A opção Lula
Carlos Alberto Sardenberg
Do economista John K. Galbraith: “Os economistas gostam de ficar brigando entre si para não correr o risco de estar todos errados ao mesmo tempo”.
Outra hipótese: e se todas as análises, embora divergentes entre si, estiverem igualmente erradas?
Parece estar acontecendo isso no panorama mundial. Por exemplo: haverá ou não recessão nos Estados Unidos?
A resposta não depende da orientação deste ou daquele economista. Depende da semana em que é apresentada a opinião. Ou do dia.
O que nos leva a uma primeira conclusão unânime – a situação de fato é bastante complexa – e que não serve para nada.
Aqui no Brasil, a situação também é complexa, mas por causa dos políticos, não dos economistas. Os que estão no governo, Bolsonaro e o Centrão, promovem uma verdadeira farra fiscal. Sim, a expressão é antiga, mas fazer o quê? O hábito permanece.
No lado da oposição, Lula, o favorito, denuncia os “gastos eleitoreiros” para logo em seguida prometer um governo de mais … gastos. Diz, por exemplo, que não se pode colocar teto na despesa pública – o teto que Bolsonaro e sua turma já detonaram há muito tempo.
Vai daí que nenhum lado mostra como pretende lidar com o orçamento, já furado, do ano que vem e dos próximos.
Pode-se tentar adivinhar, porque estamos tratando com um governante de plantão e um ex-governante.
De um segundo governo Bolsonaro, o que se pode esperar senão uma versão piorada? Mais confiante depois de uma reeleição, o presidente não precisará mais fingir que é um liberal e contra a corrupção. Vai achar também que ganhou o direito de detonar a democracia. Em resumo: pior no primeiro mandato e depois piorando.
Do outro lado, quando perguntado sobre planos econômicos, Lula deu dois tipos de resposta. Primeiro, disse que só falaria disso após a eleição. Depois, a quem insistisse na questão, sugeria: vejam meus dois governos.
Excluiu o mandato e meio de Dilma, por razões óbvias. Não há como justificar a combinação de inflação e recessão, a maior proeza da ex-presidente.
Ainda assim, há mais de dois governos Lula. O do primeiro mandato foi o máximo de ortodoxia econômica. O segundo começou ortodoxo e pouco a pouco mudou para o “desenvolvimentismo”, no caso, a ideia de que todo crescimento econômico deve ser comandado pelo Estado.
Incluindo-se aí os episódios de corrupção, a questão fica mais complicada: qual Lula estará de volta?
Nas pesquisas, o favoritismo do ex-presidente mostra-se resiliente. A lembrança dos dois primeiros governos, com momentos de clara prosperidade, continua dominante.
Falta ainda um teste importante para Lula: a campanha no rádio e tevê, quando os adversários vão se fartar com as denúncias de corrupção.
Digamos que isso levante uma dúvida entre os eleitores que neste momento manifestam preferência pelo ex-presidente. Estamos falando aqui dos eleitores que não são petistas ou lulistas de raiz. Estes já perdoaram qualquer eventual pecado, sendo que a maioria aqui nem acha que houve pecado.
Mas os outros, que estão escolhendo Lula como a mais adequada opção do momento, podem ficar em dúvida. Aí, olham para o outro lado e o que encontram?
Bolsonaro? Se a dúvida tiver origem em casos de corrupção, é evidente que o atual presidente e sua turma não passam no teste. E muito menos no respeito à democracia.
Sobra a terceira via, Ciro e Simone. Ocorre que a maior parte do eleitorado sempre considera como variável determinante a chance de vitória do candidato. Como se diz, o eleitor não gosta de perder o voto.
A terceira via não decolando, voltam todos para Lula.
Mario Covas dizia que um candidato amplamente favorito só perde a eleição se fizer alguma coisa muito errada na frente de muita gente.
Lula, um animal político do primeiro time, sabe disso por instinto. Daí sua preocupação em não criar caso e tentar agregar apoios em todos os lados do quadro partidário. Já fez isso outras vezes.
E assim entramos na fase final da campanha.
Nossa economia? Um problemaço, isso sem nenhuma dúvida.