CRISE DE ENERGIA E ELEIÇÕES

. A hora da bronca e a hora do voto Em junho/2001, 60% dos entrevistados pelo Instituto Sensus afirmavam já ter escolhido em quem votariam em 2002 para presidente da República. Desses já decididos, nada menos que 85% (ou 50% do total de entrevistados) apontavam um dos quatro nomes da oposição (Luiz Inácio Lula da Silva, Ciro Gomes, Itamar Franco e Anthony Garotinho). Em julho, repetida a questão, os resultados foram os seguintes: 46% declararam ter candidato; e 35% escolheram um dos candidatos da oposição. Ou seja, em apenas um mês, os oposicionistas perderam 15% das preferências nacionais. Observe-se na tabela que a preferência por governistas permaneceu estável. O pessoal que deixou a oposição foi para o muro. O que teria acontecido nesse período? A mudança de sentimento em relação à crise de energia. A ficha caiu em maio e o racionamento começou em junho. Como a maioria esmagadora dos cidadãos entendeu que o governo era o responsável maior pelo problema, isso engrossou a tendência de se votar na oposição. Passados 30 dias, verificou-se que a crise não era o fim do mundo. É menos confortável, mas dá para viver com 20% a menos de energia. Além disso, o governo ocupou as manchetes com providências reconhecidas como eficientes e que, afinal, funcionaram, pelo menos até aqui. Quer dizer, funcionaram no sentido de evitar o apagão – este o desastre maior. Assim, reduziu-se o ímpeto oposicionista, sem que tenha se transformado em opção pelo governo. Faz sentido: o problema ainda está aí, pode melhorar, pode piorar, de modo que o muro da observação (cética) é um lugar prudente. Mas isso significa também que os candidatos de oposição podem ter perdido uma oportunidade. Eis o ponto: quando a situação piora por alguma razão, aumenta a bronca em relação ao governo, especialmente numa cultura, como a nossa, para a qual o governo resolve tudo ou estraga tudo. O problema, para a oposição, é como transformar essa bronca numa opção firme por um outro programa para o país. Trata-se da parte mais difícil, passar do discurso “contra-isso-tudo-que-está-aí” para uma política de administração. No caso do candidato, é preciso uma mudança de imagem, do cara denuncia para a de um governante que sabe como resolver problemas. Os oposicionistas não souberam fazer isso na crise de energia. Em geral, acusaram a política neoliberal do governo pelo problema – o que não constitui novidade, nem distingue um candidato de outro. Além disso, os oposicionistas bateram na tecla do apagão – seria inevitável, seria um desastre etc. etc. – o que mais assusta do que resolve. Qual seria a proposta alternativa? Reestatizar todo o setor? Ninguém bancou isso. Aumentar os investimentos no setor? Sim, mas isso o governo também diz e faz. Assim, com a oposição sem propostas ou com propostas que não empolgam, o governo vai reocupando seu espaço com a gestão da crise. Esse padrão político tem se repetido ao longo dos últimos anos. O governo e o Plano Real – vale dizer, a economia – vão bem, a oposição vai mal. A situação econômica piora, o governo faz bobagens – como essa brigalhada na base partidária – e a oposição ganha pontos nas pesquisas. Há, entretanto, uma diferença crucial entre pesquisa e eleição. Na primeira, pode-se dizer que vale mais o coração, na segunda, a razão. Numa, o desconforto ou a raiva com certas coisas, na outra a escolha de quem possa administrar. Há um paradoxo aqui. Quanto pior a situação, maior a bronca das pessoas e, pois, maior a inclinação para a oposição. Por outro lado, quanto pior a situação, mais o eleitor procura um candidato que transmita seriedade, capacidade e competência. Exemplo clássico está na última eleição presidencial. A economia, abatida pela crise da Ásia, vinha em desaceleração desde meados de 1997. Estava entrando em recessão – com aumento do desemprego e todos os demais problemas – no momento da eleição, outubro de 98. Nas pesquisas, Lula liderou com ampla margem até meados do ano. FHC começou a crescer quanto mais perto da hora do voto e quanto mais a crise avançava. E ganhou no primeiro turno. Claramente, Lula não conseguiu transformar a bronca em firme opção pela oposição. A situação, claro, é diferente para a próxima eleição. Primeiro, o desgaste do governo FHC é maior. Segundo, FHC, cujo desempenho pessoal é melhor avaliado que seu governo, não pode ser candidato. Assim, não apenas os oposicionistas precisam passar para estadistas como os governistas precisam também achar um candidato que transmita confiança e respeitabilidade. Ou seja, o momento é de oposição, mas a eleição está aberta. Da oposição para o muro (%)  

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