CONSUMIDOR AMERICANO GASTA MENOS – E ISSO É BOM

. Eis uma boa notícia: o consumidor americano continua indo ao shopping, mas está gastando menos. Em especial, está comprando menos aquelas coisas que mais dependem de crediário.
É o que mostram dados divulgados nesta manhã pelo Departamento do Comércio dos EUA. As vendas no varejo em maio último foram de US$ 265,98 bilhões, uma queda de 0,3% em relação a abril, que já havia registrado redução (0,6%) em relação a março.
Excluídas as vendas de automóveis, o resultado de maio é de estabilidade.
Desagregando os resultados, o quadro fica mais claro. A maior queda de vendas foi no setor de lojas que oferecem produtos de maior volume (concessionárias de veículos e lojas de material de construção, por exemplo). Os americanos gastaram nesses item 1% a menos do que em abril.
Nos bens intermediários, móveis, por exemplo, a queda de vendas foi menor, de 0,3%.
No caso dos não-duráveis (roupas, produtos de higiene pessoal e de lojas de descontos) houve um aumento de vendas de 0,2%.
Fica claro: o consumidor continuou suas compras do dia-a-dia, mas diminuiu a aquisição de tudo que depende do crediário. Nos EUA, a propósito, quase ninguém compra carro à vista, ao contrário do que ocorre no Brasil.
Boa notícia
E por que essa retração do consumidor americano é uma boa notícia, para os EUA, para o Brasil e para o mundo todo?
Bem, a história é a seguinte:
O assunto dominante hoje, no cenário econômico mundial, é saber se a economia dos Estados Unidos está ou não em processo de "suave desaceleração ou aterrissagem" (soft landing). A situação estará bem se a economia americana continuar crescendo, mas em ritmo mais devagar do que o registrado no ano passado e início deste.
Por que? Porque economia acelerada traz risco de inflação
Por que isso é importante para o Brasil?
Porque uma economia desacelerada não precisa de juros altos. Assim, o Federal Reserve, Fed, banco central dos Estados Unidos, poderá interromper ou ao menos mitigar a política de elevação de juros, que foram de 4,75% para 6,5% em menos de um ano. E se os juros param de subir por lá, podem voltar a cair por aqui. (Veja como se dá a relação na seção Entenda a Economia).
Assim, está todo mundo de olho nos indicadores americanos ? a questão é saber se a alta de juros já fez efeito, desacelerando a economia. Se a resposta é sim, cessa a causa básica de instabilidade no mercado financeiro internacional, os juros tendem a se estabilizar.
Números da semana
O indicador que saiu hoje é o primeiro de uma longa série nesta semana. Na quarta, por exemplo, sai o importante Índice de Preços ao Consumidor (Consumer Price Index ? CPI) para maio. Os analistas esperam uma alta de 0,2% no índice pleno e também de 0,2% no núcleo, que exclui preços de energia (gasolina e óleo combustível, especialmente) e alimentos, os mais voláteis e que, por isso, não indicam tendência.
Na sexta sai o número de casas que começaram a ser construídas em maio. Construir (ou comprar) a casa própria depende diretamente da taxa de juros, já que em país estável ninguém faz isso à vista.
Na quinta saem os números da produção industrial e de pedidos de auxílio desemprego, ambos para maio. O critério para a produção é que continue em alta, mas menos do que antes. No caso dos pedidos de desemprego, é o contrário, claro.
Brasil
No Brasil, o mais importante a observar são os números das contas externas de maio. O Banco Central divulga na quinta-feira.
Tem tudo a ver: a necessidade do país captar recursos no exterior para fechar suas contas externas é que o torna vulnerável aos juros americanos. Quando mais elevados os juros dos EUA e, pois, do mercado internacional, mais caro o financiamento das contas externas brasileiras. E quanto mais caro o juro externo, o juro interno tem menos espaço para cair.
Subir não pode porque já está muito alto.

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