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Haja desafios

Haja desafios

 

Carlos Alberto Sardenberg

 

 

O Brasil avança no processo eleitoral em um momento particularmente desafiador para o mundo todo. Há mudanças substanciais na política e na economia. Algumas estavam em andamento antes da pandemia e da invasão da Ucrânia, mas estes dois últimos eventos mudaram o curso da história. Não vai ser fácil para ninguém, mas será pior aqui.

O Fundo Monetário Internacional acaba de publicar seu Panorama Econômico, que pode ser assim resumido: mais inflação e menos crescimento, em todos os países.

Só por aí já se poderia ver que o quadro é estranho: se há muita inflação, isso deveria ser resultado de, digamos, um excesso de crescimento. E isso seria corrigido pela ação dos bancos centrais que, elevando juros, colocariam um freio no crescimento e, pois, na inflação.

Ou seja, haveria menos crescimento, mas em compensação, menos inflação. Teremos, entretanto,  mais inflação com menos crescimento.

E não é apenas inflação. Os índices batem recordes históricos. Na Inglaterra, a inflação anual saltou para 7% em março, a maior  em 30 anos. Na Alemanha, foi para 7,3%, o índice mais elevado em 40 anos.

Para o mundo, o FMI prevê uma inflação de 7,4% para este ano, quase o dobro da projeção anterior.

A pandemia foi recessiva. A reação dos governos – gastar montanhas de dinheiro para apoiar pessoas e empresas – e dos bancos centrais – calibrando juros baixíssimos, estimuladores da tomada de empréstimos – foi providencial a um determinado momento, mas, sim, gerou inflação.

Hoje, os bancos centrais estão elevando juros e os governos, reduzindo estímulos.

Ocorre que apareceu outra inflação quando a pandemia arrefeceu. A economia voltou a funcionar, mas como fábricas e serviços tinham sido paralisados, as cadeias produtivas não deram conta de abastecer o mundo. Faltaram produtos e insumos, preços subiram.

E quando parecia que as coisas poderiam se arrumar, a invasão da Ucrânia pela Rússia trouxe outra inflação: de combustíveis e alimentos.

São, portanto, três causas bem diferentes de altas de preços. Dá-lhe juros. Mas quanto será suficiente? A tempo?

Fato político decorrente: populações insatisfeitas no mundo todo.

Para a expansão do PIB global neste ano, o FMI espera 3,6% – uma forte desaceleração em relação aos 6,1% obtidos em 2021. A recuperação pós-pandemia foi abortada. E para 2023?

Vai saber. O Fundo prevê que o crescimento continuará muito baixo, assim meio no chute. Não se sabe o desfecho da guerra, para a geopolítica global, e não se sabe se as políticas anti-inflacionárias vão funcionar.

Combustível caro, alimentos pela hora da morte, juros na lua – eis um coquetel explosivo.

Coloque o Brasil nesse panorama: como todos, temos inflação muito alta, juros subindo e crescimento desacelerando em relação ao ano passado.

Mas temos mais – para pior. No lado do governo, pode-se dizer que, funcionando mesmo com dignidade,  está o Banco Central. Mas não poucos observadores notam que o BC também pode ter perdido o tempo para iniciar a alta de juros. O resultado é que a inflação dura mais – pesando mais para os pobres – e os juros terão que ser mais elevados, bom para os rentistas, ruim para o resto.

Além disso, o governo é um desastre. Não tem política de energia (exceto a de trocar presidentes da Petrobras) e não faz a menor ideia de como retomar crescimento.

Na oposição, o líder, Lula, enfileira velhas ideias que levaram à recessão com inflação – um espanto! – e com o Estado saqueado.

E nenhum lado sabe onde o Brasil deve se colocar no quadro global.

Precisamos urgentemente de ideias e líderes.

 

Lava Jato

O Superior Tribunal de Justiça confirmou nesta semana a condenação de José Dirceu a 27 anos de prisão por corrupção, lavagem de dinheiro e associação criminosa.

Sabe de onde vem o processo?

Pois é, tem um restinho de Lava Jato por aí.

A condenação foi em terceira instância, mas como o STF derrubou a prisão em segunda instância, Dirceu fica livre enquanto tiver recursos. E deve ter melhor sorte no STF.