. –É uma pilhagem o sistema de credenciamento de bancos no crédito consignado para funcionários—-
Vamos imaginar que sejam todos honestos e bem intencionados. Ainda assim, é uma pilhagem essa prática pela qual órgãos públicos credenciam bancos e seguradoras para que concedam empréstimos e façam seguros para seus funcionários. Esse credenciamento só serve encher os bolsos daqueles que, de sua vez, são credenciados para agenciar o credenciamento das instituições financeiras.
Considere o crédito consignado, uma modalidade de empréstimo pessoal com desconto em folha. O funcionário do Senado toma um dinheiro no banco e, quando recebe seu salário, já vem descontado o pagamento do empréstimo. O Senado, no caso, manda os recursos direto para o banco.
O objetivo é reduzir os juros, o que se consegue pela simplificação do processo e pela virtual eliminação do risco. É algo de interesse dos funcionários, que obtêm empréstimo mais barato, e dos bancos, que têm acesso a clientes bons.
Ora, quando se coloca o credenciamento, os custos sobem, mesmo que a operação seja totalmente correta, sem pagamentos por fora. O banco, de um modo ou de outro, acaba pagando o agente credenciador. E paga por nada. Mas cobra na forma de juros e/ou taxas.
Qual sentido faz credenciar o Bradesco ou o Itaú-Unibanco? Por acaso se desconfia da capacidade desses bancos? Mas digamos que fizesse sentido essa cautela. Sabe como é, há uma crise financeira em andamento, grandes bancos quebraram no mundo. Mesmo assim, seria a empresa do neto do Sarney capacitada a avaliar esse risco?
Além disso, indo pelo absurdo, suponha que um bancão desses quebrasse depois de conceder milhões de empréstimos aos funcionários do Senado? Qual o problema? Os funcionários seriam devedores, não credores!
Ou seja, o sistema todo (incluindo legislação e administração) deveria garantir a liberdade de escolha do funcionário e o máximo de competição entre os bancos, cujo funcionamento, aliás, é autorizado e fiscalizado pelo Banco Central
Isso posto, o mercado faz o resto. Os bancos tratariam de disputar cliente por cliente. É muito simples, não precisa de mais nada. Alguns alegam que é preciso proteger os funcionários de um eventual abuso dos bancos. Bobagem, ainda mais de tratando de pessoal de nível qualificado. Com competição e transparência, cada um saberá escolher o melhor negócio.
Tudo considerado, quando se introduz credenciamento, intrermediação e tudo o mais, é o velho sistema descobrindo mais uma maneira de meter a mão no dinheiro dos outros.
Mesmo que seja tudo legal ? por exemplo, com comissões pagas na nota fiscal ? trata-se de uma pilhagem. Mas pode apostar que tem muito mais que isso. A velha história se repete aqui: quando se cria uma dificuldade …
Ou seja, é preciso investigar todas essas operações de credenciamento, em todo o setor público. E convém também examinar as operações no setor privado com intermediação dos sindicatos.
Não tem casas
O governo federal foi muito eficiente na propaganda do programa Minha Casa Minha Vida. É verdade que nem precisava muito. Todo mundo quer morar na casa própria. Quando o governo anuncia que vai ter para todos, a festa está feita.
E foi esse o sentido das propagandas feitas pelo governo federal. Funcionou. Prefeituras, que devem credenciar as famílias de baixa renda, passaram a receber milhões de consultas. As construtoras, que também organizam cadastros de futuros compradores, tiveram seus sites congestionados.
E não vai ter casas para todos.
Nas grandes regiões metropolitanas, por exemplo, é capaz de não ter nada, especialmente para as famílias com renda de até três salários mínimos. Simplesmente não há mais terrenos a preço compatível.
Segundo estimativas comumente aceitas, há um déficit ou uma demanda reprimida de 7 milhões de moradias. A Câmara Brasileira da Indústria da Construção calcula que, dando tudo certo e a tempo, o programa do governo garantirá a construção de 700 mil moradias até o final do ano que vem. Mas já há atrasos na Caixa Econômica.
Resumo: milhões de pessoas vão procurar, entrar na fila e não serão atendidas. E não o serão no ano eleitoral de 2010.
Aguardem a distribuição das culpas.
Apoio firme
E o presidente Lula, hein?
Arrancou dos ditadores da África um sólido compromisso com a democracia de … Honduras.
O velho contra o velho
O PT afirma manter seu compromisso com a mudança na direção de um Brasil do povo, retirando-se do poder as oligarquias políticas e econômicas.
Só que, segue o raciocínio, para fazer as mudanças é preciso ter maioria política, a qual depende de uma aliança com as oligarquias. Por isso, o PT sustenta Sarney.
Entenderam? As oligarquias vão ajudar o PT e Lula a destruírem as oligarquias.
Publicado em O Estado de S.Paulo, 06 de julho de 2009