O BRASIL E O CENÁRIO EXTERNO

. Artigos A SEMANA: ECONOMIA BRASILEIRA RESISTE ÀS CONFUSÕES EXTERNAS     Eis o que a última semana demonstrou: os fundamentos internos da economia brasileira são sólidos o suficiente para suportar turbulências externas. Essas turbulências têm nome e endereço: Argentina, petróleo, desaceleração da economia americana e queda do euro. Tudo isso afeta a economia brasileira. Argentina, por duas razões. A primeira é que a falta de dinamismo de um importante parceiro comercial prejudica as exportações brasileiras. A segunda é pela contaminação – a desconfiança que faz os investidores se desfazerem dos papéis argentinos e/ou cobrarem juros maiores para mantê-los, acaba afetando os títulos brasileiros e, assim, encarece os juros pagos pelo país (governo e empresas) no exterior. O petróleo, todo mundo sabe. O Brasil importa óleo e combustíveis para cobrir um terço de seu consumo e, além disso, no preço da gasolina tem uma parcela que vai para o caixa do Tesouro Federal. Assim, quanto maior o custo do petróleo para a Petrobrás, menor a parcela que sobra para o governo – que, todos sabemos, não está propriamente com dinheiro sobrando. No caso da economia americana, o melhor que pode acontecer é a desaceleração suave. Ou seja, o país cresce menos, mas cresce. As empresas continuam aumentando vendas, mas em ritmo menor. Em resumo, o consumidor americano continua indo ao shopping, mas para comprar duas camisas em vez de três. Parece que é isso mesmo que está acontecendo – mas sempre há tropeços pelo caminho. Nos casos de algumas empresas, os lucros caem mais do que o esperado, desabam as ações, os investidores saem da bolsa e vão para os juros, que sobem. E se as empresas americanas pagam juros maiores, por que os investidores continuariam aplicando em papéis de países emergentes? Ou seja, empresas brasileiras têm de pagar mais juros lá fora e com isso os juros aqui não podem cair mais. O euro desvalorizado diminui o poder de compra da União Européia, que é cliente importante das exportações brasileiras. Além disso, a queda do euro leva a um aumento dos juros na Europa – e o Brasil capta dinheiro lá. A queda da Bovespa e, mais que isso, suas fortes oscilações refletem essas confusões internacionais. Juros dos papéis brasileiros também subiram nesta semana, a cotação do dólar ficou sempre acima da marca do R$ 1,85, os juros aqui foram atrás. Assim, o Banco Central completou quatro meses sem reduzir a taxa básica de juros (16,5% ao ano). Inicialmente por causa do repique da inflação (julho/agosto) e agora por causa do cenário externo. Mas note o outro lado: o BC também não precisou elevar os juros, como precisava nas crises anteriores. Os juros externos dos papéis brasileiros subiram, mas nada comparável com as disparadas de antes. E sobretudo: sobem mas caem logo que a situação melhora, quando antes subiam e lá ficavam por meses. O dólar, superpressionado, foi a 1,87 – e lembram-se quando escapava para cima de dois reais a qualquer coisinha? E os investimentos externos diretos continuam entrando em abundância, ignorando a conjuntura. Finalmente, a inflação, que chegou a 2% mensais, caiu espetacularmenrte para menos de 0,5% num período muito curto. Lição a tirar em definitivo: não existe mais indexação no Brasil – e isso é uma mudança radical. Tudo considerado, os indicadores básicos brasileiros não se alteraram ou sofreram pequena alteração: as contas públicas permanecem equilibradas; a meta de inflação será atingida (talvez 6,5 neste ano, em vez dos 6%); a economia mantém-se em crescimento (talvez não 4%, mas 3,5%). Ou seja, oscilações, não mudança de base. O comércio externo sente mais, com a redução do superávit comercial. Mas não é uma surpresa. Os problemas estruturais aí vêm de antes – a falta de viés exportador (veja artigo no Arquivo, seção Política Econômica). Eis aí o melhor antídoto contra crises: bons fundamentos internos.    

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