. —O que mais importa no G-20 é o dinheiro—
O mundo ainda está numa emergência, ainda que a fase aguda da crise tenha passado. O comércio global, que cresceu 8% ao ano por um bom tempo, registra quedas de 20% neste início de 2008. As exportações brasileiras, por exemplo, caíram 15% no primeiro trimestre deste ano contra o mesmo período de 2008. E as últimas previsões indicam que o produto mundial vai afundar quase 3% neste ano.
Os países do G-20 ? os desenvolvidos e os principais emergentes ? representam 85% da economia mundial. Reunidos em Londres, hoje, seus governantes têm, portanto, poder e tema para agir. Trata-se de tomar medidas concretas para reanimar o comércio e a atividade econômica.
Tentar definir uma ?nova arquitetura financeira global? ou lançar as bases de um ?novo capitalismo? será o caminho do fracasso. Embora todos concordem que é preciso criar nova regulação para o sistema financeiro, não há entendimento sobre a extensão e o modo dessas normas. E quanto a um novo capitalismo, então, não há acordo nem dentro dos países.
Além disso, é uma discussão prematura. A economia está na sala de emergência, não faz sentido querer estabelecer regras para quando ela tiver alta. Seria como dizer a um paciente da UTI que ele precisa parar de fumar.
Já o tratamento imediato exige: restabelecer a saúde dos bancos, de modo a reanimar o crédito internacional colocar mais dinheiro nas instituições internacionais (FMI, Banco Mundial e bancos regionais) para que estes financiem países emergentes e os mais pobres combinar planos de investimentos públicos definir comportamentos que impeçam um surto de protecionismo.
Se não for por aí, será mais uma reunião inútil. Na verdade, pior que inútil. Um fracasso explícito abalaria ainda mais a já combalida confiança de investidores e consumidores mundo afora.
E o Brasil? Será preciso verificar qual Lula está em Londres. Na última terça-feira, na cúpula sul-americana/árabe, em Doha, Lula voltou à tese de que o mundo desenvolvido (dos brancos de olhos azuis), é culpado pela crise econômica, pela destruição do meio ambiente e pelos desequilíbrios da economia mundial. E que é preciso partir desse ponto de vista para resolver os problemas mundiais. Ou seja, qualquer solução tem de privilegiar as atuais vítimas, os emergentes, e punir os ricos, os quais, além disso, têm que entrar com mais dinheiro.
Mas nessa mesma terça, em Londres, o primeiro-ministro britânico, Gordon Brown, em reunião com o presidente Barack Obama, citava uma frase de Lula, que ouvira do próprio presidente brasileiro, em Brasília. Disse: ?Eu estive na semana passada no Brasil e eu acho que o presidente Lula vai me perdoar por citá-lo. Ele me disse: ?Quando eu era sindicalista, eu culpava o governo. Quando eu era da oposição, eu culpava o governo. Quando eu virei governo, eu culpei a Europa e os Estados Unidos?.
O próprio Brown tirou a conclusão da metáfora: ?Lula, portanto, reconhece, como nós reconhecemos, que este é um problema global. É um problema global que exige uma solução global?. Este é o Lula respeitado no mundo desenvolvido, como o melhor representante da esquerda moderna.
Pode-se dizer que a reunião de Doha não valia nada ? era apenas um convescote para falar mal da globalização e dos EUA. Assim, a verdadeira posição de Lula seria aquela da conversa com Brown. É o que saberemos hoje, com o desempenho do presidente brasileiro na reunião do G-20. .
Mas não custa, desde já, deixar este ponto explicado: quem mais se beneficiou do recente surto de crescimento global foi o mundo emergente. Enquanto o produto global cresceu na média de 4,5% ao ano, os países emergentes tiveram expansão de 8%. É do interesse dos emergentes restabelecer o crédito e o comércio que permitiram esse extraordinário crescimento da renda e do emprego.
Gasto público
O governo brasileiro diz que está gastando mais para reanimar a economia. Não é bem assim. O governo já vinha gastando muito e aumentando suas despesas bem antes da crise.
E, na verdade, gastando pouco em investimentos. No primeiro bismestre deste ano, o governo federal gastou R$ 2,7 bilhões em capital, para uma despesa total de R$ 86,7 bilhões.
Publicado em O Globo, 02 de abril de 2009