Falha de governo
Carlos Alberto Sardenberg
O Ministério da Saúde comprou 23,5 milhões de testes para Covid-19. Recebeu 15,9 milhões e distribuiu aos laboratórios estaduais 8,8 milhões, tudo em números arredondados.
Logo, tem uma sobra, de posse do Ministério da Saúde, de 14,7 milhões,(os 23,5 milhões comprados menos os 8,8 milhões enviados patra os estados). Dessa sobra, mais ou menos a metade está estocada no aeroporto de Guarulhos. A outra metade, comprada da Fiocruz/Biomanguinhos, não foi entregue pela simples e boa razão de que há testes prontos e não utilizados.
Dos estocados, 6,7 milhões, quase todos, têm prazo de validade vencendo em dezembro agora e janeiro de 2021.
Finalmente, foram efetivamente realizados 7,3 milhões de testes até 22 de novembro. Ou seja, há mais testes estocados do que utilizados.
Isso tudo no setor público.
Já no setor privado, laboratórios e hospitais do Rio e São Paulo registram um aumento de 30% a 50% na demanda por testes. Mais efetivo, o PCR, sai por uns R$ 500 reais, caro, mas acessível com facilidade a quem pode pagar. Não falta. É só ligar e agendar. Paga na hora. Aceita cartão de débito e crédito.
Eis o ponto: quem não tem o dinheiro, fica na fila na da vacina do governo ou simplesmente desiste.
Simples assim: o governo, com sua falha, gera mais desigualdade e mais injustiça.
O Ministério da Saúde solicitou estudos da Organização Panamericana de Saúde para pleitear a prorrogação dos prazos de vencimentos dos testes estocados. E vai pedir essa ampliação à Anvisa.
Diz ainda o Ministério da Saúde que a culpa é dos governos estaduais e prefeituras, que não solicitam os testes.
Mas embora haja mais de 7 milhões de testes em estoque, o diretor de logística do ministério, Roberto Ferreira Dias, afirmou que a pasta possui apenas cerca de 600 mil kits para fazer a análise dos resultados.
Ou seja, tem 7 milhões de kits para recolher o material e apenas 600 mil para análise. Então, o disponível, na verdade, é de apenas 600 mil testes completos.
Tem outra falha de governo em andamento. As vacinas estão quase aí. Várias concluindo a última fase de testes e já preparando pedidos de registro de emergência. Governos no mundo inteiro já estão comprando vacinas – na verdade, comprando o direito, a prioridade de adquirir as vacinas e preparando os complexos planos de vacinação.
O governo brasileiro? Está pensando no caso.
É evidente, também aqui, que laboratórios e hospitais privados vão adquirir as vacinas. De novo, quem puder pagar, sai na frente. Ou seja, o governo deixa os mais pobres para trás.
Correção
Na coluna da semana passada, escrevemos:
“A Lava Jato também perdeu. Não se viu nenhum grande portador de votos defendendo fortemente a força-tarefa. Isso foi ruim. Deu mais espaço para o pessoal que está tentando abafar a operação, grupo que inclui ministros do Judiciário, parlamentares do Centrão e da esquerda (para livrar Lula) e a turma de Bolsonaro (procurador Aras à frente).
Se essa turma dominar a cena política, o retrocesso é certo.
Qual a alternativa? Primeiro, uma nova esquerda, sem corruptos. Não custa lembrar que o PSOL foi formado por parlamentares chocados quando ficou clara a corrupção na campanha de Lula.
Se, além de limpa, for uma esquerda mais inteligente e realista em política econômica, melhor – mas aí talvez seja pedir demais.”
Tem um erro grave aí, pelo qual peço desculpas. O PSOL não deixou o PT quando o marqueteiro Duda Mendonça confessou, em CPI, que recebera pagamento pela campanha de Lula em dólares, no exterior.
Ficou marcada uma cena: o choro do deputado Chico Alencar.
Tendo isso na memória, confundi a história. O pessoal que formou o PSOL só saiu do PT tempos depois, quando o então presidente Lula aprovou uma pequena reforma da previdência do setor público.
Mas é só ir ao site do PSOL para verificar que o partido se junta ao PT e ao Centrão no ataque feroz à Lava Jato.
Tem mais: na plataforma econômica de Boulos surgiu a proposta de contratar mais funcionários públicos, numa prefeitura que tem um gasto enorme com pessoal e previdência.