A QUEDA DOS JUROS

. ABAIXO OS JUROS- 2 Como registrou o Broadcast, da Agência Estado, o Banco Central não amarelou. A redução da taxa básica de juros de 16,5% para 15,75%, decidida na quarta-feira, surpreendeu a maior parte dos analistas e investidores porque o dia não ajudava. Todas as condições, digamos, estruturais para a queda da taxa estavam dadas, conforme relatávamos na nota Abaixo os Juros, veiculada aqui no último dia 18. (Leia logo abaixo). Mas o fato é que o mercado americano – uma variável chave – reagiu muito mal à decisão do Federal Reserve, o banco central dos EUA, de manter os juros em 6,5%, embora tenha indicado claramente que vai reduzí-los mais à frente. Essa indicação foi dada pelo comunicado que salientou ser o perigo de recessão maior que o risco de alta de inflação, invertendo a análise feita até aqui pelo Fed. Como a receita para ameaça de recessão é queda dos juros, os dados estão jogados. Mas como o mercado americano esperava a queda dos juros para já, as bolsas Dow Jones e Nasdaq despencaram, esta numa queda de mais de 7%. E aí, sabe como é, derrubar juros em dia de mercado internacional instável e para baixo …Durante a quarta-feira, muita gente, aqui no Brasil, que se havia posicionado para a queda dos juros, virou a posição. E se deu mal. O Banco Central brasileiro não amarelou e seguiu pelos dados de médio e longo prazo – relatados na nota abaixo. E foi mais longe do que a maioria esperava. O resultado é notável. Registra um ano importante para a economia brasileira. Observe: a taxa básica nominal de 15,75% ao ano é a menor desde 1974. Descontada a atual inflação de 6%, a taxa real cai para 9,2%, objetivo que o presidente FHC alardeava e que o BC considerava possível e que, agora, quando menos se esperava, acaba se realizando. É a menor taxa real desde junho de 1996. Mas note: desta vez, a queda dos juros reais se deve à queda da taxa nominal de juros e não à alta da inflação. Tudo considerado, a decisão do Copom, o Comitê de Política Monetária do Banco Central, encerra com chave de ouro um ano muito bom. Contas públicas equilibradas, inflação em baixa e na meta, juros seguindo em queda e a pol;itica de câmbio flutuante funcionando bastante bem. Esses fundamenos internos permitiram passar com sucesso pelas turbulências externas e apontam para um ano também muito bom em 2001. Mas convém registrar: avançamos muito, mas não chegamos lá. Só um ponto: os juros brasileiros do momento são os menores das últimas duas décadas e meia, mas são maiores do que os praticados nos demais países emergentes. (leia na seção Política Econômica o balanço de 2000 e as perspectivas de 2001).   ABAIXO OS JUROS (veiculada em 18/12/2000) A taxa básica de juros está em 16,5% ao ano desde 19 de julho último. Dois fatores impediram a redução: inflação local e cenário externo. No primeiro caso, o problema foi o repique inflacionário de meados do ano, provocado por São Pedro e pelo governo. Houve chuva de mais em alguns lugares, de menos em outros e muito frio em todo o país, isso gerando alta de preços de produtos agrícolas mais escassos. Em cima disso, o governo concentrou aumentos de tarifas, inclusive do combustível. Em alguns casos, não havia o que fazer. Reajustes de energia elétrica e telefones, por exemplo, estão previstos nos contratos de concessão e são, portanto, obrigatórios. Combustíveis é outra história. Não dependem inteiramente do governo, pois uma variável chave é o preço internacional do petróleo. Mas o governo pode jogar com o tempo, tem alternativas de reduzir o imposto indireto que cobra em cada litro de gasolina. E foi assim que, dada a inflação muito baixa do primeiro semestre deste ano, o governo resolveu aproveitar a oportunidade para elevar também os combustíveis. Deu azar. Logo em seguida os efeitos do clima jogaram para cima os preços de alimentos e foi lenha na fogueira da inflação, especialmente no terceitro trimestre do ano. Quando a inflação finalmente cedeu, o cenário externo impediu a redução dos juros. Foram três problemas: a dúvida sobre a desaceleração da economia americana (suave? uma trombada? recessão ou crescimento menor?) ; o preço alto do petróleo; e a crise argentina. Petróleo caro faz inflação e aumenta o custo de importação do Brasil. Em 1999, por exemplo, o país gastou US$ 5,4 bilhões com a compra de óleo. Neste ano, a conta vai para US$ 7,3 bilhões. Sem isso, teria sido obtido superávit no comércio externo do país. O déficit que vai ocorrer pressiona a cotação do dólar – e isso pode vir a ser fator de alta de preços. Já os casos de EUA e Argentina, mais EUA, é claro, levam a alta de juros internacionais. Como a regra da política oficial de metas de inflação é clara – preços em baixa, juros em baixa — os preços em alta e as pressões para cima mantiveram os juros nos 16,5% ao ano. Agora, com a inflação nitidamente em baixa, preços do petróleo em queda no exterior, pacote financeiro que resolve o problema argentino por mais de um ano e a percpeção que os EUA caminham para desacaleração suave e crescimento menor, o ambiente agora favorece a queda de juros no Brasil. Essa é a expectativa para a reunião do Banco Central nestas terça e quarta: uma redução da taxa básica de 16,5% para 16%. Na terça, reúne-se o Federal Reserve, o banco central americano, que deve manter a atual taxa de 6,5%, mas sinalizando uma redução para breve. Se, entretanto, o Fed for mais agressivo e reduzir a taxa um pouquinho, o BC brasileiro pode ser estimulado a chegar aqui a 15,5%, por exemplo. Veremos.

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