O BC derruba juros hoje sobe amanhã?
Em setembro de 2009, o Banco Central colocou a taxa básica de juros em 8,75% ao ano. Até aqui, é o recorde de baixa desde a introdução do regime de metas de inflação no Brasil, a
partir de janeiro de 1999, no governo FHC. Pois parece que o atual BC caminha para pelo menos igualar esse récorde. Na semana passada, reduziu
a taxa para 9,75% e indicou que está preparando novas quedas.
No atacado, os argumentos – e a aposta – são parecidos. Crise mundial, crescimento baixo no Brasil, inflação desacelerando. Nesse quadro, a redução dos juros locais fez parte de uma
ampla política de estímulo a investimentos e consumo, mais este último, com base em mais gasto do governo, crédito público subsidiado ou não, facilidades para a tomada de crédito, a
receita clássica.
Para 2009, não deu para salvar. O Brasil enfrentou uma recessão. E a inflação se comportou um pouco abaixo da meta de 4,5%. Mas 2010, por sinal um ano eleitoral, saiu muito bem: o
país cresceu 7,5%, nisso replicando o movimento de forte recuperação na economia mundial. Só que a inflação brasileira foi lá para cima. Terminou 2010 com 5,9%, mas entrou acelerada no
ano passado.
Ou seja, o país não comportou, mais uma vez, uma forte aceleração do crescimento. Tanto que, em abril de 2010, o BC já começara a subir os juros e foi numa escalada até os 12,5%.
É muito provável que a história se repita nesta nova tentativa de colocar os juros lá embaixo. E deve ser um problema maior ainda. Reparem: a crise mundial hoje é muito mais leve que a
de 2009, quando se estava no auge dos efeitos recessivos do colapso do crédito. O crescimento brasileiro hoje, embora tenha desacelerado, é muito mais forte do que o de três anos atrás. E a
inflação corrente e as expectativas são mais altas hoje do que naquela época.
O governo pode dizer que os estímulos totais ao crescimento são menos intensos. Verdade. Mas o ambiente econômico geral responde mais rápido, hoje.
Como em 2009,o governo está muito assustado com a possibilidade de enfrentar um período de baixa em um ano eleitoral. Assim, acaba entrando em um vale tudo.
O que se pode concluir disso tudo, para além do dia-a-dia? Eis uma sugestão: os últimos mostraram que a capacidade de crescimento do Brasil melhorou, basicamente a partir da
estabilidade macroeconômica e da onda global provocada pela fortíssima expansão chinesa.
Mas também tivemos vários momentos para mostrar que o Brasil não cresce mais que 4,5% sem gerar mais inflação. Reparem de novo: em 2009, com uma recessão, queda do produto de
0,6%, ainda tivemos inflação de 4,3%, muito alta para tão pouca atividade.
Já na sequência do forte crescimento de 2010, a inflação em doze meses simplesmente ultrapassou os 7%. E no ano passado, com a expansão pífia de 2,7%, a inflação bateu nos 6,5%, o
teto da margem de tolerância.
Como o governo e o BC dizem hoje, direta ou indiretamente, que privilegiam o crescimento, então vai dar inflação mais alta. Até um certo nível , se leva, mas logo fica pesado e o BC tem
que voltar a subir os juros e cortar estímulos. Ou seja, nos anos recentes, não se fez mais nada de importante para elevar a capacidade de crescimento do país. Nada que elevasse o nível geral
de investimentos e reduzisse o pesado custo Brasil.
O governo Dilma, até aqui, ao menos, indica não ter plano de voo de longo prazo. Vai lidando com o dia-a-dia. A questão hoje é saber quanto de inflação vai topar.
Quanto vale?
O vilarejo Nicolas-Courbefy fica a 280 km de Paris, tem apenas 19 casas, todas datadas do século 16, assim como o entorno urbano. Está à venda. Sim, todo o vilarejo. Acontece que as
famílias foram se mudando para a cidade e não ficou ninguém por lá. Conseguiram, porém, se colocar de acordo para vender a coisa toda. A idéia parece clara. O conjunto pode dar um ótimo
resort, um parque, ou mesmo a sede de uma grande empresa que fucnione por ali. A propósito, tem um aeroporto próximo, o de Limoges, a apenas 32 km.
Quanto vale?
Exatos 400 mil dólares. Quer dizer, esse foi o preço pedido no primeiro leilão, via um endereço eletrônico encontrado pela colaboradora desta coluna, Karen Iscafh (*). E querem saber?
Não teve lance, pelo menos até a sexta passada.
Até dá para entender. A França está em recessão, como toda a Zona do Euro, houve perda de renda, desemprego alto – não é um bom momento para se iniciar um investimento que
certamente seria pesado.
Mas, gente, vamos reparar no preço. Dá uns R$ 700 mil, valor que estão pedindo, por exemplo, por um apartamento razoável, usado, de três quartos, em Pinheiros. E sai negócio.
Não tem algo errado aí? Pelo preço de um apartamento médio em São Paulo compra-se uma vila com 19 casas na França.
Na verdade, são duas coisas erradas. Lá, barato e sem mercado. Aqui, um absurdo com venda.
A França pode estar barata, mas o Brasil está certamente muito caro.
Tem outro exemplo recente: um amigo vendeu um quarto e sala em Copacabana, mas daqueles apartamentos que só tem vista para as paredes do prédio ao lado, e comprou um dois
quartos/sala/cozinha ampla/vaga na garagem, com magnifica vista para o mar, em Miami. E ainda colocou um troco no bolso.
Pode?
(*) http://hungeree.com/news/saint-nicolas-courbefy-for-sale-us400000/)
Publicado em O Estado de S. Paulo, 12 de março de 2012