. Está no noticiário: as operações de compra de ações com margem aceleram o movimento de queda das ações. O que é isso? Comprar com margem é comprar com dinheiro emprestado. Você chega na corretora, isso lá nos Estados Unidos, para comprar cem ações da Microsoft, cada uma a 100 dólares. Ocorre que você não tem o dinheiro. Nenhum problema. A própria corretora lhe empresta. A garantia são as ações compradas com o empréstimo. Tudo certinho, portanto: você deve 10 mil dólares à corretora, mas tem 100 ações que valem disso. Você vai ter que pagar juros à corretora, digamos de 10% ao ano (uma taxa razoável, já que grandes empresas americanas estão pagando juros de 8,5%). É uma especulação: você aposta que as ações da Microsoft se valorizarão mais que a taxa de juros. O que de fato ocorreu durante muito tempo. Nos últimos doze meses, a ação da Microsoft variou de 75 a 120 dólares, antes da queda e da turbulência em consequência do processo por monopólio. Nos últimos quatro anos, o Índice Nasdaq da Bolsa de Nova York, que reúne as empresas da Nova Economia, valorizou-se nada menos que 460%. As taxas de juros a pequenos tomadores estiveram abaixo dos 10% ao ano. Dá para imaginar a farra. Tudo vira quando os preços das ações caem. No nosso exemplo, você deve 10 mil dólares (mais os juros) à corretora, mas o valor de suas ações caiu para 8.600 dólares ? uma queda de 14%, como aconteceu, por exemplo, com as ações da Microsoft na segunda-feira, dia 03. A corretora faz a chamada de margem. Ou seja, você tem que colocar mais 1.400 dólares na operação. Mas você não tem o dinheiro ou não quer arriscar perder mais, já que o mercado é de baixa. O que faz a corretora? Vende a quantidade de ações necessária para zerar a conta. Ora, com muita gente fazendo isso ? vendendo na baixa ? a tendência de queda se acentua, as ações valem menos ainda no dia seguinte, a corretora faz nova chamada de margem ? e isso só vai parar no fundo do poço se o pânico não é contido de alguma forma. Há limites para a compra de ações de margem. Por exemplo, metade à vista, metade emprestado. Esse limite tem variado ao longo do tempo, mas, você sabe como é o mercado financeiro, sempre encontra meios de financiar tudo. É o que tem acontecido na farra recente. Muitos economistas vinham alertando para o problema e pedindo regras mais estritas de controle. Mas como sempre nesses mercados financeiros, a regra só vem depois que o problema acontece.
Ações na margem
- Post published:9 de abril de 2007
- Post category:Coluna publicada em O Globo
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