BC mudou ao reduzir juros – e fez o certo

. Durante seminário na segunda à tarde, em São Paulo, o diretor de Política Monetária do Banco Central, Luiz Fernando Figueiredo, citou o artigo que publico neste site (seção Política Econômica, "Caem os juros – e se estivesse na cara?") e que saiu no Estadão de segunda (página E2), como uma interpretação correta da decisão tomada pelo BC ao reduzir os juros básicos de 18,5% para 17,5% ao ano. Há vários aspectos no artigo, mas o ponto levantado por Figueiredo é o argumento que procura entender a redução dos juros – não obstante tenha sido uma surpresa – como decorrência normal da aplicação da política de metas de inflação. Ou seja, projetada a inflação para 2000 e 2001, e verificando-se que estava abaixo das metas (6% para este ano e 4% para o próximo), isso autoriza e mesmo determina a redução dos juros básicos. Pelo sistema, a taxa de juros tem de ser aquela que leva a inflação para a meta, nem acima, nem abaixo. A ata do Copom sai na quarta e esse ponto deverá estar bem explicado. Mas por que, então, teria havido surpresa de todos os analistas, inclusive deste site, com a redução dos juros? As respostas se dividem em dois grupos. Parte dos observadores entendia que, mesmo com os bons fatores internos, os fatores externos (juros nos EUA e preços do petróleo) exigiam do BC mais conservadorismo. Quer dizer, não reduzir os juros brasileiros enquanto não se tivesse certeza de ao menos estabilidade dos preços de petróleo e, sobretudo, de provas mais conclusivas de que a economia americana caminha mesmo para uma suave aterrissagem (soft landing), que dispensaria nova alta de juros. Outra parte dos analistas entendia que já havia espaço para a redução dos juros brasileiros, mas que o nosso BC não faria isso por enquanto justamente por estar seguindo a posição conservadora. As últimas manifestações de diretores do BC e o que estava escrito em atas das reuniões anteriores do Copom autorizavam essa interpretação. Haviam, de fato, colocado forte ênfase no petróleo e na volatilidade originada nos Estados Unidos. Assim, os dois lados concordam que, ao reduzir os juros de 1 ponto percentual, o BC surpreendeu ao mudar de posição e abandonar o conservadorismo. Só que uma parte acha que isso foi errado e a outra acha que já estava mais do que na hora de mudar. Os diretores do BC, de seu lado, tratam de dizer quer não mudaram de opinião. As circunstâncias é que mudaram, dizia na segunda Luiz Fernando Figueiredo. Tem uma parte de razão – as circunstâncias externas mudaram, o risco Brasil caiu, empresas e governos brasileiros colocaram papéis no exterior a juros mais baratos na semana da reunião do Copom. Mas também é verdade que, no essencial, não mudaram tanto assim, especialmente em relação a petróleo e desaceleração da economia americana. Assim, se havia razão para reduzir os juros brasileiros neste momento, já havia antes disso, lá atrás, quando o BC preferiu esperar. Em resumo, o BC mudou de posição, com fundamento no sistema de metas de inflação. Alguns acham que foi ruim, outros, entre os quais este jornalista, que foi bom.

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