A TRÁGICA HISTÓRIA DO PT

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Ocupar o governo,                
    
Para fazer o bem,               
    
Para roubar      
É quase um conceito político e vem de longe, dos grandes embates de idéias de 1964: fisiologia. Por oposição a ideologia, designava a prática política de ocupar postos no governo com o objetivo de obter vantagens pessoais, aqui incluídos os benefícios para as empresas e negócios próprios e dos correligionários.  Já o político que agia por ideologia era aquele que chegava ao governo para aplicar um determinado programa. Na crise destes dias, a oposição se dá entre republicanos e aqueles dedicados ao aparelhamento do Estado. É mais ou menos a mesma coisa. Republicano, claro, tem a ver com a origem latina da palavra, a res publica, coisa pública. Trata-se de agir conforme o princípio de que o governo deve atender os interesses de todos e não apenas daqueles que venceram as eleições. E aparelhamento? Trata-se de ocupar o Estado com militantes e quadros de um determinado partido, normalmente o vencedor das eleições, com o objetivo de imprimir à administração pública a orientação daquele partido. É curioso, porque parece uma coisa certa e até um complemento à prática republicana. O vencedor das eleições teve o apoio explícito da maioria dos cidadãos para aplicar programas e idéias apresentadas na campanha. Logo, deve ter o direito de colocar na administração pública as pessoas adequadas à execução do projeto. Isso faz sentido, mas apenas para um número limitadíssimo de cargos na administração pública. Direto ao ponto: o presidente da Petrobrás precisa ser do partido do presidente da república? A resposta é não. Há escolhas a se fazer na gestão de uma enorme estatal como essa. Por exemplo: comprar plataformas e navios exclusivamente no Brasil ou em concorrências internacionais? Mas essa não uma decisão da diretoria da Petrobrás e sim do acionista controlador, que é o governo federal. O presidente da estatal está lá para cumprir o programa do governo e, nesse sentido, deve ser apenas um executivo capacitado. O governo tem como mandar na estatal? Tem, pela assembléia de acionistas, pelo conselho de administração e, no limite, pela demissão dos executivos que não cumprirem as metas fixadas. Do mesmo modo, o ministro da Saúde deve ser uma indicação do partido no governo, mas os diretores dos hospitais públicos, não. Em resumo, o partido vencedor deve nomear seus quadros apenas para aqueles postos e órgãos nos quais se decidem as políticas. Para todos os demais, o critério de nomeação tem que ser técnico e por carreira. Foi esse o grande equívoco do Partido dos Trabalhadores, o de achar que precisava espalhar seus militantes por toda a administração pública, para ter o controle da máquina e assim aplicar as políticas partidárias. De onde vem esse equívoco? Da teoria e da prática. A teoria é aquela antiga, stalinista burocrática, para a qual tudo tem que estar sob controle centralizado. É um espírito tão enraizado no PT  que levou seus dirigentes a centralizar e registrar o caixa dois. Por que se paga em dinheiro vivo? Para não deixar registros. Pois o pessoal do PT acertou pagamentos em dinheiro, mas com tudo registrado por fora, nomes e RG, para o chefão poder saber sempre quem estava recebendo e quanto. E, assim, poder cobrar. A outra causa do aparelhamento é prática. Ao longo do tempo, o PT foi criando uma classe de burocratas, militantes funcionários, que ora estavam em funções no partido, ora nas diversas administrações municipais e estaduais conquistadas, ora nas organizações controladas, como sindicatos, centrais, ONGs. São pessoas dedicadas a vida toda ao partido ? e ao mesmo tempo, pessoas que precisavam de emprego intermediado pelo partido. Dificilmente o conseguiriam de outro modo, pois sua qualificação principal era a de militante funcionário.  Ora, o governo federal foi uma farra, com seus mais de 20 mil cargos a preencher por designação da presidência da República. E aí, desgraça total, juntou a fome com a vontade de comer. De um lado os militantes do PT, querendo e precisando dos cargos, pelos quais haviam lutado a vida toda. De outro, os aliados do PTB, PL e PP, que se enquadram na clássica definição de fisiológicos, querendo os cargos para fazer negócios. Os fins eram diferentes, mas os meios os mesmos ? ocupar o máximo de cargos na administração federal. Deu nisso, gente do PTB e do PT disputando a nomeação de chefes da Polícia Federal no Estado do Rio. No caso do PT, para dar emprego a militantes, policiais há anos ligados ao partido. No caso do PTB, para,  por exemplo, liberar mercadorias sem nota fiscal. No caso do PT, o aparelhamento do Estado se dava em nome do espírito republicano de fazer o bem para o povo, pela primeira vez na história do país, como o presidente Lula não se cansava de repetir. No caso do PTB, PP e PL, para colocar a administração a favor de interesses pessoais e empresariais. Mas aí, sabe como é, você já está mesmo com a mão na massa, é um cara sério e republicano, que mal há em receber um presentinho, um empreguinho para a patroa ou para a ex-patroa, e lá se vai a história.     
Acrescente aí as delícias do poder ? também sentidas por Lula, dona Marisa e seus filhos ? e está armado o maior aparelhamento já visto no Brasil, isso resultando numa mistura explosiva de ineficiência e corrupção.     
Ineficiência porque a maior parte das políticas tradicionalmente preconizadas por militantes do PT revelou-se inadequada, antiquada e excessivamente ideológica. Qual a marca do governo Lula? Uma política econômica correta nos seus fundamentos, mas isso é herança. Depois, os programas sociais, que também são herdados. E qual a grande obra? A transposição do rio São Francisco, diz Lula, que, entretanto, ainda não a conseguiu tirar do papel, em parte por causa do bloqueio ambiental colocado pelos próprios companheiros.     
A corrupção inicialmente veio dos partidos aliados, que não tinham qualquer escrúpulo em relação a isso. E o pessoal do PT aprendeu o que já aconteceu com outras burocracias estatais: começa financiando o partido e terminando financiando os companheiros, contemplados com empregos e facilidades.     
Quando se dizia que o pessoal do PT não estava preparado para o governo federal, os petistas reagiam afirmando que se tratava de preconceito.  Pois é, não era.       
  Publicado na revista Cardnews, edição agosto/05

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