EUA – O SUSTO DA SEXTA

. EUA – O CENÁRIO PIOROU. PARA O BRASIL, E PARA O MUNDO, TAMBÉM Para boa parte dos brasileiros, esta semana (a partir de 19 de fevereiro) é pré-carnaval, de modo que o clima é de desaceleração. Nos Estados Unidos, a semana começa com feriado – o dia do presidente – o que dá ao mercado financeiro uma folga para respirar depois do desastre da última sexta, 16. No resto do mundo, o clima é de muita apreensão com a economia americana. A última sexta-feira não caiu num dia 13, mas pareceu. Na maior economia do planeta, registrou-se uma sinistra combinação de indicadores. Alguns esperados, como aqueles que mostram a desacelaração dos Estados Unidos – empresas anunciando prejuízos e cortando investimentos, queda da atividade industrial, consumidores arredios, sem disposição para ir ao shopping. O que complicou tudo foi o índice de preços no atacado para janeiro, que bateu 1,1%, simplesmente a maior alta mensal desde setembro de 1990. O núcleo do índice – que exclui os preços muito voláteis de energia (gás e petróleo) e alimentos – subiu 0,7%, também muito acima do número esperado pelas analistas. Como sempre nesses casos, há diversas ressalvas a fazer. O método de cálculo do índice foi alterado e janeiro foi a primeira medida conforme o novo padrão. Há, portanto, alguma distorção técnica. Por outro lado, a alta esteve concentrada em três itens, tabaco, gás natural e automóveis. Faz sentido, mas é aquela história: quando você começa a discutir sobre o que vale e o que não vale em um índice de inflação, a situação já piorou. No caso, a interpretação dominante até aqui dizia o seguinte: a economia americana está em forte desaceleração, mas o Federal Reserve, o banco central, já sabe disso e está cortando juros para reanimar empresas e consumidores. Mais alguns cortes e, com financiamenmto mais barato e crédito disponível, a economia deveria voltar a crescer já no segundo semestre. Ou seja, haveria uma desaceleração (ou recessão) moderada e breve. Mas se os preços estão em alta, isso complica tudo. O objetivo básico do banco central, sempre, é manter a moeda estável. Ou seja, impedir a inflação. Como se faz isso? Com juros altos e restrição de crédito. O leitor, a leitora já perceberam. Essa política monetária anti-inflação simplesmente aprofunda a recessão. De maneira que o Federal Reserve cai num dilema insolúvel: precisa reduzir juros para bloquear a recessão; e precisa elevar juros para combater a inflação. Acrescente aí o bombardeio do Iraque – da última sexta – e piorou de vez: subiram os preços do petróleo, porque o Iraque é um dos maiores exportadores e conta com a solidariedade de outros produtores. Petróleo caro é mais inflação. Note: nada disso é definitivo. Podem ter sido apenas indicadores de uma semana, de uma quinzena. Mas o que assusta é que aquele cenário de desaceleração suave agora com recuperação no segundo semestre não é tão certo como se imaginava. Fechados os mercados na última sexta – aqui com a bolsa caindo 4% e o dólar passando de novo dos 2 reais, acompanhando desastres pelo mundo afora – ficou a amarga sensação de que as coisas podem piorar. De repente, o pior cenário – inflação com recessão nos Estados Unidos – que nem entrava nas análises, mostrou sua cara. Nada amistosa. Para o Brasil, uma desaceleração nos EUA com juros baixos em dólar constitui um cenário muito bom. Exporta-se menos para lá, mas em compensação os juros baixos aliviam os pagamentos referentes à dívida externa e facilitam o acesso de empresas brasileiras a financiamento internacional. Além disso, como a economia aqui está crescendo, é possível receber investimentos de empresas e fundos que procuram alternativas. Como a exportação brasileira não é concentrada nos Estados Unidos, a compensação dos juros baixos é maior. Juros altos no mercado internacional estraga tudo. Portanto, atenção redobrada aos próximos indicadores americanos. Na próxima quarta, sai o índice de preços ao consumidor, a medida da inflação propriamente dita. Saem também índices de desemprego e de vendas no varejo.  

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