JUROS CAEM NOS EUA; BOM PARA NÓS

. CAEM OS JUROS NOS EUA: O FED CORRE ATRÁS DO PREJUÍZO   Com a decisão de hoje, a redução taxa básica de juros de para 5,5%, o Federal Reserve, Feed, o banco central dos Estados Unidos, quebrou um recorde: em menos de um mês, derrubou a taxa em um ponto percentual, de 6,5% na entrada do ano para os 5,5% de hoje. E ainda manteve o viés de baixa. Ou seja, o Fed está correndo atrás do prejuízo, como diria a crônica esportiva. Da decisão de hoje, podem-se tirar algumas conclusões: 1 O Fed exagerou na alta anterior de juros, processo que levou a taxa de básica de 4,75% ao ano, nível de julho de 1999, para 6,5% em maio de 2000. Em especial, e com o benefício da análise em retrospectiva, a última puxada – de 6% para 6,5%, com viés de alta, foi um equívoco – uma overdose em cima de uma economia que já estava parando. 2. O presidente do Fed, Alan Greenspan, percebeu só em dezembro. A redução da taxa básica para 6%, adotada no início de janeiro, em uma reunião extraordinária do Fed, feita por telefone, indicou que ele tinha pressa em corrigir a dose. (A última reunião extraordinária do Fed havia ocorrido no final de 1998, num momento de grave crise financeira internacional que havia levado o fundo LCTM à bancarrota, ameaçando o sistema bancário americano. Naquele ano, entre 2 de outubro e 11 de novembro, o Fed reduziu a taxa de 5,5% para 4,75%, em três cortes sucessivos de 0,25). 3. Quando, em depoimento ao Congresso americano, agora em janeiro, Greenspan disse que a desaceleração havia sido “dramática” e que neste momento os EUA provavelmente registram crescimento zero, todo o mercado entendeu que a redução da taxa básica será mais rápida e mais intensa. Hoje, 31/01, antes da reunião do Fed, informou-se que o crescimento da economia caiu para 1,4% no últimento trimestre de 2000, contra 2,2% e 5,6% nos trimestres imeadiatamente anteriores. Em seis meses, uma perda anualizada de mais de quatro pontos percentuais. Numa economia de US$ 10 trilhões, significa deixar de produzir o equivalente a US$ 400 bilhões num ano. Uma Coréia inteira! Quase um Brasil, cujo PIB de 1999 foi de US$ 560 bilhões. 4. Como consta inclusive do relatório do BC brasileiro, o mercado e os futuros sugerem que os juros americanos cairão para 5% ainda neste primeiro trimestre e aí estacionam à espera da retomada das atividades. Nesse nível, o Fed estará devolvendo praticamente toda a alta dos juros, processo que começou no patamar de 4,75%. (A próxima reunião do Fed será em 20 de março, mas os analistas não descartam a possibilidade de outra reunião extraordinária, se continuarem saindo dados apontando para uma recessão). 5. Aliás, já se admite que a economia americana pode passar por uma breve e moderada recessão neste primeiro semestre, retomando crescimento a partir do segundo semestre. Pelo levantamento da revista The Economist, os EUA crescem 2,3% neste ano todo. É uma fortíssima desaceleração em relação aos anos anteriores. Mas convém lembrar que, saindo de zero no primeiro semestre para chegar a 2,3% na média do ano, o crescimento do segundo semestre deve estar de novo por volta dos 4%, o que é mais do que bom para uma economia de US$ 10 trilhões. A principal objeção a esse cenário se reflete nas matérias e análises de The Economist. A tese central sustenta que as empresas e as famílias americanas estão excessivamente endividadas e isso com base em ativos – ações – supervalorizados. Com a redução da atividade econômica e a consequente queda de vendas e lucros – processo já em andamento – as dívidas vão pesar. Empresas suspendem planos de investimento e desempregam. As famílias reduzem consumo para recompor sua poupança. Com queda na oferta e na demanda, a recessão se aprofunda e sabe Deus onde vai parar. Lembrem-se do Japão e seus dez anos de recessão, alerta Economist. A resposta a essa tese sustenta que as empresa e os bancos americanos estão sentados em fundamentos mais sólidos do que as companhias japonesas dez anos atrás. Veremos. De todo modo, se realizada a expectativa dominante – desaceleração ou moderada recessão agora, com recuperação no segundo semestre, tese que tem o importante endosso de um Paul Krugman – estará tudo bem por aqui no Brasil. E essa redução de juros é especialmente positiva. Reduz o custo da dívida externa e de novas captações.

Deixe um comentário