Tem uma maneira fácil de ser campão em tudo: escolher bem os adversários, um para cada tipo de jogo. Taxa de desemprego, por exemplo. A do Brasil é de 5,4%, contra o desastre de 27,6% na Grécia. Fácil.
Querem competir em inflação? Pois o principal índice brasileiro, o IPCA, mostra alta de preços de 5,8% nos últimos doze meses. Vamos deixar de lado a Venezuela, cuja inflação passa dos 50%. Seria covardia pegar um país tão desorganizado. Mas considerem a Índia, que não está numa fase muito boa, mas trata-se de um Bric grande: preços subindo ao ritmo anual de 10%. E aliás, com taxa de desemprego também na casa dos 10%, de modo que o Brasil ganha nos dois quesitos.
O que mais? Crescimento da economia? O Brasil não está lá essas coisas, mas pode salvar uma expansão do PIB de 2,5% neste ano. A Grécia, para voltar ao saco de pancadas, está andando para trás. Seu produto vai encolher espantosos 4%. Querem outro, grandão? A Alemanha deve crescer neste ano magérrimos 0,5%. Os EUA talvez consigam uns 2%.
Poderíamos seguir indefinidamente com essa história. Mas não vale a pena. Esses números, assim jogados, não contam a verdadeira história dos jogos. Mesmo porque pode-se fazer a comparação contrária.
Taxa de desemprego, por exemplo, uma bandeira sempre desfraldada pela presidente Dilma. E não, a taxa brasileira não é a menor do mundo, nem dos emergentes, nem da América Latina.
Japão e China, com 4%, oferecem proporcionalmente mais empregos a seus cidadãos. Na Coréia do Sul, a taxa de desemprego é ainda menor, 2,8%. No México, 4,9%.
Em boa parte do países, o desemprego está em queda em consequência da recuperação, ainda que moderada, da economia global. Nos EUA, por exemplo, essa taxa, que encostou nos 10% na sequência da crise financeira, já caiu para 7,3% e a tendência é de baixa.
Portanto, não é exato dizer que o Brasil gera empregos num mundo que destrói vagas – como sugeriu a presidente Dilma várias vezes nesta semana.
No quesito inflação, é até fácil encontrar adversários com taxa menor que a brasileira. Querem países grandes e ricos? Pois então: EUA, com inflação anual de 1,2%, mesmo número da Alemanha. O Japão vai de 1,0%. Comparar com emergentes? Pois a China mantém preços subindo, também em ritmo anual, na faixa de 2,5%. Entre os países importantes da América Latina, tirante Argentina e Venezuela, todos registram inflação menor – e bem menor que a brasileira. Tanto é verdade que esses países, como Chile, México, Peru e Colômbia, estão reduzindo suas taxas de juros para turbinar o crescimento. Já no Brasil, mesmo precisando acelerar a economia, os juros estão subindo porque o governo relaxou no controle da inflação.
E por falar em crescimento, aqueles latino-americanos, exceto o México, vão mais rápido que o Brasil. Chile e Colômbia crescem pouco mais de 4% ao ano, Peru vai a 5%. Fora da região, a Coréia do Sul tem expansão em torno de 3% – bem melhor que os 2,5% brasileiros, pois se trata de um país com renda mais alta.