Incertezas?

. O argumento contra a redução da taxa básica de juros ? de 19% ao ano desde setembro último – se baseia em quatro incertezas em relação ao cenário de curto prazo, duas internacionais, duas nacionais. São incertezas sobre: 1. preço internacional do petróleo 2. juros americanos 3. reajuste de tarifas públicas locais 4. reajuste do salário mínimo. Seriam mesmo incertezas? Petróleo ? No próximo dia 27, portanto depois da reunião do Banco Central que decide sobre os juros, esta no dia 22, a Organização dos Países Exportadores de Petróleo, Opep, resolve se aumenta ou não a produção. Sob pressão dos Estados Unidos, há uma forte corrente na Opep a favor de um pequeno aumento na produção, de modo a estabilizar o preço do barril um pouco abaixo dos 25 dólares. Está hoje em 27 dólares, tendo ocorrido picos de 31 dólares. Nas circunstâncias, o pior que pode acontecer é a manutenção dos atuais níveis de preços. Se for assim, é possível que seja necessário mais um aumento de preços de combustíveis no Brasil ? mas esse reajuste adicional já está incorporado nos cálculos da inflação futura. E os cálculos mostram que mesmo assim a inflação fica dentro da meta deste ano, 6%, com tolerância de dois pontos para cima. Juros americanos ? o banco central americano decide antes, no dia 21. Todos esperam uma alta de 0,25 ponto percentual, algo a ser absorvido sem maiores problemas. Reajuste de tarifas ? Trata-se especialmente de energia elétrica e telefones. Os contratos de privatização previram reajustes anuais, com base no IGP-M, que, por incluir preços no atacado, foi bem mais elevado do que os índices de preço ao consumidor. A safra de reajustes começa em abril e vai até julho, concessionária por concessionária. Mas a inflação, inclusive a mesmo a do IGP-M, está em queda. Na verdade, os cálculos de inflação futura já incluem esses reajustes, até um pouco maiores do que tem sido na realidade. As contas batem no seguinte ponto: o reajuste de tarifas faz uma barriga na inflação no segundo e terceiro trimestre, mas não atrapalha a meta anual. Reajuste do salário mínimo ? há uma pressão política por um reajuste de 30%, o que destruiria as contas da Previdência e daria impacto forte no IPCA, o índice do IBGE que é o utilizado para a meta oficial de inflação. Esse IPCA, no item empregado doméstico, não tem pesquisa de campo. Considera que todos os empregados ganham pelo mínimo, de modo que aplica ao índice o reajuste integral do mínimo. Acontece, entretanto, que o presidente FHC já disse que o reajuste do mínimo será dentro dos parâmetros permitidos pelo ajuste fiscal e pelo combate à inflação. A oposição e o neo-PFL não têm força para impor um reajuste maior. Ou seja, incertezas sempre haverá. Se o BC pretende esperar um cenário só de certezas, não vai reduzir os juros nunca. É preciso considerar, portanto, o grau das incertezas ? e aquelas quatro relacionadas parecem meio fraquinhas. E a favor da queda dos juros já relacionam-se os seguintes fatores: inflação em queda, retomada não explosiva da atividade econômica, contas públicas controladas, juros em queda nos títulos brasileiros no exterior e no mercado local. Por exemplo, a taxa média de swap DI x pré de um ano era de 25% quando o BC interrompeu a trajetória de queda dos juros básicos nesse ponto de 19%. De lá para cá, a taxa swap pré veio caindo e chega um pouquinho abaixo de 19% às vésperas da reunião do BC. Parece que o balanço das incertezas está mais para reduzir do que para manter juros.

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