A crise do funcionalismo 2

. Eis um ponto essencial para se avaliar a crise do funcionalismo público: é preciso separar situações. Primeiro, entre os três níveis de governo, federal, estadual e municipal. Depois, dentro de cada esfera: há muita diferença entre os salários e vantagens das diversas categorias.
Daí uma conclusão óbvia: não faz sentido um aumento linear para todo o funcionalismo, pois a fonte de pagamento não é mesma. Além disso, a nova Lei de Responsabilidade Fiscal estabelece limites para os gastos com pessoal (uma porcentagem em relação à receita). Os governos estaduais estão no limite ou acima dele, em níveis variados, de modo que para concederem reajustes dependem de aumentos de receita.
E mesmo numa única esfera de governo, não é possível aplicar reajuste salarial uniforme. No caso do governo federal, por exemplo, diversas categorias, ao longo dos anos, conseguiram vantagens exclusivas. Outras categorias, essenciais para o funcionamento da máquina, como auditores e fiscais da Receita Federal e do INSS, receberam reajustes salariais recentes.
Na verdade, 33 categorias federais, somando 231 funcionários ativos e inativos, receberam reajustes e vantagens que os colocaram como os mais bem pagos. (O teto dessas carreiras é pouco mais de R$ 7 mil, podendo chegar a R$ 8,5 mil com gratificações). Para a maior parte das categorias, o teto é R$ 5,5 mil.
No total, são 1 milhão de funcionários federais, ativos e inativos. Três quartos não tiveram reajustes. Entre os que não receberam, há funcionários, de nível médio, que ganham mais que o setor privado. E outros que ganham menos. Além disso, funcionário público tem estabilidade, aposentadoria integral e reajuste de inativo igual ao da ativa. É uma enorme vantagem.
Portanto, qualquer discussão salarial tem que separar caso a caso.
Além disso, historicamente, as categorias mais próximas dos gabinetes e do Congresso, em Brasilia, conseguem mais vantagens.
E quem mais precisa de reajuste são os funcionários que estão longe de Brasília e perto do público: professores na sala de aula, médicos nos postos, policiais na ruas, fiscais idem, etc..
Resumo geral: a pedida dos sindicatos do funcionalismo federal de reajuste linear de 64% não faz o menor sentido, não é base para qualquer negociação. Só para greve e manifestação política.
Existe uma crise do funcionalismo público ? mas é muito mais séria do que os sindicatos conseguem entender. Eles estão levando a categoria ? e o serviço público ? para o buraco.


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