. Estados Unidos ? Sinais de desaceleração Em circunstâncias normais, o aumento do desemprego é uma má notícia em qualquer país do mundo.
Pois o desemprego aumentou nos Estados Unidos, em maio, conforme dados divulgados nesta sexta, 02, e essa foi uma excelente notícia para o mundo todo, exceto, é claro, para os infelizes que perderam seus empregos.
A informação saiu às 9 e 30 (horário brasileiro) e dois minutos depois as bolsas disparavam no mundo todo. O clima era de euforia. Aqui, a Bovespa já abriu em alta forte, enquanto os juros caíam e os títulos brasileiros no exterior registravam forte valorização.
Não se trata de masoquismo. A notícia é realmente boa, pois confirma que a economia americana está em processo de suave desaceleração. Ou seja, está crescendo menos, mas ainda em ritmo de prosperidade. Melhor ainda: fica cada vez mais distante a possibilidade de um crash que, seria, esta sim, uma desastrosa notícia para o mundo todo.
Veja os dados da tabela:
Estados Unidos ? Sinais de desaceleração
Maio?esperado Maio-realizado Abril Março Desemprego 3,9% 4,1% 3,9% 4,1% Empregos criados 375 mil 231 mil 340 mil 458 mil Aumento salário/hora 0,4% 0,1% 0,4% 0,3% O índice de desemprego subiu coisa de nada e o nível em que se encontra, os 4,1%, ainda é muito baixo. Como há sempre uma quantidade de pessoas trocando de emprego, o número de desempregados de fato está bem abaixo desses 4,1% da força de trabalho. E ainda há três anos se considerava que o nível ótimo de desemprego para a economia americana era de 6%. Ou seja, o desemprego aumentou, mas continua um número muito bom e indicando economia próspera. (Veja na seção Entenda a Economia, matéria Desemprego nos EUA).
Note-se ainda que os demais indicadores conhecidos nesta sexta apontam na mesma direção, economia mais devagar, mas próspera.
As empresas americanas estão criando menos empregos. A desaceleração é forte de março para cá ? e sobretudo é mais forte do que esperavam os analistas. Eles apostavam que a economia tivesse criado 375 mil vagas em maio.
Ainda assim o número realizado, 231 mil, é de expansão. Significa 2,7 milhão de novos empregos por ano ? o que está muito bom em circunstâncias normais.
Finalmente, o ganho salarial real também desacelerou. O sentido é o mesmo: os trabalhadores continuam tendo aumentos, mas menores do que na fase de superaquecimento.
Alta de juros funciona
A conclusão a que os mercados chegaram: a política de alta de juros do Federal Reserve, Fed, o banco central dos Estados Unidos, finalmente está fazendo o efeito desejado. O transatlântico americano, que se aproximava a uma velocidade maluca do porto, foi desacelerado e parece que vai chegar suavemente às docas.
E se é assim, o Fed pode interromper ou ao menos reduzir a dose da terapia de alta de juros. E se for assim, desaparece do cenário a fonte de instabilidade que vem derrubando mercados pelo mundo afora desde março último.
O Fed vem elevando os juros desde meados do ano passado. Saiu de 4,75% ao ano e foi puxando 0,25 ponto a cada reunião. Na última, de maio, deu uma talagada de 0,5 ponto, chegando a 6,5%, e como que confirmando as piores suspeitas que o mercado alimentava desde março: a alta gradual não estaria funcionando e o Fed logo seria obrigado a jogar juros na lua, levando os Estados Unidos e o mundo a uma recessão.
Nas duas últimas semanas, entretanto, sucederam-se indicadores de desaceleração. Primeiro, informou-se que o gasto dos consumidores ? que representam dois terços da atividade econômica ? crescera 4% no primeiro trimestre, contra alta de 8% no período anterior.
Depois vieram: redução de novas encomendas do comércio à indústria; queda no ritmo de expansão da produção industrial; queda nos gastos com construção e, sobretudo, nas compras de imóveis residenciais novos e usados.
Tudo indicando que o consumidor americano continuava indo ao shopping, mas para comprar uma calça em vez de duas.
Como queria Alan Greenspan, o presidente do Fed.
Estabilidade
Juros altos nos Estados Unidos afetam o mercado financeiro internacional. Especialmente quando não se sabe quão altos serão esses juros.
Se essa fonte de instabilidade desaparece, sobram apenas bons sinais, os sinais de crescimento equilibrado nos Estados Unidos, Europa e Ásia (menos Japão). E, olha nós aí, o Brasil vai junto e carrega a América Latina no embalo.
Eis por que os mercados dispararam em enorme euforia na sexta, dia 2 de junho, grande dia.
Tudo resolvido?
Calma. A economia sempre pode reservar surpresas.
Foram apenas alguns indicadores de desaceleração ? fortes, consistentes, mas ainda insuficientes para matar a charada.
Mas que o ambiente melhorou, isso melhorou.
Brasil
Eis os efeitos ruins que a instabilidade financeira internacional provocou no Brasil:
A taxa de juros de um ano, que em março caíra para 18% ao ano, refletindo o otimismo com a recuperação econômica em ambiente de baixa inflação, subiu para 20,2% em abril e 21,4% em maio.
O principal título da dívida externa brasileira, o C-Bond, o mais negociado no mercado internacional, teve seu preço-base reduzido de 75 centavos de dólar (cotação de março) para 71,4 centavos em maio.
O spread (juros pagos pelo C-Bond acima dos juros dos títulos americanos) elevou-se de 6,6 pontos percentuais para 7,8.
Na sexta-feira às 11 horas da manhã, o C-Bond já estava cotado a 73,5 centavos.
Os juros despencavam.
Lembre-se: o Banco Central brasileiro havia interrompido a queda dos juros básicos (hoje em 18,5%) por causa especialmente desses efeitos negativos do mercado internacional.
Se a virada americana se confirmar, o BC poderá voltar a reduzir os juros básicos, reimpulsionando assim a retomada interna, que tem boa base.
Em resumo: vamos cruzar os dedos e torcer para que Greenspan tenha acertado mais uma vez. Se ele acertou, as coisas melhoram muito por aqui.
E se é assim, o negócio é, de novo, comprar ações.