EUA – EXUBERÂNCIA E CAUTELA

. Artigos EXUBERÂNCIA IRRACIONAL-2 OU CAUTELA EXCESSIVA? Em dezembro de 1966, Alan Greenspan, presidente do Federal Reserve, Fed, o banco central dos Estados Unidos, inventou a expressão "exuberância irracional", talvez a mais citada desde então no noticiário econômico. Uma tradução aproximada poderia ser a "farra da bolsa". Greenspan referia-se à valorização excessiva, irracional, das ações, que subiam muito mais do que permitia mesmo o bom desempenho da economia real. Ou seja, o lucro e o desempenho das empresas eram muito bons, mas as suas ações alcançavam valores que refletiam lucros, digamos, virtuais, dez, vinte vezes maiores. Vinha daí oiutra consequência perigosa, o efeito riqueza. Com base nessa valorização das ações – estamos todos ricos, pensavam empresas e pessoas – as companhias e os coNsumidores saíram às compras. Torraram poupança, a valorização e ainda pegaram empréstimos alavancados naquelas ações valorizadas. Eis, exuberância irracional, farra da bolsa. Só que a a farra continuou, as bolsas continuaram subindo e o pessoal torrando dólares, mesmo depois da advertência de Greenspan.. Em especial, a bolsa Nasdaq, das empresas da Nova Economia, disparava como um foguete rumo a Saturno. Tudo em meio à maior zombaria em relação às advertências do Fed. E durante dois anos e meio, Greenspan só advertiu. Afinal, com exuberância e tudo, a economia real seguia em expansão sólida, sem inflação. Até que em junho de 1999, Greenspan agiu: começou a elevar a taxa básica de juros, com o propósito não de derrubar as bolsas mas de desacelerar a economia real, considerada então, no décimo ano de expansão, à beira de um ataque de inflação. A princípio não acreditaram. Ainda em 1999 e início de 2000, o índice da Nasdaq simplesmente dobrou, valorização de 100%! Até que caíram na real – na racional? Na medida em que surgiam os sinais de desaquecimento – depois que as taxas de juros foram elevadas de 5% para os atuais 6,5% ao ano – as empresas mostaravam lucros bem menores, os consumidores refreavam seu ímpeto comprador. As bolsas caíram, Nasdaq simplesmente despencou, devolvendo toda a alta de 99/2000. Em vez de exuberância, racional ou não, passou-se a falar de recessão, falta de crédito, juros altos. Aí vem Greenspan (05/12) e adverte para – imaginem! – "a cautela em demasia", que poderia precipitar uma "desaceleração excessiva nos gastos das pessoas e das empresas". E sugeriu que o Fed pode fazer o caminho inverso, de redução dos juros. Foi um recado mais ou menos assim: o que é isso pessoal? Não era para tanto, não vamos parar a roda da economia, empréstimos, investimento, consumo. Ou seja, nem exuberância racional, nem cautela em demasia. Bom, a economia real demora a reagir, assim como demorou a desacelerar pela redução dos juros. Mas o mercado financeiro é no ato. No mesmo dia (05/12) a Nasdaq subiu 10% de uma tacada, recorde na história da bolsa. É como se fossem maníacos-depressivos: ou estão na euforia ou na depressão. Já na economia real, uma acomodação racional, alguma redução dos juros, enfiam, um pouso suave – isso ajudaria em muito o crescimento da economia brasileira, cujo maior obstáculo era justamente os problemas do pouso americano. Talvez os prognósticos para 2001 estejam em alta.

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