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Os crimes do presidente: quem vai punir?

Os crimes do presidente: quem vai punir?

 

Carlos Alberto Sardenberg

 

 

Como lidar ou, se quiserem, como reagir ao presidente Bolsonaro? É mais fácil dizer o que não se deve fazer: bater boca com ele.  Essa é a casa dele.

Alguns sugerem não fazer nada:  deixem ele falar sozinho com a turma do cercadinho.

Não é boa ideia. Afinal, o cara é presidente eleito com 57,7 milhões de votos. Não se pode dizer que sejam todos fiéis. Muita gente, a maioria, acredito,  votou nele considerando a opção melhor ou menos ruim, de modo que depositaram um mínimo de confiança em sua capacidade.

Neste pessoal, é possível que cole a questão do voto impresso, por exemplo. Qual o problema, dirão, de tirar um print do voto?

Por isso, fez muito bem o Superior Tribunal Eleitoral ao responder, on line, em tempo real, às mentiras que Bolsonaro foi espalhando na live da última quinta-feira. O TSE ocupou espaço nas redes sociais – território bolsonarista – e deu argumentos técnicos, detalhados, contra as fake news. Mostrou por exemplo que uma urna cheia de papeizinhos impressos é mais vulnerável a roubos de toda espécie do que a urna eletrônica.

Portanto, tem os aqui uma linha de resposta. Não cair na armadilha do bate boca, mas responder com serenidade, mostrando fatos, sem exclamações.

Isso vale especialmente para a imprensa independente. E é o que temos procurado fazer aqui no Grupo Globo. Os leitores não imaginam o tempo e os recursos que utilizamos para checar e rechecar as falas do presidente e sua turma.

Lógico, há uma parte dos eleitores de Bolsonaro – os fiéis dos cercadinhos –  que sequer se inteiram do que se publica na imprensa independente. Vivem, como seu chefe, no mundo das fake news da internet.

Serão quantos? 25% do eleitorado?

Varia, é claro, conforme as circunstâncias. Por exemplo: economistas, cientistas políticos, políticos profissionais, de variadas tendências, acham que Bolsonaro pode ter um bom momento no ano que vem, se a vacinação estiver bem avançada e a economia em recuperação.

Ou seja, a reação – serena, técnica – ao comportamento do presidente deve ser permanente e diária.

Mas e a outra parte da história? Os danos que a gestão Bolsonaro causa ao país, às instituições e ao serviço público?

Isso vai desde as ofensas e ataques ao sistema democrático (as ameaças de golpe) até o desleixo e a corrupção na compra de vacinas. Pode-se incluir aqui as coisas aparentemente menores, como o incêndio na Cinemateca ou a paralisação da Plataforma Lattes, no CNPq. Nestes dois casos, é evidente a péssima administração dos órgãos federais. A Cinemateca, por exemplo, está sem gestor há meses. No dia do incêndio, o governo lançou edital para contratar. É uma confissão, não é mesmo?

Então temos: ameaças à estabilidade institucional; ataques à liberdade de imprensa; vidas perdidas por falta de vacinas e de políticas sanitárias nacionais; e desastres administrativos, com danos à população e ao interesse público.

Resumo da ópera: responder é bom e importante, mas não basta. Certamente, há crimes nesse desempenho presidencial. O que nos leva ao grande problema atual.

Ministério Público, Polícia Federal, Ministério da Justiça – instituições que poderiam  investigar e representar contra o presidente estão devidamente aparelhados. O Congresso está controlado pelo Centrão , que pouco se lixa para as questões da democracia e das instituições. Seus chefes só que não querem um  golpe militar, porque isso, ao menos temporariamente, tiraria poder dos políticos.

Um Bolsonaro que entrega cargos e dinheiro está mais que bom.

Sobram a imprensa independente, governadores, prefeitos e parlamentares de oposição e o Supremo Tribunal Federal.

Sim, sobra Lula também, mas ele quer que Bolsonaro fique assim mesmo até as eleições, para polarizar fácil. Deveria pensar mais no país do que nele, mas isso não vai acontecer.

Tem também a CPI da Covid, mas que demora e não pode chegar diretamente a Bolsonaro.

Então, quem vai apanhar e punir os crimes do presidente?