BRASIL E CANADÁ – GANHOS E PERDAS

. BRASIL X CANADÁ   Parece que o contencioso do momento pode ser assim resumido: o Brasil, via Ministério da Agricultura, falhou ao não enviar a tempo e com a qualidade necessária as informações solicitadas pelo Canadá a respeito do controle sanitário do rebanho bovino brasileiro. Ou seja, o governo brasileiro abriu a guarda. E o canadense aplicou um golpe baixo, ao cancelar as importações de carne brasileira alegando dúvidas sobre o controle da doença da vaca louca. (Dúvidas mais que remotas, pois o rebanho brasileiro se alimenta de capim e não de ração animal, esta a fonte de transmissão da doença). Se não existisse o contencioso maior, a disputa entre a brasileira Embraer e a canadense Bombardier pelo fantástico mercado de jatos médios para aviação regional, certamente o Canadá não teria criado esse caso com a carne. Mas criou. Qual a reação brasileira? Os primeiros movimentos, do governo e na sociedade civil, não são animadores. A Associação de Bares e Restaurantes anuncia boicote a produtos canadenses e faz uma performance: joga no chão o precioso conteúdo de garrafas do uisque Canadian Club (um bourbon) e de latinhas de cerveja Bavaria. Pouca gente toma o Canadian. Mas a Bavaria? Pois é, a Bavaria pertence à canadense Olssom, que a comprou da Ambev. Suponha que o bocote funcione e ninguém mais tome Bavaria. Quem saiu prejudicado? Sim, a multi canadense perde dinheiro, mas os brasileiros que trabalham nas fábricas locais da cervejaria perdem o emprego. Sabia que o shopping carioca RioSul também pertence a canadenses? Pois é, a dona é a Brascan, uma multi que tem muitos negócios no Brasil. Fechar o shopping é uma boa idéia? Desapropriá-lo talvez? O Congresso aprovou resolução que suspende a tramitação de acordos bilaterais Brasil/Canadá. Um protesto, sem dúvida. Mas entre esses acordos, há alguns que tratam de transferência de tecnologia canadense para institutos brasileiros, nas áreas de presquisa agrícola e meio ambiente. De graça. Mas o principal problema é que os golpes baixos do Canadá – na carne e nos aviões – deram munição a todos aqueles que se opõem à abertura comercial. Já estão na praça os slogans "fechemos as fronteiras", "limitemos as importações". O que é uma dupla estupidez. Atrapalha pouco os canadenses e atrapalha muito o Brasil que precisa de mais e não de menos comércio externo. Claro que movimentos táticos fazem parte do jogo, como restringir a importação de um determinado produto canadense para criar moeda de troca na negociação para a liberação da carne brasileira. Mas não se pode perder de vista o rumo central, que é o seguinte: nosso problema não é atrapalhar as importações canadenses, mas abrir mercados para os produtos brasileiros, como a carne e os aviões. E o esforço de abrir mercados não prospera em ambiente de guerra comercial, protecionismo e barreiras.

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