aqueles salários? ? é a justa pergunta.
Mas salários baixos numa fábrica de Barbies ainda era melhor que a miséria da zona rural. E depois, olhando para a frente, sempre havia o exemplo do próprio Japão: começou do mesmo modo, apenas exportador, salários de fome e pouco a pouco, na medida em que o país ia ganhando dinheiro, foi mudando para um modelo que incluiu salários mais altos, mais consumo, mais bem estar.
Mas não deu tempo para a China e os demais asiáticos. (Deu, em boa parte, para a Coréia do Sul, que continua exportadora, mas com um padrão de vida mais perto dos ricos).
Que fazer? Se a recuperação dos EUA e do Ocidente rico e consumidor demorar, a China e os demais terão que começar a mudar o modelo desde já. Em outras palavras, criar mecanismos para aumentar a renda e o consumo internos e tornar a economia mais balanceada. Ou seja, eles precisam aproximar mais seu modelo do ….americano!
Essa crise é surpreendente todo dia.

O Metrô de Serra
no PAC de Dilma

O governo federal incluiu no PAC um investimento de R$ 1,9 bilhão no Metrô de São Paulo, por entender que se trata de verba federal. Eis os detalhes: R$ 1,6 bilhão corresponde a um empréstimo do BNDES. Como o BNDES é federal, tal é o argumento, pode-se dizer que se trata de dinheiro de Brasília e, pois, o Metrô pode ser incluído no PAC. Os outros R$ 300 milhões correspondem a um repasse de Brasília para a companhia paulista que constrói o Metrô. Logo, é PAC de novo.
Mas, olhando bem os dados, a história sai um pouco diferente. O empréstimo do BNDES é mais que antigo. É do início dos anos 90 (governo Fleury!) e vem sendo utilizado pelo governo paulista desde então. Incluir isso no PAC como investimento novo é, no mínimo, forçar a barra.
Além disso, se todos os empréstimos da carteira do BNDES devem ser colocados como ?dinheiro do Brasília?, então Lula e a ministra Dilma estão bobeando: o PAC pode ir a trilhões de reais, fica maior que o plano do Obama.
Finalmente, quanto ao repasse dos R$ 300 milhões. Trata-se de uma espécie de devolução. Nas diversas transações entre os governos paulista e federal, ficou uma sobra de 300 milhões, a favor de São Paulo. Que foi destinada ao Metrô.
Tudo considerado, na eleição de 2010 haverá o Metrô da Dilma e o Metrô do Serra. Cada qual tentando convencer o eleitor.

Desde Jesus Cristo
O senador republicano Mitch McConnel encontrou uma boa maneira de mostrar que o presidente Barack Obama quer gastar muito dinheiro. Disse: ?Se você tivesse começado no dia em que Jesus Cristo nasceu e tivesse gastado um milhão de dólares por dia, não dava o Plano Obama?.
Pode fazer as contas. 2008 anos vezes 365 dias dá exatos US$ 732,92 bilhões.

Publicado em O Estado de S.Paulo, 09 de fevereiro de 2009

Deixe um comentário