. Risco Lula cai e se aproxima do risco FHC Bem resumida, a história dos últimos doze meses foi assim: . o quadro econômico começou a se deteriorar entre março e abril do ano passado, justamente quando a candidatura de Luís Inácio Lula da Silva decolava; . no decorrer das semanas, formou-se a expectativa, com base nos documentos econômicos do PT conhecidos até então, de que o governo Lula daria o calote nas dívidas interna e externa, seguindo-se uma administração desastrosa, tipo Hugo Chavez; . o auge dessa deterioração foi no final de setembro/02; . de lá para cá, o quadro só melhorou na medida em que aquela expectativa extremamente pessimista foi meticulosamente revertida por ações e declarações de Lula e seu núcleo de poder; . o candidato substituiu os textos antigos pela Carta ao Povo Brasileiro, endossou o acordo com o FMI, lançou o “paz e amor” e deu garantias de que não haveria calotes; . eleito, Lula iniciou uma transição sem ruptura, colocou no cenário o surpreendente Antonio Palocci, que iniciou a reformulação da política econômica petista; . já com a faixa de presidente no peito de Lula, o governo prometeu ampliar o superávit primário e cumpriu, prometeu um Banco Central clássico e cumpriu, prometeu se entender com o FMI e cumpriu, prometeu avançar com as reformas e cumpriu; .os indicadores foram melhorando a cada passo e assim chegamos ao momento atual, em que o quadro se aproxima daquele de março de 2002. Claro que houve outros fatores. O cenário externo não foi amigável, a fraude dos balanços nos Estados Unidos gerou uma crise de confiança internacional, com queda dos investimentos e financiamentos mundiais. Em um dado momento, mais ou menos entre julho e setembro, a situação piorou para todo mundo, com a alta do risco país para todos os emergentes (gráfico . . .). Mas piorou mais para o Brasil. Claro que o Brasil tinha suas vulnerabilidades internas e externas, mas as tinha também em março do ano passado, quando o cenário parecia bem tranquilo pouco antes da precipitação da campanha eleitoral. Apresentava também vulnerabilidades até maiores em outras crises, como a da desvalorização do real (final de 1998 e início de 1999). E o risco Brasil jamais se aproximou dos dois mil pontos. No pior momento da era FHC, no começo de 1999, o risco Brasil bateu nos 1.300 pontos. Esse foi o maior risco FHC. Em setembro do ano passado, o risco Brasil alcançou 2.443 pontos e ficou quatro meses acima de dois mil. Esse já era o risco Lula. Não o Lula real de hoje, mas a imagem que aparecia na expectativa negativa, esta, de sua vez, formada com base no passado do PT. Na era do risco FHC, mesmo nos piores momentos, sempre se manteve algum financiamento externo, como os créditos à exportação. Já na era do risco Lula, secou tudo, financiamento externo zero, coisa que jamais havia acontecido. A “herança maldita” que Lula sempre invoca foi basicamente gerada a partir de abril do ano passado pela crise de confiança no futuro governo. Era o risco Lula antes da revisão. E quando o presidente, hoje, comemora a recuperação dos indicadores, como obra de seu governo, está comemorando o fato de ter conseguido dissolver aquela expectativa com a prática de uma política econômica clássica. Com isso, o risco Lula cai para os níveis próximos ao do risco FHC, mas permanecendo ainda um pouco acima e com diferenças. Não se passa impunemente por uma tamanha crise de confiança. A inflação anual, que andava na casa dos 7% em março do ano passado, caminha pelos 15%, basicamente por causa do dólar caro, e se tornou o maior problema, o que levou aos juros mais altos. Em compensação, o real desvalorizado gerou um superávit enorme na balança comercial, permitindo melhora espetacular das contas externas. (Por falar nisso, a cotação do dólar hoje que seria parecida com a de um ano atrás seria algo como R$ 2,80 – os R$ 2,30 de então com mais uns 20% de inflação, numa mistura de preços no atacado e no varejo. Já a Bovespa continua muito atrasada em relação ao início de 2002. No pior momento da era FHC, início de 1999, o índice Bovespa em dólares ficou nos 4 mil pontos. Em setembro do ano passado, já sob a expectativa Lula, caiu a 2.300 pontos. Agora alcançou 3.400, recuperando-se, mas ainda atrasado). Uma coisa pela outra, porém, pode-se garantir que a crise de confiança foi superada. Todo mundo sabe que o governo Lula está a anos luz de um regime de esquerda populista.E como o governo Lula pode avançar daqui em diante na área econômica? O ponto chave é fazer as reformas que FHC não conseguiu terminar, especialmente a da Previdência. Se isso andar, o risco Lula cai abaixo do risco FHC. E o país voltaria a crescer. Publicado em O Estado de S.Paulo, 28/04/2003
RISCO LULA E RISCO FHC
- Post published:9 de abril de 2007
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