AINDA O CASO ARGENTINO

. Artigos Argentina: o dinheiro e a política Há dois pontos essenciais no pacote argentino. Um é o dinheiro do FMI. O outro é mais abstrato: uma demonstração de presidente Fernando De La Rúa de que está no comando e consegue tecer acordos políticos amplos. Os dois pontos são casados. Sem a demonstração política, não tem dinheiro. Os dólares do FMI têm objetivo específico: mostrar ao mercado que a Argentina disporá dos recursos necessários para rolar todos os vencimentos da dívida externa de 2001. Esses vencimentos somam cerca de US$ 21 bilhões. Logo, o pacote do FMI tem de chegar perto disso e parece que não haverá problemas. Recentes informações sugerem que FMI, Banco Mundial e Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) poderiam fornecer algo perto de US$ 15 bilhões. O restante viria de governos e bancos privados, com boa participação dos espanhóis, que têm forte interesse (quer dizer, exposição), na Argentina. Os EUA, por causa da instabilidade política-eleitoral – quem diria, hein! – não estão em condições de fornecer dinheiro, mas no momento não fará falta. Assim, a ajuda financeira é certa. A Argentina poderá logo ter em caixa os 21 bilhões e assim tranquilizar todos os seus credores. Fica faltando o acerto interno. Há um pacote de ajuste fiscal e planos muito importantes para uma reforma da Previdência – incluindo a extinção da Previdência pública. Mas são todas medidas de longo prazo, com impacto limitado nas contas públicas neste momento. Assim, a questão é política. Importa menos o significado concreto e mais a capacidade do governo De La Rúa de definir um projeto, aprová-lo no Congresso e junto ao conjunto das forças políticas locais, incluindo os governadores das províncias. Comparando: foi como em 1998 no Brasil, quando o FMI montou o pacote de ajuda de US$ 40 bilhões. Mesmo com o dinheiro já à disposição, o real desabou porque o governo FHC não conseguiu demonstrar que estava no comando para fazer o ajuste. Lembram-se da sequência? A base governista derrubou a contribuição dos servidores inativos no Congresso e, no início de janeiro, o governador Itamar Franco anunciou sua moratória. A contribuição dos inativos nem representava muito dinheiro. A moratória de Itamar era fajuta,pois o governo federal tinha instrumentos para reter impostos de Minas e assim saldar dívida do estado. Mas o que importou foi o significado político: o governo FHC não conseguia nem o apoio de sua base no Congresso e os governadores estaduais ameaçavam uma rebelião. Eis aí, muito parecido com o quadro de hoje na Argentina: o governo De La Rúa precisa mostrar capacidade no Congresso e força política para incluir os governadores num pacto de estabilização.   CARO OU PREÇO DE BANANA? E aí? Como ficamos? Muita gente dizendo que o governo federal estava entregando o Banespa a preço de banana. E aí vêm três possíveis compradores – grandes bancos estrangeiros – e dizem que o negócio não vale a pena. BankBoston e Citi argumentam que o retorno esperado não compensa o capital a ser investido. Ou seja, acham que precisariam colocar muito dinheiro no Banespa – para comprar e para arrumar o banco – e o que ganhariam não pagaria isso. Quem teria razão? Os estudos que dizem ser o preço mínimo muito baixo ou os estudos dos eventuais compradores? Os dois são interessados. De um lado, economistas, bancários, militantes de esquerda e de direita, procuradores e juízes que são contra a privatização.De outro lado, os interesses econômicos dos grandes bancos. Quem teria feito a melhor conta? Você pode achar que sua Brasília 77, jóia, de estimação, com valor sentimental para o povo paulista, digo, para sua família, vale R$ 10 mil. O mercado e os compradores farão outra avaliação. Qual seria a mais realista? Note que os bancos americanos viriam com dólares, os quais, convertidos em reais, fariam uma nota preta, já que o real está barato no momento. Além disso, o Banespa carrega créditos tributários, isto é, créditos que permitirão reduzir o imposto de renda sobre lucros, a ser pago (e amortizado) ao longo de anos. Ou seja, os bancos americanos entenderam que, mesmo trazendo dólares, o preço do Banespa continuaria caro. E que não haveria lucro suficiente – se não há luicro, de que adiantaria o crédito tributário?   FÚRIA TRIBUTÁRIA Primeiro, estão criando despesas: o salário mínimo de R$ 180, o reajuste do Judiciário e do Legislativo, o aumento de 30% dos militares, as emendas dos parlamentares, que foram autorizados a gastar parte maior do orçamento do governo federal. Depois, vão atrás das fontes de financiamento. Toda vez que se aumenta o gasto público, há duas maneiras de pagar: aumentando impostos, cortando outras despesas. Ninguém, lá em Brasília, está pensando em cortar. Estão catando mais impostos. E estão arranjando algumas das piores soluções. Voltaremos ao assunto, mas preliminarmente note o seguinte: há uma reveladora frente única no Congresso, governo, oposição, direita, esquerda, norte, sul, todos por mais impostos, cada um com seu pretexto. A conta tem sempre o mesmo destinatário – você.

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