AS EXPORTAÇÕES BRASILEIRAS

. Artigos Exportação eventual Em setembro último, as exportações brasileiras cresceram, porém menos que as importações – isso em relação ao mesmo mês do ano passado. No início de outubro, a situação piorou: a média diária de importações continuou crescendo (contra outubro de 99), mas as exportações foram menores. Não se pode duas semanas como regra, mas há uma tendência: o consumo interno mais aquecido faz com o país importe mais e, de outro lado, deixa menos produtos para a exportação. De fato, o comércio brasileiro está contando com um grande Natal, talvez o melhor do Real e por isso estão todos aumentando suas encomendas à indústria local e aos importadores. Assim, é praticamente certo que o comércio externo apresentará déficits em outubro e novembro. Com o resultado da primeira semana de outubro, o superávit do ano caiu para apenas US$ 483 milhões, tornando mais prováveis as previsões de déficit para os 12 meses de 2000. No início do ano, nos cenários oficiais, o governo esperava um superávit superior aos US$ 4 bilhões. No setor privado, a expectativa era bem mais modesta, mas ainda assim sempre se esperando superávit. Os números reais mostram uma total reviravolta. Há diversas observações a fazer. Primeira, não é errado que uma economia emergente em crescimento apresente déficit no comércio externo. Um exemplo é o México, que registrou um déficit de US$ 6,5 bilhões até agosto último, embora sua exportação seja enriquecida com as receitas do petróleo. Mas os emergentes asiáticos também crescem – e até mais rapidamente – e ao mesmo tempo obtêm expressivos superávits no comércio externo. Isso mostra uma diferença entre aquelas economias – a dos tigres – e a dos países latino-americanos, a brasileira incluída. Os asiáticos basearam suas políticas de crescimento nos anos 70 no esforço exportador. O Brasil e os sul-americanos, na substituição de importações. Claro que houve substituição também nos países asiáticos, mas o foco da política era acelerar vendas externas. Isso faz diferença. O Brasil concedeu proteção à indústria nacional – incentivos, subsídios e tarifas de importação elevadíssimas – para que produzisse aqui ao abrigo da concorrência externa. No caso dos asiáticos, os incentivos foram condicionados ao sucesso na exportação. Ou seja, a indústria brasileira cresceu nos anos 70 protegida da competição, o que a levou a acomodar-se com produtos de má qualidade e caros. Já a indústria asiática só podia crescer se fosse competitiva nos mercados mais competitivos. Foi, assim, obrigada a buscar eficiência de nível internacional. Para a indústria brasileira, a exportação sempre foi um negócio eventual. Algo que se faz quando o mercado interno está ruim. Para os asiáticos, a exportação é a base do negócio. No Brasil, o comércio externo representa parte pequena da economia, algo como 15% do Produto Interno Bruto. Nos asiáticos, passa dos 50%. Mesmo em períodos de forte crescimento do mercado interno, como ocorreu nos anos 80, quando aqueles países registravam déficit comercial, a exportação continuava em níveis muito elevados. E assim que se desvalorizaram as moedas (1997/98), deprimindo o poder de compra local, o superávit foi recuperado em poucos meses. Depois da desvalorização do real, o comércio externo brasileiro foi atingido por uma série de eventos negativos: queda de preços dos principais produtos de exportação e aumento na importação (petróleo à frente). Mas o fator essencial da decepcionante realidade do comércio externo não é esse: é a falta de um “drive” exportador permanente. Não é simples chegar a isso. Requer financiamento, marketing internacional, mudança cultural das empresas. Resultado: por um bom tempo ainda o fechamento das contas externas brasileiras vai depender da entrada de investimentos externos, como ocorre neste momento. O problema é que isso vai bem quando os países desenvolvidos – fornecedores de capital – também vão bem e os mercados financeiros seguem relativamente calmos, como ocorre hoje. Quando a situação vira . . Resumo: por ora, nos valemos dos capitais externos. Mas isso não pode dispensar um esforço exportador. Isso significa apoio às empresas exportadoras, mas inclui, para ser permanente, reforma tributária, do mercado de capitais e ajuste fiscal, para permitir uma forte redução dos juros que tanto penalizam o made in Brazil.

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