Mostre os dados econômicos a um estrangeiro não versado em assuntos brasileiros e ele dirá algo assim: o crescimento está abaixo do necessário, mas sem dúvida há boas chances de aceleração.
E estará mais certo do que errado.
Mas se o gringo perguntar – e a política? e a capacidade de gestão do governo? – ficará em dúvida.
E, de novo, estará mais certo que errado.
E o que podemos dizer, nós brasileiros para nós mesmos? Que, de fato, há um risco político.
O cenário econômico melhorou muito com a aprovação da reforma da previdência. Não apenas porque a reforma afastou o risco de colapso das contas públicas, mas porque mostrou a capacidade do sistema político de aprovar medidas complexas em tempo relativamente curto.
Podem questionar: curto? São 30 anos de debate dessa reforma.
Verdade, mas a coisa andou em poucos meses com este novo governo e novo Congresso. Aqui a mudança crucial.
Reparem: o presidente Bolsonaro anda às turras com seu próprio partido e com liderenças da base que se elegeu com ele. A reforma da previdência e todas as que são necessárias na sequencia dependem de votos qualificados na Câmara e no Senado. Ou seja, as coisas só andaram e só vão andar se lideranças do Congresso assumirem as reformas.
A nova agenda pré-anunciada pelo ministro Guedes é extremamente ambiciosa. Propõe uma reforma radical no sistema público brasileiro, em todos os níveis. Exige a aprovação de emendas constitucionais, além de ampla legislação ordinária.
Tudo isso com o presidente Bolsonaro querendo ou mudar de partido ou formar um novo. E sem ter organizado uma base parlamentar.
Certo, mas não foi em circunstâncias assim que passou a reforma da previdência? Por que o processo não pode se repetir?
A resposta nos meios econômicos, nacionais e internacionais, é que pode, sim, se repetir.
O risco Brasil (medido pelo Credit Default Swap, seguro contra calotes) estava no início da semana em 117 pontos. Isso significa que os compradores que adquirem títulos do governo brasileiro acham que a chance de um calote é inferior a 2%.
De onde tiram isso? Da firmeza da equipe econômica em implementar o ajuste das contas públicas. E mais: inflação muito baixa, e com jeito de persistentemente baixa. O que permite esperar taxas de juros cada vez mais baixas, por um longo período.
A notar: com juros baixos, cai a despesa financeira do governo. E se estimula a expansão do crédito para pessoas e empresas.
Por isso, também, a Bolsa está em alta. Empresas têm colocado cada vez ações no mercado, obtendo assim financiamento saudável para novos investimentos.
E aqui aparece uma dúvida. Por que ainda não decolaram os investimentos na economia real? Em novas fábricas, infraestrutura, construção civil?
Eis a diferença: no mercado financeiro, posições podem ser formadas e desmanchadas muito rapidamente. Na economia real, iniciar um novo negócio, ampliar o atual, depende de confiança em futuro razoavelmente longo. É isso que ainda não tomou embalo.
Há, porém, um poderoso instrumento: as privatizações e concessões, a começar pelo mega-leilão do pré-sal. Sabem como é, negócio puxa negócio, um poço de petróleo demanda um monte de equipamentos e gente.
Tudo considerado, está aí a variável chave, se admitido que a reforma do setor público tomará seu curso, ainda que não tão ambiciosa como pretende o ministro Guedes.
Investimentos de peso, necessariamente privados, já que o governo está cortando gastos, dependem de um maior grau de confiança.
Aqui entra a política.
Essas crises e confusões criadas e/ou estimuladas pelo presidente Bolsonaro têm sido relativamente ignoradas. O pessoal acha que até aqui não tem nada que ameace o mandato. E acredita que reformas virão mais por necessidade do que por virtude. Por exemplo: todo mundo já percebeu que o sistema tributário é ruim para todo mundo. Logo, algo deve sair e, como é impossível piorar, deve ajudar as empresas.
É mais ou menos assim o espírito geral. Serve para acelerar a recuperação. Mas não aceita muitos desaforos seguidos.
A ver.