. DÓLAR A 2 REAIS. E DAÍ? Ainda assusta, especialmente os telejornais da noite. Mas o nome do jogo agora é câmbio flutuante. Quer dizer que o Banco Central não tem meta para a taxa de câmbio, não é obrigado a defender uma determinada cotação do dólar. Ou seja, dólar a 2 reais não é sinal de crise ou de falta de confiança na economia brasileira. Tanto que boa parte do mercado acredita que o BC e o Tesouro gostariam que o dólar não caísse abaixo de R$ 1,95, para estimular as exportações. (Veja bem, não seria uma meta, mas uma cotação considerada boa…) Em resumo, dólar a 2 reais é um fato do mercado e da conjuntura. Muitos analistas acham que, neste momento, a cotação correta do dólar seria algo em torno de R$ 1,93 – isso considerando uma série de cálculos complicados e chatos, envolvendo taxas de juros locais e internacionais e o risco Brasil embutido nos títulos brasileiros lá fora. Enfim, uma parafernália que não vale a pena explicitar aqui. Mas acredite: analistas de peso, como o ex-presidente do BC Gustavo Loyola, entendem que a cotação atual está fora dos parâmetros técnicos. E por que isso acontece? Expectativas. Dado o déficit mais alto que o esperado no comércio externo, o mercado passa a acreditar que o BC estaria até forçando uma alta do dólar – e consequente desvalorização do real – para estimular as exortações. Acrescente que diretores do BC e do Tesouro andaram falando nos planos do governo de comprar até US$ 3 bilhões no mercado local neste ano – e o pessoal interpreta: está vendo!?, eles vão comprar para segurar um piso . . . Isso posto, de nada adianta diretores do BC e do Tesouro explicarem que os US$ 3 bilhões são um teto para as compras; que o Tesouro não vai comprar se o mercado não estiver bom; que o Tesouro não vai comprar se isso for afetar irregularmente as cotações. Depois que saiu a notícia da compra, tudo o mais passa a ser acessório. Enfim, incorporou nas expectativas. Acrescente o fracasso do primeiro leilão das novas bandas de celulares, pelas quais o BC contava com um ingresso de pelo menos US$ 3 bilhões de operadoras estrangeiras. Ponha na panela a perspectiva de recessão nos EUA – o que diminuiria os investimentos de companhias americanas aqui – e vai se formando um quadro de menos dólares entrando, mais dólares saindo, e a cotação sobe… Aí vem o último lance: como o dólar está subindo, o pessoal que vai precisar de moeda americana (importadores, agências de viagens, por exemplo) tratam de antecipar compras. E com mais demanda, a cotação do dólar sobe mais um pouco. Eis aí a coisa toda. No que se refere ao conjunto da economia brasileira, o importante é notar é que altas do dólar não têm provocado impacto significativo na inflação. Há mesmo alguns cálculos dizendo que, abaixo de R$ 2,20, o dólar não causa inflação. Como a meta do governo é com a inflação – 4% neste ano – e como as coisas caminham dentro da meta, qual o problema? Eis por que muita gente acha que a cotação do dólar vai cair logo que houver alguma alteração no humor. Que pode acontecer tão instantaneamente como a variação para pior nos últimos dias. Mesmo porque continuam saindo vários indicadores na outra direção. Por exemplo, que bancos e empresas brasileiras estão aproveitando a queda dos juros nos EUA – e, pois, no mercado internacional – para antecipar captação de recursos lá fora. Mas um dado realmente forte para reduzir a expectativa de alta do dólar seria uma recuperação no comércio externo. Na manhã de terça, o mercado estava assim: dólar em queda, bolsa em alta, juros em queda. Mas mercados mudam. . . .
A ALTA DO DÓLAR E A CONJUNTURA
- Post published:9 de abril de 2007
- Post category:Coluna publicada em O Globo
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