O BRASIL VOLTA A CRESCER

. Artigos SAIMOS DA CRISE, ESTAMOS CRESCENDO COM SEGURANÇA, MAS PODIA SER MAIS   1. A economia brasileira começou a sair da crise no segundo semestre do ano passado, exibiu forte recuperação no primeiro semestre de 2000 e agora está em pleno processo de expansão sustentada. Isso é que estão dizendo os números do IBGE sobre o crescimento do Produto Interno Bruto: uma alta de 3,84% no primeiro semestre deste ano, em comparação com o mesmo período de 1999. O PIB mede a riqueza nacional, o valor de tudo que se produz no país e que hoje soma pouco mais de R$ 1 trilhão. (Veja no Arquivo, seção Entenda a Economia). Como a população cresce pouco mais 1% ao ano, a expansão da produção nacional perto de 4% significa que cresceu a renda per capita. Exatamente o contrário do que aconteceu nos últimos dois anos. Em 1998, o PIB ficou no zero a zero. Em 1999, cresceu apenas 1% – de novo abaixo do crescimento populacional. Assim, a renda per capita diminuiu – o país, os brasileiros ficaram mais pobres. Os números deste ano indicam que a produção nacional volta aos níveis anteriores da crise – a longa crise das moedas que começou no final de 1997 na Ásia e veio terminar em janeiro de 1999, com a desvalorização do real. Resumindo: o país repôs o que perdeu com a crise e a partir de agora volta a ter expansão líquida. 2. O cenário local e internacional indica que não estamos diante de um surto passageiro de crescimento, mas no limiar de um processo de expansão sustentado e duradouro. As condições macroeconômicas locais são positivas: inflação controlada e em queda, apesar dos resultados de julho; contas públicas equilibradas e endividamento público sendo reduzido; juros, em consequência mesmo desse ajuste, a caminho de níveis civilizados; e taxa de câmbio equilibrada. No exterior, o mundo todo está em crescimento, à exceção do Japão que, entretanto, dá sinais de que pode pegar uma parte dessa onda. O grande risco – um crash nos Estados Unidos – está cada vez mais distante, na medida em que a locomotiva americana desacelera suavemente. E quando o mundo todo está em expansão, isso significa mercados para exportações e capitais disponíveis para investimentos. 3. Mas do exterior também vêm as informações que mostram que ainda há muito por fazer no Brasil. Os outros estão crescendo mais depressa que a gente. E quando se presta atenção no Brasil, verifica-se que poderia também crescer mais. Um dado crucial: o Brasil investe 20% do PIB, sendo que 4% vêm do exterior. Assim, de cada 100 reais gerados no país, 16 são poupados e destinados a novos investimentos. E mais 4 reais vêm de fora, na forma de investimento direto. É pouco. Os países asiáticos, tradicionais poupadores, investem de 30% a 35% do PIB. O Chile consegue mais de 25% – que é o número considerado necessário para o Brasil. Com essa taxa de investimento, o crescimento brasileiro poderia acelerar para mais de 7% ao ano, com o que começaria a reduzir a distância daqui até um país desenvolvido. 4. Como aumentar a taxa de investimento? Primeiro, com mais reformas do setor público, de modo a diminuir a despoupança do governo. Quando se diz que o déficit nominal do setor público fica em torno de está entre 4% do PIB, isso significa que o governo gasta (com despesas correntes e juros) mais do que arrecada. Como cobre a diferença? Tomando emprestado do setor privado. Assim, eis a conta, em números redondos: o setor privado no Brasil, as pessoas e as empresas, poupa 20 reais de cada 100 que ganha (20% do PIB). Investe 16 e empresta 4 para o governo. Ou seja, quanto menor o gasto público, mais sobra para investimentos, privados ou do próprio governo. Faz diferença quando o governo toma emprestado para investir em infra-estrutura – o que movimenta a economia – e quando toma emprestado para pagar o déficit da Previdência (como é hoje). Ou para cobrir o déficit do FGTS, se o Supremo Tribunal Federal mandar aplicar as correções monetárias por conta dos diversos planos econômicos. Eis aí um quadro da situação: toda vez que se manda uma conta para o governo – velha prática nacional – é dinheiro que se subtrai do investimento produtivo. 5. Como dizíamos: do jeito que está, com as condição já dadas, o Brasil cresce sem sustos nos próximos anos, na faixa de 4% a 5% por ano. Para ir além disso, tem que fazer mais do que se fez até aqui: reformas e privatizações para destravar o freio que o déficit público impõe ao país E mais a reforma tributária – para destravar os negócios privados.  

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