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Moro e Dallagnol

Moro e Dallagnol

 

Carlos Alberto Sardenberg

 

A entrada de Sérgio Moro e Deltan Dallagnol para a política tem suscitado dois tipos de interpretação.

Para a  primeira, dos petistas, dos seus advogados, dos políticos processados e de juízes como Gilmar Mendes, uma turma só, o movimento demonstra que a Lava Jato era desde sempre um partido político. Embora não seja a regra no Brasil, partidos devem ter programa. E qual seria o programa da Lava Jato, segunda esta versão? Acabar com o PT,  os políticos tradicionais e o Judiciário a eles ligados de algum modo.

E colocar o que no lugar?

Aí já é querer demais dessa tese e desse pessoal.

A segundo interpretação segue assim: Moro e Dallagnol acharam que a corrupção era o maior problema político do país. Isso mesmo: uma política feita à base de compra de favores do  Estado e dos partidos não pode nunca representar a vontade do povo. Logo, combater a corrupção é, sim, uma ação política.

A Lava Jato tentou isso pelas vias judiciais. E obteve grande sucesso. Ou por acaso nunca existiram R$ 54 milhões em dinheiro vivo num apartamento de Gedel Vieira Lima? Ou por acaso Antônio Pallocci não devolveu milhões para os cofres públicos? Ou por acaso a Petrobrás não recebeu de volta mais de R$ 6 bilhões, entregues pelos que a haviam roubado? E nem existia o departamento de propinas da Odebrecht, conforme confessaram seus donos e executivos?

Mas o pessoal da Lava Jato não contava com a capacidade de reação da Corte de Brasília – como denomino esse conglomerado de políticos, membros variados do Judiciário, lobistas, donos de grandes empresas e, como se viu no episódio das compras de vacina no governo Bolsonaro, de um bando de picaretas de quinta categoria.

(Dia desses, depois de um artigo criticando essa Corte, recebi telefonema de um juiz do STF me perguntando: “você acha que por ser amigo de políticos não tenho isso isenção para julgá-los”? Respondi: “Acho sim”. Ficou ofendido).

Começou o persistente trabalho de desmonte não apenas da Lava Jato, mas de todo o sistema de combate à corrupção, como o fim da prisão após condenação em segunda instância.

Nesse momento, Sérgio Moro cometeu um grave erro de avaliação. Convidado pelo então presidente eleito Jair Bolsonaro para o Ministério da Justiça, fez uma série de exigências: controle do COAF, que captava as operações financeiras suspeitas, autonomia total da Polícia Federal, cujos chefes ele, Moro, escolheria  e a proposta de numa legislação de combate à corrupção. A República de Curitiba se instalaria em Brasília.

Bolsonaro entregou tudo. Até dá para entender a tentação de Moro. Mas não dá para entender  que acreditasse na palavra de Bolsonaro.

Atenção, não foi por falta de aviso, inclusive deste colunista. Em 27 de setembro de 2018, antes do segundo turno, publiquei aqui mesmo ao artigo “Voto impossível”. Dizia: “eleger Fernando Haddad é absolver Lula e condenar a Lava Jato; eleger Bolsonaro é absolver o capitão da direita radical e populista e condenar a tolerância política e moral”.

Moro saiu a tempo do governo– e saiu atirando. Mas vai ter que falar disso durante toda a campanha em que vier a entrar.

Dallagnol, não. Vai direto para uma provável candidatura a deputado federal.

Tudo considerado, os dois entenderam – e esta me parece a visão correta – que se estavam sendo destruídos pela velha política, só restava um meio de defesa: entrar para a política partidária.

Sim, não basta entrar com a Lava Jato. Precisam apresentar programas e propostas para o país,  além do combate à corrupção, apesar deste eixo ser fundamental.

Ou está certo essa descarada compra de votos para a aprovação da PEC dos precatórios?

Aliás, Moro já fez uma boa intervenção: comentou, na revista Crusoé, que depois de liquidar o combate à corrupção o governo Bolsonaro e o Centrão de Artur Lira querem acabar com o Plano Real.

Lulistas chegaram a dizer que Moro não tem condições éticas de se candidatar. Mas acham políticos condenados, réus e processados podem gastar o dinheiro público e fazer leis de “improbidade”.