Nem deu tempo para o pessoal se acostumar com o dólar a R$ 2,45. Nos últimos dias, a pergunta mais frequente circulou pelo outro lado: mas até onde a moeda americana pode cair? Dá para entender o que está acontecendo, é até fácil. O dificil é justamente saber o que mais interessa: qual a cotação , digamos, correta?
Boa parte da história vem de fora. As tendências determinantes vêm ou dos Estados Unidos ou da China. As políticas locais podem amenizar os movimentos, mas não mudar a direção, o que só complica as coisas. A gente precisa saber, primeiro, o que vem de fora e, depois, o que o governo pretende fazer com isso.
Considere a China. Entra na história como nossa principal freguesa de comodities – especialmente minério de ferro, soja e petróleo. A lógica é a seguinte: se a China vai bem, crescendo e exportando para seus mercados mundiais, então necessariamente vai comprar mais comodities, cujos preços, pois, devem permanecer elevados.
Nessa situação, o Brasil exporta mais, recebe mais dólares e aí funciona como no mercado de bananas. Tem muita banana, cai o preço da banana, tem muito dólar, cai a cotação da moeda americana e o real se valoriza.
Essa é a síntese do que aconteceu nos últimos anos com o Brasil e muitos outros países emergentes. Receberam uma enxurrada de dólares com as exportações para a China. Logo, China na boa é igual a dólar para baixo.
É curioso, e aqui a se começa a complicar este capítulo, que a retomada do crescimento dos EUA ajuda a China, já que esta, em boa parte, vive de vender para os americanos. Logo, boas notícias sobre os EUA deveriam levar, lá na ponta, a uma desvalorização do dólar
No entanto, tem sido o contrário. Se a economia americana vai bem, o dólar sobe (se valoriza) por aqui. Mas ainda dá para entender. É por causa da política monetária do Federal Reserce, Fed, o banco central dos EUA. Hoje, essa é política é de juros zero e expansionista, ou seja, com a colocação mensal de US$ 85 bilhões de dólares no mercado. De novo, as bananas. Muito dólar na praça, cai o preço (a cotação). Isso aconteceu no mundo todo.
Ora, quando a economia americana estiver em sólida recuparação, o Fed vai, primeiro, diminuir a injeção de dólares e, depois, subir os juros. Ou seja, menos bananas e mais caras. Investidores globais, que haviam procurado melhores oportunidades pelo mundo afora, voltam para as verdinhas. O dólar se fortelece, fica mais caro no mundo todo, as demais moedas se desvalorizam. Exatamente como aconteceu com o nosso real de maio para cá.
Em cima disso, coloca-se a política do Banco Central do Brasil, que está vendendo dólares diariamente. Coloca mais moeda americana na praça e assim consegue derrubar cotações muito altas ou impedir subidas muito fortes do dólar. Foi assim que o BC conseguiu trazer o dólar de volta dos R$ 2,45, ajudado, é claro, por boas notícias vindas da China.
Estão vendo? Fácil entender o que se passou, assim em linhas gerais. Isso posto, perguntarão: de quanto será o dólar no final deste ano, na época das viagens de férias?
Bom, fiz a pergunta a um amigo superespecialista em mercado de câmbio. Respondeu: tenha como regra que o dólar ficará caro por um bom tempo.
O que é caro? E o que é por um bom tempo?
Está querendo saber demais.
Sócios do governo
É bom ou ruim ser sócio do governo brasileiro? Em geral, não sai boa coisa. Mas no caso dos próximos leilões de privatização de rodovias, é a única saída para os investidores privados.
Na próxima sexta, os interessados deverão entregar suas propostas para a concessão de dois trechos das rodovias BR 262 e BR 050 – e ganha quem cobrar o pedágio mais barato.
Ora, quanto menor a tarifa, menor a rentabilidade do negócio. Além disso, há fatores políticos e jurídicos pesando contra a cobrança de pedágios – um dos alvos preferenciais das recentes manifestações, por exemplo.
No Congresso e em assembléias legislativas estaduais correm propostas que, quando não proibem, limitam a cobrança de pedágios. Sem contar ações nos tribunais, especialmente nos momentos de reajuste de tarifas, mesmo que seja apenas para corrigir a inflação.
Ou seja, há um risco ponderável na única fonte de receita do negócio. Ainda assim, há interessados.
É que o governo federal participa do jogo de três maneiras: financia a juros baratos; faz boa parte das obras de duplicação; e entra de sócio, com até 49%, na concessionária.
Ou seja, se der problema, o governo compreenderá e ajudará a resolver de algum modo – tal é a aposta dos interessados.
E as boas estradas? Isso é outra história.