A ÚLTIMA DO MILÊNIO

. A VIRADA DO SÉCULO Na virada do século 19 para o 20, também houve uma grande discussão sobre qual seria a passagem correta, de 1899 para 1900 ou de 1900 para 1901. As opiniões se dividiram no mundo todo e por aqui também. Como contam Lilia Moritz Schwarcz e Angela Marques da Costa em seu ótimo livro "Virando Séculos, 1890-1914, No Tempo das Certezas" (Companhia das Letras), o Rio de Janeiro decretou que a passagem se daria em 1900 e comemorou então em grande estilo o reveillon do século. Já São Paulo, mais científica, concluiu que a passagem do século somente ocorreria em 1901 e fez um reveillon normal, guardando a festa maior para o ano seguinte. Ao longo de 1900, o Rio de Janeiro docemente deixou-se convencer de que afinal a virada correta só podia ser mesmo em 1901. O senhor e a senhora sabem a razão. Não pode haver ano zero. Assim, a década começa em ano 1 e termina em ano 10 – ou seja, o século 19 terminou mesmo em 31 de dezembro de 1900, assim como o século 20 termina agora. Sem problemas, concluíram os cariocas. E fizeram outro reveillon do século em 1 de janeiro de 1901. Assim, se você comemorou o milênio em 1o. de janeiro de 2000, aproveite e comemore de novo! De nossa parte, já dissemos no ano passado, dizemos de novo BOM ANO, SÉCULO E MILÊNIO A TODOS E imediatamente entramos em férias. O site voltará a ser atualizado no próximo milênio, em 15 de janeiro de 2001 A nota abaixo é um balanço resumido do ano Brasil para estrangeiros Quando se procura informação econômica sobre um país, digamos, pouco conhecido, o que se observa? Se o país está crescendo, como vai a atividade industrial, motor de uma expansão sólida, e como anda a inflação. Convém ainda checar a taxa interna de juros.Depois, é preciso dar uma olhada nas contas públicas e, finalmente, verificar as contas externas (taxa de câmbio, comércio externo, nível das reservas em moeda forte). Assim, como seria a primeira impressão sobre o Brasil de um estrangeiro que estivesse totalmente por fora? O país está em crescimento desde o final de 1999 e acelerou ao longo deste ano. Com os dados até o terceiro trimestre, o Produto Interno Bruto está crescendo acima de 4% ao ano, o que é bastante positivo, considerando que a população nacional aumenta apenas 1,6% ao ano. E a indústria cresce em ritmo mais forte – 7,2% ao ano. A inflação termina o ano cravando 6% – meta do governo e um número razoável para países emergentes. Mais importante, trata-se de uma queda de três pontos em relação à inflação de 1999, de 9%. Na coluna de juros, encontra-se um número alto, 15,75% para a taxa básica. Descontado-se a inflação atual, os juros reais são de 9,2%, ainda elevados. Portanto, esse dado demanda uma investigação mais detalhada, começando pelo histórico. E aí já é positivo: os juros estão em queda há dois anos. Ainda assim, é preciso olhar as contas públicas, pois quando estas estão descontroladas, os juros são altos. Mas não estão descontroladas: o governo, em todos os níveis, conseguiu até novembro um superávit primário em torno de 4% do PIB, e isso significa que está fazendo economia para pagar a conta de juros. Então, se a inflação está em queda e as contas públicas equilibradas, por que os juros são tão altos? Assim, desvia-se a análise para as contas externas – e aí temos parte da explicação. O comércio externo é deficitário e as contas gerais mostram um déficit em torno de US$ 24 bilhões, perto dos 4% do PIB, que é alto. A taxa de câmbio, entretanto, não está valorizada. E as exportações de manufaturados cresceram 20% neste ano. Assim, qual o problema com as contas externas? Esse país, diria um observador que aqui chegasse pela primeira vez, deve ter problemas com custos de produção, de produtividade e deve estar saindo de uma crise. Aí, esse observador fica sabendo da desvalorização selvagem de 1999 – e conclui que, pelo conjunto dos indicadores, esse país recupera-se muito bem. Eis aí. Enfiados no meio das árvores, e gente perde a noção do conjunto da floresta. Colocando-se como estrangeiro distante, porém, verifica-se que a situação é muito interessante: crescimento em aceleração, inflação em queda, contas públicas equilibradas, juros em queda. Problema nas contas externas e nos custos de produção – mas é mais fácil encaminhar as soluções quando há crescimento. (Veiculada inicialmente no site da Patagon).

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