CAEM OS JUROS – VEJA O QUE ISSO SIGNIFICA

. NOVOS COMENTÁRIOS E EXPLICAÇÕES SOBRE A QUEDA DA TAXA DE JUROS A redução da taxa básica de juros para 17,5% ao ano não foi trivial. É uma mudança importante no cenário econômico. Se o BC acertou, o país está entrando em um ciclo de aceleração do crescimento Veja aqui as principais implicações dessa mudança, em comentários sobre os seguintes itens: a surpresa da virada; o que são metas de inflação; juros nominais e juros reais; efeitos sobre a dívida pública; a alta do dólar em consequência de juros menores; os recordes de baixa de juros; a melhora das exportações; o estímulo aos crediários; e um balanço dos efeitos positivos e negativos dos juros menores. Surpresa ? Quase todo mundo concorda que a taxa básica de juros no Brasil pode ser até menor do que os 17,5% ao ano fixados pelo Comitê de Política Monetária, Copom, o colegiado do Banco Central. Então de onde vem a surpresa com a decisão do Copom? É que todo mundo achava que o BC seria conservador, promovendo a redução da taxa de modo mais lento e gradual. Essa expectativa não saiu do nada. Decorria de declarações dos diretores do BC e das atas do Copom, documentos que explicam as bases das decisões e que são divulgados uma semana depois da reunião. Nessas manifestações, o BC vinha dizendo que os fundamentos internos estavam bons – inflação em baixa e contas públicas equilibradas ? mas dois fatores externos preocupavam: a possibilidade de nova alta de juros nos Estados Unidos e a elevação dos preços do petróleo. (Para a relação entre juros/EUA e petróleo e a situação interna, veja matérias em Entenda a Economia e Em Cima dos Fatos). Da reunião do Copom de maio até a de ontem, houve uma mudança importante, para melhor, no fator EUA. Surgiram diversos sinais de desaceleração da economia americana, indicando que a trajetória de alta de juros pode ser interrompida ou amenizada (Em Cima dos Fatos de 19/06). É um risco menor, portanto. Já no caso do petróleo, piorou e melhorou. Sim, isso mesmo. O preço subiu forte de maio para cá, mas nesta semana surgiram sinais de que a Organização dos Países Exportadores, Opep, planejava um aumento de produção para equilibrar o preço do barril entre 22 e 28 dólares (passou de 32 dólares nos últimos dias). Na quarta, 21, a Opep confirmou o propósito de aumento da produção. Nesse quadro, o que faria um BC bastante conservador e preocupado com juros nos EUA e petróleo? Subiria no muro, isto é, manteria a taxa básica de juros em 18,5% (ou com uma redução mínima, simbólica) e colocaria o viés de baixa, que autoriza o presidente do BC, Armínio Fraga, a reduzir a taxa assim que certos fatos ocorram. No caso, Fraga esperaria pelo petróleo e pela reunião do Federal Reserve, Fed, o banco central americano, no próximo dia 28. Essa era a expectativa dominante. Por que não se realizou? As metas ? Uma explicação pode estar na essência mesmo da política oficial de metas de inflação. Para este ano, a meta é de 6%; para 2001, de 4%, sempre considerando o Índice de Preços no Atacado Ampliado, IPCA, do IBGE. O sistema tolera que a meta seja estourada em dois pontos para cima ou para baixo, mas o normal, digamos, é perseguir a meta simples. Como se vê na tabela 1, abaixo, a inflação acumulada nos últimos 12 meses vem caindo desde o início do ano. Caindo forte. Mesmo com a pequena escalada prevista para este mês de junho, o índice é de 6,9%, dois pontos abaixo do verificado em janeiro. Essa queda foi mais acentuada do que se esperava, por diversos fatores (redução forte no preço de alimentação, impacto menor do aumento da gasolina, pouco repasse do atacado para o varejo, aumento menor no preço de roupas e assim por diante, tudo sinalizando desindexação e nova cultura dos consumidores e do varejo de resistir a altas). Com uma inflação contida no semestre ? 1,45% até maio, provavelmente apenas 2% até junho ? há uma folga boa para se chegar na meta de 6% para o ano todo. De fato, diversas análises já mostravam que, no cenário atual, a inflação do ano se encaminhava para abaixo da meta. Com certeza, as simulações do BC, utilizadas na última reunião do Copom, mostraram isso. Ora, não precisa ficar abaixo da meta. Aí entra em funcionamento a regra básica da política de metas: simula-se o cenário mais provável, combinando fatores internos e externos, com a taxa de juros atual; se a inflação encontrada lá na frente for menor que a meta, então é sinal que a taxa de juros atual está alta demais e pode (deve) ser reduzida. É o que parece ter acontecido. Na próxima semana, saem as atas do Copom e saberemos quais as contas utilizadas. De todo modo, existe aí uma aposta: a de que a situação externa (juros EUA e petróleo) não vai estragar tudo. Mas em toda política econômica existe uma aposta: se for esperar tudo se ajeitar, nesse mundo imperfeito, não se vai a lugar algum. Aliás, cobrava-se do BC mais um pouco de ousadia. Não ousadia louca, mas fundada em bons prognósticos. O BC mudou. Veremos se essa pedida estava correta. Juros reais ? É outro ponto importante a considerar. Veja de novo a tabela 1. Desde setembro do ano passado, quando o BC estacionou nos 19% de juros básicos, a taxa real de juros (descontada a inflação passada) foi caindo, mas por um mau motivo, a alta da inflação. De janeiro para cá, deu-se o contrário: uma boa causa, a queda da inflação, produziu um mau resultado, a alta dos juros reais. Em maio, a taxa real quase voltava ao patamar de setembro de 1999. Com a redução da taxa básica (nominal) para 17,5% e supondo que a inflação de junho dê uma pequena escalada, teremos juros reais de novo abaixo dos 10%, o que é muito positivo. Por essa conta, o BC restabeleceu os juros reais vigentes no final do ano passado, mas agora com uma combinação melhor. TABELA 1  

Deixe um comentário