. Artigos CUSTO BRASIL – VOCÊ SABE O QUE É QUANDO VAI ADMINISTRAR UMA FÁBRICA OU UMA EMPRESA DE TECNOLOGIA. Veja estes casos: De um executivo do setor de plásticos que trabalhou na Espanha, no Chile e agora está no Brasil, comparando a estrutura de produção em uma fábrica idêntica: "Na Espanha são 200 trabalhadores na linha direta de produção, ganhando cerca de US$ 1.500. Na administração e gerência, são uns 50, com o pessoal de cima ganhando até cinco vezes mais que os operários. No Brasil, são 300 na linha de produção, porque é mais complicado, o pessoal é menos produtivo. E ganha muito pouco. No meio, vão mais de cem pessoas, também porque é mais complicado, especialmente na administração tributária e trabalhista. Esses da gerência ganham até 20 vezes mais que os operários. E por falar nisso, um dos problemas de negociação salarial no Brasil é que os sindicatos reivindicam reajuste uniforme para todos e a legislação vai nesse sentido. Mas deveria ser diferenciado, bem maior para os de baixo, quase nada em cima". Isso aí é Custo Brasil. Nos períodos de crise econômica, quando contas públicas, juros e taxa de câmbio estão fora de lugar, toda a atenção se concentra nessas questões macro. Uma vez que estas são encaminhadas, porque resolvidas nunca serão, parece que a crise passou e agora é só tocar o pau na produção. Entretanto, mesmo que a crise tenha passado, restam as questões micro, uma trava ainda mais difícil de desarmar. Trata-se daquilo que tem a ver com a organização da produção. Legislação trabalhista, por exemplo. Quando se fala em flexibilização, a reação logo aparece: isso é coisa do FMI, da globalização, do imperialismo. Agora, vai administrar uma fábrica e verá por que a empresa só contrata quando tem certeza total de que vai mesmo precisar daquele serviço. Pior ainda: tente administrar uma dessas empresas contemporâneas, pequenas, detentoras de alto conhecimento tecnológico, que prestam serviços a terceiros. Uma empresa dessas, num dado momento, precisa de apenas dez pessoas para bolar alguma novidade. E depois precisa de 100, para implantar essa novidade, por exemplo, um novo sistema de comunicação, para um grande cliente. Com a atual legislação brasileira, é quase impossível ter essa flexibilidade sem incorrer em um passivo trabalhista – que é custo Brasil. O mesmo vale para a administração tributária. Uma combinação de impostos elevados e sistema tributária complicado é um estímulo à informalidade – e esta tem custos e gera ineficiências. Outro dia, o executivo de uma fábrica de máquinas para tratamento de plástico me dizia que não conseguia vender para um grande número de empresas pequenas porque estas não podiam comprar com nota e ele, sendo de uma grande companhia, não tinha como vender sem nota. Não é fácil resolver. São questões que afetam o dia-a-dia das empresas, mas cuja solução depende de mudar leis – isto é, depende de decisões políticas. E os partidos, as lideranças, o Congresso não parecem ter percebido a importância disso. É por isso que o Brasil cresce menos que os outros.
CUSTO BRASIL = ATRASA BRASIL
- Post published:9 de abril de 2007
- Post category:Coluna publicada em O Globo
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