. BRASIL PERDE O PRIMEIRO LUGAR EM JUROS ALTOS
ATÉ ONDE MAIS PODEM CAIR OS JUROS NO BRASIL?
QUE TAL 15% NO FINAL DESTE ANO?
Com a redução da taxa básica de juros para 17% ao ano, aplicada pelo Banco Central na início da noite de sexta, dia 7, os juros reais no Brasil já não são os maiores entre os países emergentes. A Rússia assume esse desonroso primeiro lugar.
Projetada uma inflação de 5% para os próximos doze meses, a taxa real de juros no Brasil é de 11,1% ao ano, uma coisinha de nada abaixo da taxa russa, de 11,3%. Considerando que a economia russa não parece em melhor estado que a brasileira, isso dá bem o tamanho da taxa brasileira, depois das recentes quedas. É, disparado, a menor taxa da era do Real, a era da estabilidade (e das crises). Mas ainda está muito acima da taxa praticada em países concorrentes.
Veja a tabela, que inclui as nações geralmente colocadas no mesmo saco que o Brasil. Isso suscita a seguinte pergunta: até onde podem cair os juros brasileiros?
PIB (variação % anualizada) Inflação (preços ao consumidor, últimos 12 meses) Juros básicos
(% aa) Juros reais
(% aa) Conta Corrente
US$ bi – Últimos 12 meses China 8,1 0,1 5,4 5,3 +15,7 Coréia 12,8 1,1 7,1 5,9 +17,5 Argentina 0,9 -1,0 7,1 -12,2 Chile 5,5 3,6 5,4 0 México 7,9 9,3 17,0 7,0 -14,9 Rússia 7,5 19,4 33,0 11,3 +25,6 BRASIL 3,1 5,3 17,0 11,1 -23,8 Fonte: The Economist, edição 01 a 07 de julho.
Num país de economia aberta, como o Brasil, em que os investimentos financeiros podem entrar e sair sem restrições, a taxa de juros local necessariamente guarda relação com a externa. Uma aplicação no Brasil só vale a pena se pagar mais do que o investidor obteria comprando títulos do Tesouro dos Estados Unidos. Esse tanto a mais é o risco Brasil. Obviamente, existe também risco Coréia, risco México, que são menores que o brasileiro, hoje. Por exemplo, a taxa real de juros nos Estados Unidos está em torno de 4,7% (6,5% de juros nominais, para uma inflação de 1,7%), apenas um ponto ou menos abaixo das taxas chinesas e coreana. Por que?
Em geral, o risco mede a capacidade de um país pagar suas dívidas externa e interna. Assim, países com sólidos superávits no comércio externo – como é o caso de China e Coréia – apresentam risco menor dada sua capacidade de gerar dólares com as exportações e assim saldar os compromissos externos. Países com déficit no comércio externo ou mesmo com superávit insuficiente, (caso do Brasil hoje), dependem da entrada de investimentos e empréstimos externos,
Mas o México tem déficit no comércio externo, déficit na conta corrente (que inclui todas as transações com o exterior) e ainda assim seu risco é menor que o do Brasil, que começa a virar o comércio externo para positivo. A explicação aqui é que as contas internas estão mais equilibradas no México e, além disso, o país lá está em forte ritmo de crescimento.
Mas a Argentina também tem déficits externos, contas públicas problemáticas e um problema futuro com o câmbio fixo – e continua pagando lá fora juros menores que o Brasil, embora a diferença tenha caído muito nas últimas semanas.
E aqui a única explicação tem a ver com grau de confiança em torno do país (seu governo, sua política econômica, sua equipe econômica) e com a história próxima, como o fato de ter aplicado ou não moratórias. O Brasil vai mal nesse quesito histórico (já demos o cano na dívida externa, governo Sarney, 1987, e na interna, governo Collor, 1991), mas vem recuperando confiança. Primeiro, com a estabilidade monetária do Real, depois, com o equilíbrio das contas públicas (que tem apenas dois anos) e, desde 1999, depois da desvalorização, com uma política econômica mais voltada ao crescimento. As equipes econômicas do Real sempre tiveram respeito internacional – até mais do que aqui – e a formação atual ganhou muita força com a presença de Armínio Fraga na presidência do Banco Central.
Mantidas e consolidadas essas circunstâncias, o risco Brasil tende a cair e, pois, o diferencial entre juros externos e internos. Até onde?
Tempos atrás, Fraga disse em uma entrevista ao jornal Valor Econômico que no Brasil a taxa real de juros de médio e longo prazo, de equilíbrio, isto é aquela que permite crescimento sustentado, sem inflação e sem crise nas contas externas, seria algo entre 7% e 8% ao ano. Assim, hoje, a taxa básica nominal de juros, acrescentando-se a inflação, estaria entre 12% e 13% – bem abaixo dos 17% do momento. Como Fraga achava também que a economia brasileira chegaria ao ponto de equilíbrio por volta de 2001 ou 2002 e como a inflação, naqueles anos, deve estar na casa dos 4%, ficamos assim: se tudo der certo, a taxa básica de juros estará entre 11% e 12% por volta de 2002.
E para este ano?
As apostas mais agressivas, digamos assim, contam com uma taxa entre 15% e 15,5% ao final deste ano.