Es universidades paulistas estão devendo (2)

. Como santo de casa não faz milagre, é importante a participação de profissionais capacitados, como você, isentos da participação na academia para fomentar a discussão Volto ao assunto das universidades públicas paulistas para dar a palavra a professores e professoras que enviaram email comentando o artigo publicado em O Estado de S.Paulo de 29/05. Como alguns pediram reserva sobre seus nomes, adotou-se o mesmo critério para todos.
Começo com a nota de uma professora que se diz "quase em fim de carreira", mas que, na realidade, está no auge da carreira intelectual. Eis sua palavra:
"A inércia da Universidade para enfrentar seus problemas mais óbvios é impressionante. Desde de que se obteve a autonomia (1989), todo mundo capaz de somar 2+2 se deu conta que a questão das aposentadorias só poderia se agravar. Já naquela época eu ouvi dizer que era preciso criar um fundo. Ninguém fez nada (dos reitores Goldenberg a Marcovitch) porque a decisão é politicamente espinhosa uma vez que os professores, como todos os demais mortais, teriam de pagar contribuição mensal. Hoje o problema é bem mais grave do que há onze anos.
Nossos salários são baixos. Estou quase no fim da carreira, tenho 25 anos de serviço, 5 quinquênios, 6a. parte, gratificação de chefe e com tudo isso ganho mais ou menos R$ 5.500 brutos, o que dá R$ 4.000 e poucos efetivamente no bolso. Acho que eu valho mais, mas tem gente que nem isso merece.
A Universidade não tem qualquer mecanismo para premiar mérito e desempenho. É politicamente incorreto falar em políticas acadêmicas que dêem incentivos a quem merece. Antes da greve a Reitoria (da USP) propôs um reajuste insignificante (7%), um abono razoável (mais ou menos 3 % entre abril e dezembro, pagos de uma só tacada em abril) uma bolsa para os doutores com menos de 5 anos de carreira, que são os que estão em pior situação ( o salário inicial é baixo, ela ou ele tem filhos pequenos, querem comprar uma casa, tem mais dificuldades para fazer consultoria ou conseguir uma bolsa de produtividade do CNPq).
Propôs ainda abrir a discussão sobre incentivo ao tempo integral, forma velada de dizer que há que premiar os mais produtivos. Pois bem, o chamado movimento grevista fez que não ouviu a proposta da bolsa e da valorização do tempo integral e de fato, ainda que não o dissesse abertamente, optou por utilizar os recursos existentes para reajustar todos os salários.
A Reitoria de sua parte não teve a competência para colocar a alternativa de forma clara obrigando as associações a escolher claramente entre a alternativa de reajuste igual para todos ou incentivo para os jovens e para os produtivos.
Enfim, se a discussão proposta artigo da semana passada não for feita logo e a Universidade não tiver capacidade de se auto-reformar seu futuro não será dos melhores.
Em tempo, acho bom alguém verificar essa história de que os professores se aposentam para ir para as faculdades privadas. Há alguns casos conhecidos, mas não creio que, por enquanto, seja uma tendência importante.
Na USP, a carga mínima com ensino é 6 horas semanais. Dificilmente, algum professor dá mais do que 8 horas semanais ( ou seja um curso repetido em dois períodos). O resto do tempo é para preparar aula, orientar aluno, e sobretudo fazer pesquisa ( a Usp é responsável por cerca de 40 % da produção acadêmica nacional e deve receber uns 50-55% do total de recursos). Eu duvi-de-o-dó que as pessoas estejam saindo daqui em massa para dar algo como 20 ou 30 horas de aula por semana para ganhar mais. Conta essa para outro. Bem é isso aí. Desculpa o desabafo".
Os jovens
De um professor de Ribeirão Preto, apresentando um perfil dos "jovens docentes", os que têm menos de 40 anos e são contratados, não autárquicos:
"1.Têm vários anos de estudo no exterior financiado pelo CNPq e FAPESP.
2. Prestam concurso público altamente competitivo para entrar na USP, UNICAMP e UNESP. (A gente faz um para entrar e depois outro colocando a vaga à disposição para se efetivar. Se perder o concurso ou se não tomar cuidado com os colegas mais “antigos” fica na rua independentemente do tempo de casa).
3- Sempre lecionam na graduação ou pós-graduação.
4-Tocam vários projetos de pesquisa, com recursos de agências de fomento ou de empresas. (A gente já está pagando com dinheiro de fora telefone, papel, lápis, caneta, transparências para material didático, etc. Por enquanto a Universidade dá grátis paredes, correio abaixo de 500g, água e luz para o docente-pesquisador trabalhar.
5- Apresentam relatório de atividades de pesquisa, ensino e extensão a cada dois anos, por um período mínimo de 6 anos (relatório para renovação de contrato ou regime de trabalho aferido pela comissão de contratos e pares). Os docentes mais antigos (autárquicos) não precisam dar satisfação.
6 – Grande parte dos docentes das Universidades Estaduais foi contratada sem pertencer ao regime CLT nem ao autárquico. Ou seja, não tem fundo de garantia, carteira, nada. Na USP, até pouco tempo, havia colegas com mais de 10 anos de casa nesta situação.
7-Tem docente aposentado em uma estadual trabalhando em outra ou aposentado recontratado.
8-Salário de um jovem professor: 2.300 reais (livres!) no regime de dedicação exclusiva! (Com 40 anos vou estar ganhando no máximo 3.000-3400 reais).
Alternativas: Sair para uma empresa, se o docente atua na parte tecnológica; para universidade particular (uma boa negociação pode dar salário líquido de R$ 6 mil); ou para o exterior. Ou tentar virar burocrata científico ou funcionário (a maioria dos funcionários acaba tendo outro emprego por fora e no final ganha mais que os docentes)".
Reformas
Diversos professores salientaram a urgência da reforma nas universidades e apontaram a isonomia como um dos principais problemas, além da questão das aposentadorias. Uma idéia interessante: que as três universidades se juntem para criar um Fundo de Previdência Universitária e, assim, tirar os inativos da folha de salários.
Muitos apontaram a necessidade de mecanismos alternativos de captação de recursos, incluindo aí a cobrança de mensalidade e a instituição do professor "chairships" (empresas financiando cadeiras).
Um professor de São Carlos manifestou ceticismo quanto à capacidade da Universidade de auto-reformar: "Santo de casa não faz milagre. É importante a participação de profissionais que estejam fora da academia".
Unesp
A assessoria de imprensa Unesp enviou nota para explicar por que essa universidade tem custos maiores. Eis um resumo da nota:
"A Unesp foi criada com a reunião de vários Institutos Isolados de Ensino Superior que existiam em São Paulo nos anos 60. É, assim, uma universidade multi-campus, implantada hoje em 15 municípios, com 23 faculdades ou institutos.
Essa multiplicidade implica necessariamente em igual multiplicidade de corpo docente, laboratórios, clínicas, pessoal técnico, administrativo, etc.
A Unesp mantém ainda 115 cursos de mestrado e 90 de doutorado, com padrões de excelência reconhecidos.
São hoje cerca de 3.300 docentes (66% com título de doutor) e 30.000 alunos. Os inativos representam 28% da folha".
Publicado em O Estado de S.Paulo 05/06/2000

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