O BRASIL E OS TIGRES ASIÁTICOS – FINAL DA SÉRIE

. A ditadura deles foi melhor (3 e final) O Brasil e os Tigres Asiáticos Tudo começou com a observação segundo a qual estava crescendo no Brasil a demanda por mais intervenção do Estado na economia, quer distribuindo subsídios, incentivos e proteção a empresas locais, quer aumentando o gasto público direto nas áreas sociais. A tese se sustenta no exemplo dos Tigres Asiáticos, onde essa intervenção sempre foi forte, e também nos vários casos de subsídios espalhados pelo mundo afora, inclusive nos países desenvolvidos. O resumo dessa história era mais ou menos o seguinte: chega de liberalismo ou neoliberalismo, vamos voltar aos bons tempos de intervenção do Estado. O problema, comentávamos aqui no artigo de 12 de março último, é que no Brasil o Estado sempre interveio pesadamente na economia. Tudo que os Tigres fizeram, nós fizemos: dinheiro público para financiar setores privados selecionados pelo governo, proteção à empresa nacional, setor financeiro amplamente controlado pelo Estado, pesados investimentos públicos em infra-estrutura e constituição de inúmeras estatais com ampla ação sobre o conjunto da economia. Inclusive, como eles, passamos por ditaduras e regimes militares. E obviamente o desempenho dos Tigres foi melhor, especialmente nos casos da Coréia, Cingapura e Taiwan. Sim, são paises bem menores, com menos disparidades, até certo ponto mais fáceis de governar. Por outro lado, o fato de serem pequenos – com mercado interno reduzido – era até um obstáculo à criação de multinacionais, gigantes industriais com marcas próprias e atuando no mundo todo. Mas conseguiram. Ou seja, “a ditadura deles funcionou melhor”, tal era o título do artigo publicado em 12 de março, com a pergunta: por que teria sido assim? Recebemos diversos emails de leitores propondo as respostas. Um resumo dessas colaborações apareceu no artigo de 19 de março (A ditadura deles funcionou melhor-2). Hoje, encerramos o caso. Quer dizer, o caso não, pois esse debate não termina nunca. Mas podemos encerrar a série – mesmo porque há outros assuntos chamando a atenção – resumindo alguns pontos em que eles, os Tigres, fizeram a coisa certa e nós não. Um primeiro ponto tem a ver com a concepção de país. De algum modo, sempre circulou por aqui a idéia de que um paisão desse tinha que ser auto-suficiente, se não em tudo pelo menos nos setores considerados essenciais. Assim, em vez de comprar trigo barato da Argentina – então considerada uma inimiga potencial – ou dos Estados Unidos e Canadá, gastou-se dinheiro para subsidiar um trigo nacional, de pior qualidade e mais caro. Com essa visão ainda, os subsídios públicos foram distribuídos por muitos setores, nas diversas áreas da economia. Não houve foco naquilo que o país poderia ser mais competitivo internacionalmente, mesmo porque se entendeu durante muito tempo que o certo era produzir para o mercado local. Ou seja, um país fechado – aqui produzimos, aqui consumimos. Já os Tigres tiveram o foco voltado para a exportação, especialmente destinada aos países desenvolvidos. De algum modo, entenderam que a chave do crescimento rápido é vender para os ricos, ganhar dinheiro com isso e assim criar o mercado local. Além disso, exportar para os países desenvolvidos exige que a indústria local produza bens de qualidade e preço internacional. Assim, o governo dava o subsídio, mas exigia metas de exportação e conquista de mercados externos. Não cumpridas estas, a empresa perdia a mamata oficial. E para cumpri-las precisava se tornar eficiente globalmente. Aqui, inventou-se até um “Fusca pé de boi”, um carro que era só lata, mal trazia os bancos. Estava muito bom para os brasileiros… Errado, completamente errado. Era preciso ter forçado a produção de bens de consumo de qualidade internacional, de alto valor agregado. Por razões semelhantes, não há no mundo uma marca dominante de café brasileiro de qualidade. Em resumo, empresários locais receberam dinheiro público para produzir carroças caras. Ficaram ricos eles, não o país. Foi um tipo de privatização da poupança nacional. Isso já conta boa parte da história. Uma outra parte tem a ver com os gastos públicos diretos, especialmente no que se refere à educação. O Brasil nisso é um completo fracasso. Comparem. Em 1960, Brasil e Coréia do Sul tinham um problema muito parecido, mão de obra pouco educada. Aqui, 90% dos trabalhadores tinham menos de oito anos de escola. Lá, 80%. Trinta e cinco anos depois, o Brasil ainda tinha 80% da mão de obra com menos de oito anos de estudo. A Coréia havia reduzido para 20%. Mais importante: ao longo desses anos, os dois países gastaram aproximadamente a mesma coisa com educação pública, em relação ao Produto Interno Bruto (PIB). Ou seja, o gasto deles foi muito mais eficiente. Uma das razões foi a concentração de esforços na educação primária e secundária. No Brasil, apenas metade dos gastos públicos vai para essa educação fundamental. Na Coréia, 80%. Eis uma tabela recente, publicada pela OECD (a entidade dos países ricos), do documento “Education at a glance”, do ano passado. Gasto por aluno nos três níveis de ensino (US$)  

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