ESQUIZOFRENIA NA POLÍTICA ECONÔMICA

—Tombini está certo porque aplica o regime de metas ou porque acabou com ele? —

É preciso admitir que os economistas simpáticos à política econômica do governo Dilma transitem uma impressão esquizofrênica. Alguns aplaudem a presidente por entender que ela finalmente está desmontando o ?tripé neoliberal? herdado de FHC e mantido por Lula, especialmente na era Palocci. Para esses, os últimos movimentos do Banco Central presidido por Alexandre Tombini seriam o sinal de que ele escapou da prisão dos juros altos ?impostos pelo sistema financeiro?. Acham também que o governo Dilma abandonou essa ?bobagem? de BC autônomo e que a instituição agora trabalha em consonância com o Ministério da Fazenda do desenvolvimentista Guido Mantega.
De outro lado, estão os economistas para os quais Tombini pratica uma política monetária dentro do sistema de metas de inflação, tendo introduzido teorias e práticas que atualizam o modelo e o tornam mais eficiente. Ou seja, é como se Tombini estivesse salvando o regime de metas das turbulências dos tempos.
O presidente do BC, de sua parte, sustenta que está em sintonia com Dilma e Mantega, mas que a decisão sobre os juros pertence ao Comitê de Política Monetária, Copom, ao BC, que age aqui com autonomia.
É possível complicar as coisas um pouco mais. O segundo grupo de economistas ? para os quais o regime de metas está em pé ? faz duas críticas ao BC. A primeira diz que a instituição peca na comunicação com o mercado, o que seria ruim para a eficácia da política monetária. A segunda crítica, mais exatamente uma ressalva, está nos cenários: mesmo os analistas mais simpáticos ao BC projetam inflação maior que o BC para este e o próximo ano.
Mais complicação? Esta: o outro grupo, dos desenvolvimentistas, acha que o BC não tem nada que se preocupar com a comunicação com o mercado, pois este é apenas a súcia dos sanguessugas da banca nacional e internacional. Quanto às projeções de inflação, esse grupo acha que não tem problema nenhum com uma inflação rodando na casa dos 7% ao ano ou até mais, desde que se mantenha o real bem desvalorizado e juros mais baixos, mais ou menos como na Argentina.
Ou seja, para um lado, Dilma/Mantega/Tombini estão praticando de um modo mais avançado o sistema de metas de inflação e superávit primário (controle das contas públicas), com um regime de câmbio nem livre, nem administrado.
Para o outro lado, o mesmo governo está paulatinamente desmontando o tripé na direção de uma política econômica nacionalista, desenvolvimentista e protecionista da indústria.
Não é possível que os dois lados estejam certos ao mesmo tempo. Voltaremos ao tema. Por ora, deixamos a reflexão aos leitores: é para cá ou para lá?
Custo Brasil
Temos tratado aqui do custo de produzir e consumir no Brasil. A propósito, eis mais depoimentos de leitores:
. Café expresso – Paguei na confeitaria Nacional em Lisboa 0,70 euro. Em outros lugares o preço variava de 0,60 a 1,20 euros.
No Rio um café expresso não sai por menos de R$ 3,00 e pode ir até R$ 5,00. Ora Portugal não produz uma saca de café nem de açúcar, o salário mínimo é mais alto e a matriz energética é basicamente térmica. Qual a justificativa? Passamos três semanas de férias em Portugal e Espanha. De uma maneira geral, encontramos preços entre 20% e 50% mais baratos. (Fernando Barbosa)
Fábricas – Nós estamos caros não é só em relação à China. Estamos caros em relação a praticamente o mundo todo. Acabamos de montar uma fábrica de cimento no Ceará e vamos
iniciar a montagem de outra no interior do nosso estado.
A quantidade de equipamentos chineses é pequena. A maior parte vem da Europa mesmo, além dos EUA. Ou seja, está mais barato comprar equipamentos na Europa que no Brasil! Da China, então, é covardia. (Adauto Farias).
Olimpíadas ? O governo brasileiro está apoiando a formação de atletas olímpicos para os Jogos de 2016 no Rio de Janeiro. Esgrima é um dos esportes olímpicos incentivados. Aí, você vai comprar as espadas, que não têm fabricação nacional, e paga imposto de 60%. Pode? (Mara Luquet).
O professor e o juiz, segundo um professor, cujo nome mantenho reservado: ?Sou funcionário público. Professor titular de Universidade Federal. Fiz dois concursos: um para ingresso na Universidade e outro para professor titular. É o topo da carreira. Recebo 1/3 ou 1/4 dos vencimentos de um ministro do STF. Para me ausentar do país, não estando em férias, preciso de: justificativa por atividade acadêmica, autorização do Departamento, autorização da Congregação da Unidade, autorização do Reitor e, finalmente, publicação no Diário Oficial. Sem isso, corro o riso de ser exonerado do serviço público. Pois bem, o Sr. Tóffoli, ministro do STF, que não passou em concurso algum (e foi reprovado em um) nomeado para o cargo, ausentou-se, faltando a quatro sessões do STF, para um casamento na ilha de Capri de um advogado que advoga no Supremo e tem projetos relatados por Toffoli… Simplesmente informou ao presidente do STF que ia se ausentar. Ou seja, no Supremo, participar de casamentos no exterior deve ser justificativa de grave fundo jurídico. É preciso refazer o ditado: “Ver Capri e morrer”. No STF é “Ver Capri e viver (viver bem)”.

Publicado em O Estado de S. Paulo, 06 de outubro de 2011

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