O MUNDO AGORA AJUDA O BRASIL

. Mundo a favor O cenário externo é, de novo, favorável ao crescimento nos países emergentes, incluído o Brasil. O último relatório da OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico, que reúne os países industrializados) afirma que está em curso uma “recuperação palpável” no mundo rico, com boas perspectivas para 2004 e 2005. A análise coincide com os prognósticos da revista Economist, que prevê uma aceleração do crescimento no próximo ano para todos os 15 países ricos que acompanha semanalmente, exceto um, o Japão. Ainda assim, se espera um número positivo para o Japão, expansão do Produto Interno Bruto de 1,8% em 2004, uma desaceleração em relação a este ano, com esperados 2,2%. Para a OCDE, o Japão manterá o mesmo ritmo de crescimento nos próximos dois anos. Assim, no conjunto, está muito bom para um país que amargou anos de recessão. Mais importante, porém, é que a mais sólida recuperação se observa nos Estados Unidos, a maior economia do planeta com seu PIB acima dos US$ 10 trilhões, o maior importador do mundo. Para a OCDE, os EUA crescem 4,2% no próximo ano (o que dá quase um Brasil inteiro em apenas 12 meses) e mais 3,8% em 2005. Para Economist, 3,9% em 2004, acelerando forte em relação aos 2,8% previstos para este ano. Para o conjunto dos países da OCDE, a previsão é de expansão de 3% nos próximos dois anos, um ganho de um ponto em relação a 2003. Também são positivos os prognósticos para os Tigres Asiáticos, onde se encontram muitos fregueses das exportações brasileiras. O mundo desenvolvido em crescimento significa mais comércio externo e, pois, mais mercados para os emergentes. Representa também mais investimentos externos diretos, primeiro entre eles, os industrializados, e depois sobrando para os países em desenvovimento. Além disso, a atual recuperação entre os países desenvolvidos se dá em ambiente de inflação muito baixa e taxa de juros idem. Portanto, há um barateamento dos financiamentos internacionais e muito dinheiro para os emergentes. Explica-se: um título do governo americano de dez anos, de segurança máxima, está pagando a mixaria de 4,22% ao ano, menos IR e comissões. Num mundo conturbado, à beira de crises ou coisa pior, a segurança compensa. Em um cenário de expansão, sem problemas à vista no curto prazo, vale procurar rentabilidade melhor, que se encontra, por exemplo, nos países emergentes. Na semana passada, a Petrobrás anunciou uma megacaptação de US$ 750 milhões no mercado internacional, com prazo de 15 anos, e pagando juros inferiores aos pagos pelos papéis do governo (Tesouro) brasileiro. Mas ainda 4 pontos percentuais acima dos títulos americanos. Faz todo sentido para o investidor. Petrobrás é uma multinacional de um ramo que dá muito dinheiro. Seria risco elevado se o governo brasileiro, que é o dono da companhia, estivesse usando a empresa para fins políticos, por exemplo, trabalhando com prejuízo em países amigos ou vendendo gasolina a preço de banana. Como, ao contrário, o governo Lula parece disposto a extrair o máximo lucro da Petrobrás, os acionistas privados e investidores internacionais esfregam a mão e tratam de participar do bom negócio. Tem sido assim. Bancos e boas empresas brasileiras têm encontrado cada vez mais facilidade para tomar financiamentos externos, a taxas cada vez mais convidativas. Claro, não vale apenas para o Brasil. Todos os emergentes pegaram essa onda. As bolsas se valorizaram no mundo todo. Na Tailândia, valorização de 91%, em dólar, neste ano. Rússia, 50%; Chile, 64%; India, 51%, e por aí vai. O risco país também caiu para todos. Na média dos principais países emergentes, o risco saiu de 650 pontos um ano atrás para 450 hoje. Isso incluindo os papéis brasileiros, o que distorce um pouco a conta. O ano passado foi ruim em geral. Todos os países emerentes pioraram em consequência de um cenário externo extremamente desfavorável. O mercado internacional simplesmente secou. O Brasil, porém, piorou mais, pois combinou a má influência externa com uma enorme crise de confiança gerada pela expectativa de que Lula faria um governo pior que o de Hugo Chavez. Hoje, a situação é exatamente a inversa. O cenário externo favorece, e muito, e o governo Lula navega numa política econômica clássica que recuperou a confiança e debelou a crise. Assim, a situação melhora para todos os países emergentes pelos bons ventos externos. E melhora mais no Brasil, pela soma da recuperação interna. A Bovespa, por exemplo, valorizou 110% em dólar neste ano e o risco Brasil tem caído mais que os outros. Tudo considerado, o governo Lula está diante de uma enorme janela de oportunidades. O exterior vai entrar com investimentos, financiamentos e mercados. Mar tranquilo no lado das contas externas. Internamente, sem inflação e com juros em queda, mais a reforma da Previdência e Tributária, sendo que esta é ruim mas ajeita as contas públicas, está criado o ambiente para o Brasil também entrar no processo de “palpável recuperação”. É só correr para o abraço? Talvez até dê para fazer isso por enquanto, mas a médio prazo, não. O Brasil melhorou mais que os outros, mas vindo de um buraco mais fundo. O risco Brasil, na faixa dos 500 pontos, apenas um terço do que era no ano passado, ainda é o dobro do risco México ou Rússia. Os juros reais já estão abaixo dos 10% no Brasil, mas continuam quatro pontos acima do comparável com outros emergentes. E assim vai, indicando que o Brasil precisa continuar na direção de reduzir seu endividamento público e aumentar o comércio externo. As exportações deram um salto neste ano, mas ainda são necessários quase três anos de vendas externas para “pagar”a dívida externa. O México precisa de menos de um ano. Há muito serviço pela frente. O momento é favorável, mas continuamos dependendo, no essencial, de boas políticas locais. A bola está com a gente, para ganhar ou para perder. Publicado em O Estado de S.Paulo, 08 de dezembro de 2003

Deixe um comentário