MAIS INFLAÇÃO, MENOS CRESCIMENTO

–Governo topava um pouco mais de infalçao para obter mais crescimento: colheram o contrário—

?Eu não vou permitir que a inflação volte no Brasil. Não permitirei que a inflação, sob qualquer circunstância, volte. Também não acredito nas regras que falam, em março, que o Brasil não crescerá este ano. Tenho certeza que o Brasil vai crescer entre 4,5% e 5% este ano?.
Assim a presidente Dilma definiu seus objetivos econômicos em entrevista à jornalista Claudia Safatle, ainda em março. A presidente também garantia: ?E também não acho que a inflação no Brasil seja de demanda?.
Juntando isso com manifestações de membros da equipe econômica, o novo governo passava o seguinte recado: certo, vamos ter de novo inflação acima da meta, em torno dos 5%, mas menor do que a de ano passado e, sobretudo, não vamos derrubar o crescimento, nem cortar investimentos importantes.
Na sexta passada, saiu o IPCA de abril que jogou a inflação acumulada nos últimos doze meses para 6,51%, no limite do teto de tolerância.
Qual o cenário hoje?
O governo não confessa oficialmente, mas já se sabe que: vai lutar para que a inflação chegue ao final do ano abaixo dos 6,5%. Algo como 6,45% já será considerado uma vitória.
E o crescimento? Se der 4%, será sensacional. Mas o governo espera mesmo que não seja inferior a 3,5%.
Resumo da ópera, o governo topava um pouco mais de inflação para garantir um pouco mais de crescimento.
Está colhendo mais inflação e menos crescimento – como diziam os assim chamados ?ortodoxos? tão criticados pela presidente e alguns de seus ministros.
Em tempo: deem uma olhada nos documentos do Banco Central. Procurem por ?inflação de demanda?. Vão encontrar.

Governança
A Vale anunciou um baita lucro no primeiro trimestre deste ano. Verdade que os preços do minério de ferro estiveram no pico em janeiro e fevereiro. Mas é verdade também que a Vale é uma companhia bem administrada, capaz de aproveitar as oportunidades de mercado.
Entretanto, suas ações, em bolsa, têm-se valorizado menos que as concorrentes multinacionais.
A causa? Governança. Ou seja, séria desconfiança em relação aos futuros resultados da empresa, dada a ostensiva interferência do governo Dilma no comando da companhia.

Demitiram os frentistas . . .

Antes da operação que apanhou Bin Laden, o presidente Obama estava com a popularidade em baixa. Uma das causas era o preço da gasolina, que passava dos 4 dólares o galão, algo em torno de dois reais o litro. Mais barato do que no Brasil ou na Europa, por exemplo, porém mais alto que as médias históricas americanas. Gasolina nos EUA paga pouco imposto, o preço é livre e responde direta e imediatamente às flutuações do mercado mundial.
Se o galão passar dos cinco dólares e ficar nisso, diziam então os analistas, a reeleição de Obama estará seriamente comprometida. E se chegar a seis, completavam, estará perdida.
Gasolina é um preço político em qualquer país. Mas sempre pareceu que, nos EUA, o impacto eleitoral é muito maior.
Qual seria a causa? Uma explicação óbvia: os americanos adoram automóvel e usam mais o carro particular do que, por exemplo, os europeus, estes mais propensos ao transporte público.
Mas há uma outra explicação, comportamental. O problema é que nos EUA não tem mais frentista nos postos de gasolina.
Isso mesmo. Em nome da eficiência e da redução de custos, a profissão do frentista foi sendo eliminada. Como ocorreu no caso dos bancos ? você mesmo faz os depósitos e pagamentos no seu computador ? o serviço de encher o tanque foi transferido ao consumidor.
O motorista para o carro ao lado da bomba, desce, passa seu cartão de crédito, o que destrava a mangueira, e faz a operação. Em certos postos, o motorista precisa entrar no escritório do posto e passar o cartão lá dentro. Depois volta e opera a bomba.
Em qualquer caso, eis a diferença: o consumidor fica ali vendo a maquininha rodar o preço. Ele quer colocar 10 galões (quase 38 litros) e é obrigado a ver o mostrador registrar ? um dólar, cinco, dez, …. quarente e tantos.
Diferente, por exemplo, do motorista brasileiro que encosta o carro no posto, pede ? 30 paus da comum ? e fica ali ouvindo música ou checando e-mails.
Pode ser? Pode. Estudos mostraram que o consumidor americano fica nervoso diante do avanço dos números na bomba. E se deprime em seguida.
A morte de Bin Laden dominou os noticiários e jogou para cima a popularidade do presidente Obama. Mas os americanos não esqueceram o dia a dia. Vi na revista eletrônica Slate uma charge significativa. O carro está parado ao lado da bomba, na qual se lê o preço, US$ 4,31 o galão o motorista comenta com o carona, que agita uma bandeira americana pela janela: ?não vamos mais à manifestação pela morte de Bin Laden, não temos grana para a gasolina?.
Para sorte de Obama, os preços do petróleo estão em queda, depois de semanas de alta. Mas esse mercado continua muito instável, na política e na economia.

Publicado em O Estado de S. Paulo, 09 de maio de 2011

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