. Fique de olho neste Gol   Convém ficar de olho na Gol, que estreou hoje na aviação civil brasileira com um vôo Brasília/Congonhas e uma proposta contemporânea: oferecer preços 50% menores que os atuais com base não em artifícios e promoções passageiras, mas numa política permanente de eficiência. A idéia não é canibalizar custos – por exemplo, comprando aviões de segunda, mais baratos no investimento inicial, mais caros na operação. A Gol começa com aviões novos e padronizados, seis Boeing 737-700, o que reduz o custo de manutenção. Na operação em terra, a Gol pretende eliminar os bilhetes, aqueles bilhetes gordos, cheios de páginas, não raro preenchidas à mão – que custam caro e torram a paciência dos viajantes. A idéia é fazer reservas e vendas pela Internet ou direto no balcão, mas com a reserva confirmada somente após o pagamento. Isso praticamente elimina uma prática comum por aqui: pessoas e, sobretudo, agências de turismo fazem várias reservas e depois vão eliminando conforme suas conveniências. Assim, poucos dias antes, um vôo está lotado e recusando passageiros. Mas pode acabar saindo com lugares vazios. Nos Estados Unidos, em grande parte dos vôos não há mais bilhetes. O passageiro chega no balcão, paga com cartão e recebe direto o cartão de embarque, ao mesmo tempo o recibo da operação. A Gol vai cobrar taxa de remarcação – 25 reais – utilizará o telefone 0300 (27 centavos a ligação, pagos pelo usuário) e não o 0800, que é pago pela companhia. Finalmente, a proposta é de 100 funcionários por avião, contra os 170 a que se chega em algumas companhias atuais. Mais importante que tudo, o controlador da Gol é o Grupo Áurea, 37 empresas dedicadas ao transporte rodoviário de passageiros, faturamento de R$ 1 bilhão em 1999. O lançamento do braço aéreo foi uma operação cuidadosamente planejada. Profissional. Você que acompanha o noticiário econômico, já tinha ouvido falar do Grupo Áurea? Pois é, como se tem dito aqui, há um Brasil novo e moderno, fora dos tradicionais centros de negócios – o Áurea tem sede em Brasília – que escapa também à mídia. É um pecado. No geral, a mídia mantém o foco nas companhias tradicionais, especialmente naquelas que passam a maior parte do tempo reclamando alguma coisa do governo. Calcula-se que apenas 5 milhões de brasileiros voam regularmente de avião. É muito pouco, um negócio de elite, porque os preços são de elite, caríssimos. Há anos, as companhias tradicionais colocam a culpa pelos preços altos no governo. Há anos, mantêm serviços parecidos e preços muito parecidos, tudo em mercado controlado e protegido pelo governo. E vão deixando para depois as reformas em suas próprias estruturas. Aí aparece a Gol, dizendo que, com preços decentes, o mercado regular pode alcançar 25 milhões de passageiros. Veremos como tudo se passará. Mas note: há basicamente dois tipos de empresários, aqueles que reclamam do governo para pedir alguma favor ao governo; aqueles que reclamam que o governo os deixe trabalhar direito.